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Com Carnaval adiado no Brasil, blocos e bailes brasileiros invadem ruas… de Portugal; veja roteiro

26/02/2022
Com Carnaval adiado no Brasil, blocos e bailes brasileiros invadem ruas… de Portugal; veja roteiro
Portugal virou o país do Carnaval… brasileiro. Enquanto a maioria das cidades do Brasil adiou ou cancelou sua festa mais popular por mais um ano, brasileiros vão botar o bloco na rua… de Lisboa. Em outras cidades portuguesas também vai ter festa à brasileira.
Quem abre o sábado de Carnaval é a Colombina Clandestina, com um cortejo com concentração no Panteão Nacional, às 13h00, seguido de baile (veja o roteiro completo no fim da matéria). Em um país em que a xenofobia tem sido cada vez mais presente no cotidiano, a figura emblemática do Carnaval mostra que o grito pela liberdade, entalado na garganta em meio à pandemia de COVID-19, não tem fronteiras e encontra eco na diversidade das ruas.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Andréa Freire, idealizadora da Colombina Clandestina, resume a sensação libertadora de voltar a ocupar as ruas com os sons que atravessam o oceano – mas não o samba -, após dois anos de pandemia, com um Carnaval virtual no meio, no ano passado. Na esperança de que os bailes de máscara sejam uma metáfora para além da N95, ela poetiza uma cura que une através da vibração da percussão, depois de tanto tempo de distanciamento (anti)social.
“Sinto que uma vez na vida, pelo menos, é preciso viver a sensação de pele com pele, o calor de corpos que caminham, brincam, dançam juntas e juntos na rua. Viver a rua em festa, em música, em dança, em coletivo é político, é revolucionário para o corpo, para a cidade, para as memórias que ficam durante o ano. Passar [quase] 2 anos sem poder atravessar essa experiência e poder sentir que ela está, finalmente, a chegar é poder antecipar o tremor que se sente no chão quando os surdos tocam juntos. Começar antes de começar, a sentir o coração a palpitar quando os tamborins ‘falam’ com agilidade, quando mergulhamos na experiência única que é viver a rua em festa, lado a lado com a diversidade das cidades, das pessoas e dos desejos de corpos livres”, ensina Andréa.
No domingo de Carnaval (27), o destaque é o Bué Tolo, com concentração a partir do meio-dia, no Cais do Sodré, às margens do rio Tejo. Mas sua origem também atravessa o Atlântico e se encontra (ou se perde) no Cordão do Boi Tolo, um bloco carioca inimigo do fim, com destino incerto, que já passou por armazéns, atravessou túneis e invadiu até o Aeroporto Santos Dumont.
Sob comando do jornalista, percussionista e folião Leonardo Mesquita, a versão portuguesa, que é bastante (bué) tola, mas não o suficiente para não cumprir as regras da Câmara de Lisboa, levará muito axé, samba, funk, rock, baião, marchinhas e “um pouco de tudo para o Boteco da Dri, point já tradicional de música brasileira na capital de Portugal.

“Estamos muito ansiosos com essa retomada do Carnaval. Depois desses anos todos, os números [de casos de COVID-19] estão diminuindo, e as coisas já estão melhorando por aqui. Estamos preparados para fazer um Carnaval muito animado, mas com responsabilidade para o público”, promete Mesquita.

Leonardo Mesquita (à esquerda), um dos fundadores do Bué Tolo, com o estandarte do bloco - Sputnik Brasil, 1920, 26.02.2022

Leonardo Mesquita (à esquerda), um dos fundadores do Bué Tolo, com o estandarte do bloco © Foto / Divulgação

Ele espera que o Bué Tolo reúna entre mil e três mil pessoas. Morando em Lisboa desde 2014, ele ajudou a fundar o bloco no fim de 2017, com o primeiro cortejo no ano seguinte.
“Já me acostumei a dizer que vim com a má intenção de trazer os instrumentos de percussão para poder montar um grupo aqui e criar uma cena de batucada carioca”, brinca.

