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Alunos do Instituto de Ciências Sociais da Ufal ampliam discussão sobre pobreza menstrual com criação de blog

28/02/2022
Alunos do Instituto de Ciências Sociais da Ufal ampliam discussão sobre pobreza menstrual com criação de blog

Desde o veto do presidente Jair Bolsonaro em outubro de 2021, ao projeto de lei que previa a distribuição gratuita de absorventes para mulheres em situação de vulnerabilidade social, um debate intenso começou a se espalhar acerca da pobreza menstrual. Sendo assim, alunos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas (ICS/Ufal), através da disciplina Práticas de Extensão em Ciências Sociais 1 criaram um blog que reúne diferentes fontes de dados relacionados à temática da pobreza menstrual e políticas públicas.

A disciplina é do pertence ao curso de Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais, e tem como objetivo a realização e divulgação de atividades de extensão vinculadas ao Programa de Extensão do ICS. A ideia da disciplina é produzir conhecimento através de ações participativas como pesquisa-ação, buscando acumular informações conversando com diferentes pessoas que pertencem a organizações governamentais e não-governamentais as ongs.

A professora responsável pela disciplina, Silvia Martins explica outros objetivos específicos como a criação do blog que pode ser acessado aqui (https://pobrezamenstrualepoliticaspublicas.wordpress.com/)  “a ideia é instrumentalizar estudantes para desenvolverem ações planejadas de extensão voltadas para atividades de elaboração de eventos, dando visibilidade aos conteúdos produzidos pelas organizações dentro de suportes técnicos e estéticos audiovisuais, utilizando o cyberspace”. Daí, uma das equipes escolheu esse tema para criar esse recurso no cyberspace através de um blog, agregando diferentes fontes de dados para dar maior visibilidade a esse tema POBREZA MENSTRUAL e POLÍTICAS PÚBLICAS”, explica a docente.

Ainda segundo a professora, os alunos tinham a intenção de no evento de lançamento do blog, convidar especialistas no assunto, o que infelizmente não pode acontecer, ficando apenas com o lançamento oficial através do canal do ICS no Youtube e que pode ser conferido aqui (https://youtu.be/1McUMBjQMxw).

A professora Luciléia Colombo, Coordenadora de extensão do Instituto de Ciências Sociais conta que a ideia coordenação de extensão do ICS é buscar estabelecer um diálogo com a comunidade local, através da oferta de cursos, projetos, programa de extensão que também interligam pesquisa e extensão com a comunidade alagoana.

“Como coordenadora eu busco sempre fomentar isso dentro do instituto, tendo eu mesma ofertado vários cursos, na área de politicas públicas, para as pessoas de fora da universidade consigam fazer comparações e possam ver no desenvolvimento da pesquisa uma melhoria na sua qualidade de vida. Em relação a esse blog especificamente, é fruto de uma Ação Curricular de Extensão (ACE) que um dos objetivos era que os alunos desenvolvessem projetos que fossem importantes para eles do ponto de vista social e esse blog tem como um dos objetivos informar as pessoas sobre esse tema da pobreza menstrual e como podemos transformar em reinvindicações de politicas publicas, fazendo essa questão chegar nos governos e eles promovam ações para resolver essas questões”, destava a coordenadora.

Graças a divulgação dos alunos, o blog está conseguindo chegar em vários lugares e disseminando informações pertinentes sobre o assunto. Fazendo assim que, tanto essa como as próximas ACEs, tenham essa mesma preocupação, que é desenvolver projetos sociais e ter ainda mais contato com a comunidade local para trazer cada vez mais essas pessoas para dentro da universidade.

“O Blog Pobreza Menstrual e Políticas Públicas, traz uma contribuição importantíssima para o debate sobre os aspectos que estão relacionados ao fenômeno da pobreza menstrual e o impacto que essa realidade tem não somente sobre as mulheres que se encontram nessa situação, mas também explicita que esse é um problema de toda a sociedade e por isso deve ser tratado como uma questão de saúde pública e acima de tudo, deve ser pensada enquanto Direto Humano”, ressalta o professor Cézar Nonato do Centro de Educação, CEDU, e Pró-Reitor de Extensão da Ufal.

Outras produções e resultados

Dentro da temática que a equipe escolheu, POBREZA MENSTRUAL E POLÍTICAS PÚBLICAS foi realizado o evento de lançamento do blog, onde já se encontra a gravação do evento realizado no Canal Youtube do ICS . Mas, alguns estudantes da equipe vêm pesquisando e se aprofundando sobre o tema, inclusive levantando dados em outras disciplinas (quando realizam e apresentam trabalhos), daí com certeza desenvolverão seus TCCs sobre essa temática e assim continuarão a produzir materiais acadêmicos dentro desse campo.

Como resultados da disciplina, houve a realização de eventos para dar visibilidade para ações e temáticas abordadas pelos alunos “É isso que acontece quando o blog é acessado no cyberspace, há uma divulgação de materiais dentro da temática pesquisada. Por isso, é importante a continuidade no acompanhamento e alimentação do blog, pois os estudantes irão mantê-lo ativo, inclusive registrando essa visibilidade dele (é possível acompanhar quantitativamente os acessos ao blog, os locais dos acessos, etc.)”, conta a professora Silvia Martins.

Discussão sobre a pobreza menstrual

A pobreza menstrual, é uma temática muito sensível, inclusive porque a menstruação é um assunto que para muitos ainda é tabu de diversas formas. No campo da Antropologia da Menstruação que vem sendo desenvolvido a partir da forma como o evento da menstruação (que se relaciona com condição biológica do corpo fêmeo) é vivenciado em diferentes culturas.

Segundo a professora Silvia, durante sua trajetória profissional, teve contato com índios Cree-Objwe no Canadá, participando de rituais de sweat-lodge, quando foi informada que não poderia sequer pisar em território de realização de rituais indígenas se estivesse menstruada, pois têm uma percepção desse evento ser algo relacionado à impureza. Já entre os Kariri-Xocó, índios em Alagoas, aprendeu que é possível, através da ingestão de um chá, “fazer o sangue subir” (interromper a menstruação) e assim ser possível a mulher participar de eventos rituais xamanísticos. Entre os Kariri-Xocó há uma concepção que durante a menstruação a mulher se encontra com “corpo aberto” e assim, mais vulnerável. É por isso que as mulheres xamãs (“rezadeiras”) não podem praticar rituais de cura quando estão menstruadas.

“Veja como esses exemplos etnográficos apontam para diferentes atitudes com relação à menstruação em diferentes contextos culturais indígenas na América. São dados que demonstram esse caráter cultural, mas o que é abordado quando focalizamos pobreza menstrual é o fato de no nosso cenário ocidental extremamente desigual, aquelas que estão situadas em contexto de pobreza sofrem imensamente por não contar com modos seguros sanitários para vivenciar esse evento durante várias décadas na vida que é cíclico e mensal”, explica a professora.

É fundamental que seja divulgado que se trata de temática que é necessário atuação de mecanismos de políticas públicas no campo da educação (pois é fundamental esclarecimento do evento da menstruação como parte da vivência do corpo fêmeo) e também no campo de direitos humanos, quando são as políticas públicas que podem proporcionar suporte necessário, dentro de diretrizes no campo da saúde (acesso a condições dignas de moradia, água, etc.), para redução de riscos e comprometimento da saúde dessas adolescentes e mulheres.

Importância de ações como essas dentro da universidade

A professora Silvia Martins conta que esse é o que faz ser uma universidade, usando a disciplina que deu origem ao blog como exemplo, ela conta que é preciso usar de metodologias como essa para viabilizar e articular ações de ensino-pesquisa-extensão.

“É exatamente isso que realizamos nessa disciplina. Há uma produção de conhecimento articulando diálogos estabelecidos entre estudantes e interlocutores em espaços de saberes relacionados a questões contemporâneas. Esses saberes podem se relacionar com práticas tradicionais, de religiosidades, artísticas, culturais, de grupos étnicos, identitários, urbanos e ambientais, de direitos humanos. Introduzindo estudantes a formas de articulação através do uso de metodologias participativas (pesquisa-ação, pesquisa participativa, pesquisa engajada) visando a construção de conhecimento colaborativo com os interlocutores de movimentos sociais, ONGs, associações etc”, conta a professora Silvia Martins.

“Participar dessa disciplina de extensão e executar a construção de um blog foi, além dos aspectos práticos da elaboração de um produto de acesso público, uma tarefa de resiliência e persistência. Resiliência porque eu e minha equipe — Brena Sirelle, Erick Memória e Flaviano Segundo — tivemos contato com depoimentos muito sensíveis e uma realidade muito penosa de meninas muito novas a mulheres adultas. Por isso, persistir com essa temática nos gerou um sentimento de revolta que nos levou a procurar mais informações e movimentações públicas sobre a questão da pobreza menstrual a fim de dar visibilidade sobre a situação indigna que mulheres passam pela ausência de recursos para aquisição de produtos de higiene íntima e que até hoje não tem a cobertura devida pelo Estado Brasileiro”,  comemora Rita Higino, estudante do 5° período de ciências sociais

Não se encontra o evento do ciclo menstrual sendo abordado e discutido como assunto de saúde pública, pelo menos não de forma massiva e com a importância devida. Daí, é possível o reconhecimento da importância desse tema e participação ativa sobre essa temática.

“O valor do blog se amplifica ainda mais quando observamos que o mesmo é fruto do processo de curricularização da extensão na formação dos estudantes do ICS e enquanto um produto de extensão termina por ser fruto de um processo que agrega: a pesquisa, para aprofundar e qualificar o trato da temática, a escuta das demandas da sociedade, para balizar a relevância da temática e a busca pelo estabelecimento de uma linguagem que visa ao mesmo tempo ser clara, direta e profunda sem cair num discurso academicista que muitas vezes, ao se tornar hermético, torna-se desinteressante para a população. O Blog Pobreza Menstrual e Políticas Públicas é um exemplo concreto da busca que muitos de nós verbalizamos quando falamos da função social da universidade”, destaca o Pró-Reitor.

Para assistire essas produções de eventos cujos realizadores são próprios estudantes do Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais,  trabalhos muito bons essas ações de extensão que são coordenadas pela professora Silvia Martins, através desse link https://www.youtube.com/channel/UCrJIapRPoUIKRzZqramIoYQ

E Para conhecer outras produções, basta acessar https://csopraticasextensao1.blogspot.com/?m=1 através desse link. O blog continua ativo e continuará sendo alimentado pelos membros da equipe que são as estudantes Rita de Cássia Bezerra Higino; Brena S. Lira de Paula, Erick O. Künchenmeister de Memória e  Flaviano M. M. Pacheco de Segundo.