Conexão Lisboa-Sapucaí: bailarina dá aulas virtuais para porta-bandeira

Depois de dar aulas de percussão em Lisboa, Mesquita teve de aprender a lição de passar dois anos sem Carnaval. De longe, ele ainda encara com uma certa estranheza o fato de haver Carnaval em Lisboa, mas no Rio de Janeiro ter sido adiado.
“Sempre curti muito o Carnaval do Rio, falo com meus amigos no Rio, eles todos estão meio frustrados que aqui vai acontecer e lá não. Até brinquei e falei: ‘Vem para cá, que aqui vai ter Carnaval [de rua], enquanto vocês só vão ter as festas fechadas. Acho que isso vai reverberar muito do Brasil. Espero que, com o tempo, cada vez mais brasileiros venham para cá curtir o Carnaval de Lisboa, que já é um sucesso”, convida.
Quem faz sucesso também é a professora de balé clássico Camile Salles, uma das coreógrafas pioneiras de casais de porta-bandeira e mestre-sala das escolas de samba cariocas. Há mais de 15 anos ela começou a preparar e treinar as coreografias de Lucinha Nobre, atual primeira porta-bandeira da Portela, ao lado do mestre-sala Marlon Lamar.
Camile Salles durante aula virtual para a porta-bandeira Lucinha Nobre e o mestre-sala Marlon Lamar - Sputnik Brasil, 1920, 26.02.2022

Camile Salles durante aula virtual para a porta-bandeira Lucinha Nobre e o mestre-sala Marlon Lamar © Foto / Divulgação/Camile Salles

Depois de dar uma parada quando seu primeiro filho nasceu às vésperas de um Carnaval, em fevereiro, e migrar para Portugal em 2019, Camile começou uma experiência inédita de aulas virtuais de coreografia, a convite de Lucinha, para prepará-la para o Carnaval carioca, que foi adiado para abril.

“A Lucinha teve essa ideia de fazer esse trabalho on-line. Achei arriscado, afinal são 50 pontos de uma escola de samba, muita responsabilidade. Mas ela falou que dá para fazer e pode funcionar. Não dá para ser o trabalho completamente on-line, mas vou passar o último mês lá [no Rio] com eles, exatamente para fazer esses ensaios de avenida”, explica Camile à Sputnik Brasil.

Enquanto o Carnaval carioca não chega, Camile vai desfilar seu talento na Colombina Clandestina e no Baque do Tejo (no Carnaval dos Maracatus, domingo, às 14h, na Fábrica Braço de Prata), em Lisboa, e ainda encontra fôlego para o Sardinha Imperial, na terça-feira (1º), às 13h, no Mercado da Vila Cascais.
Mas o Carnaval luso-brasileiro não se resume a Lisboa e a Cascais. Em outras cidades, como Chaves e Espinho, a rede de hotéis Casino promove o Carnaval Show Brasil em jantares-espetáculos com a cantora baiana Edna Pimenta, acompanhada de seis bailarinos, ao som de samba, forró, axé e outros ritmos brasileiros.
A cantora baiana Edna Pimenta, atração do Carnaval Show Brasil, nos hotéis Casino em Chaves e Espinho - Sputnik Brasil, 1920, 26.02.2022

A cantora baiana Edna Pimenta, atração do Carnaval Show Brasil, nos hotéis Casino em Chaves e Espinho © Foto / Divulgação

Confira o roteiro do carnaval luso-brasileiro (horários de Portugal):
SÁBADO (26)
Cortejo da Colombina Clandestina
Local: concentração no Panteão Nacional (Lisboa)
Horário: 13h às 19h
Baile da Colombina:
Local: Voz do Operário (Lisboa)
Horário: 18h à meia-noite
Baile de carnaval do Lisbloco
Local: Fábrica Braço de Prata (Lisboa)
Horário: 21h às 3h
Carnaval Show Brasil: jantar espetáculo (50€ por pessoa)
Local: Hotel Casino Espinho
Informações e Reservas: +351 227 335 500 ou [email protected]
DOMINGO (27)
Cortejo do Bué Tolo
Local: saindo do Cais do Sodré até o Boteco da Dri (Lisboa)
Horário: 12h
Carnaval dos Maracatus (Baque de Mulher e Baque do Tejo)
Local: Fábrica Braço de Prata (Lisboa)
Horário: 14h às 22h

SEGUNDA-FEIRA (28)
Baile de Carnaval do Viva o Samba
Local: Village Underground (Lisboa)
Horário: 21h às 4h
Carnaval Show Brasil: jantar espetáculo (40€ por pessoa)
Local: Hotel Casino Chaves
Informações e Reservas: +351 276 309 600 ou [email protected]

TERÇA-FEIRA (1º)
Desfile do Lisbloco
Local: Cais do Sodré (Lisboa)
Horário: 14h (a confirmar)
Carnaval do Sardinha Imperial
Local: Mercado da Vila Cascais
Horário: 13h
Desfile do Batucaboa com Banda Berimbau
Local: Centro Comercia Ubbo (Lisboa)
Horário: 14h