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Estudo liga plano do País para o clima a maior aquecimento

15/10/2021
Estudo liga plano do País para o clima a maior aquecimento

O Brasil está longe do caminho para ajudar na manutenção de um mundo até 1,5º C acima dos níveis pré-industriais até 2030. As atuais políticas ambientais do País, se totalmente implementadas, estarão alinhadas com um aquecimento de 3°C – o dobro do limite previsto pelo Acordo de Paris, assinado em 2015 por 195 países. O alerta foi feito na quinta-feira, 14, em relatório da Transparência Climática (Climate Transparency), que reúne think tanks e ONGs de 16 países.

Nesta sua sétima edição, o estudo analisa todas as economias do G-20 para verificar como estão se saindo nesse desafio. No Brasil, a meta climática do governo, de reduzir as emissões em 43% (abaixo dos níveis de 2005) até 2030 e atingir a neutralidade climática não está em linha com a meta de 1,5°C.

De acordo com os dados mais recentes do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, o desmatamento é responsável por quase metade das emissões brasileiras (44%).

“Essas são emissões ineficientes, que não geram PIB, não se ganha nada’, diz William Wills, coordenador da parte brasileira do estudo e pesquisador do Centro de Estudos Integrados em Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da UFRJ. “Temos de lutar para diminuir (as emissões)”, adverte ele.

O relatório sublinha que o Brasil estabeleceu metas ambiciosas para reduzir desmatamento em seu Plano Nacional do Clima Mudança, em 2008. A ideia era diminuir em 80% até 2020 em relação ao período 1996-2005. “No entanto, o desmatamento foi aumentando gradualmente e disparou durante a pandemia de covid-19”, adverte o texto.

O documento também afirma que “a administração (Jair) Bolsonaro removeu muitas proteções ambientais para as florestas”. O desmatamento acumulado entre agosto de 2020 e julho deste ano na Amazônia, por exemplo, foi o terceiro maior da série histórica, iniciada em 2015, segundo os mais recentes dados do Deter, sistema de alerta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Efeitos negativos

A previsão é de graves efeitos negativos. Com o aumento da temperatura média global de 3ºC, o País ficará exposto a impactos muito elevados, como secas mais intensas, ondas de calor frequentes, presença maior de temperaturas acima de 35°C e redução de chuvas.

Essa combinação trará problemas tanto para a saúde humana quanto para a produtividade do agronegócio, responsável por importante fatia do PIB. Trata-se de um processo já em movimento. O Brasil teve um aumento médio de temperatura de 2,5°C nas regiões costeiras entre 1901 e 2012. Os incêndios, em biomas importantes como Amazônia e Pantanal, também estão em alta.

Na véspera da COP-26, na Escócia, que começa no dia 31, há uma expectativa sobre o que o Brasil vai apresentar.

“O mundo já está olhando o comportamento do presidente e dos ministros brasileiros, já entendeu como funciona”, avisa Wills.

O Brasil deve ampliar suas metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa e reduzir significativamente desmate ilegal para ser protagonista relevante nas discussões, recomendou na quarta-feira a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne representantes do agronegócio, do setor financeiro, da sociedade civil e da ciência.

‘Alerta vermelho’

De acordo com o relatório do IPCC (o painel da ONU sobre mudanças climáticas), ainda resta uma “janela de oportunidade” para os países tentarem segurar o aquecimento abaixo de 2ºC até 2100. Pela definição do Acordo de Paris, os governos devem se esforçar ao máximo para conter o aumento a 1,5ºC, sob risco de o planeta atingir níveis inseguros de calor. Em agosto, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o documento era um “alerta vermelho” para a humanidade.

O relatório da Transparência Climática aponta que outras fontes de geração de gases do efeito estufa estão em ascensão. As emissões desses gases, excluídas as mudanças no uso do solo, aumentaram 79% entre 1990-2018.

Embora o Brasil tenha uma matriz energética renovável maior que a média dos países do G-20, vem crescendo o uso de termoelétricas com a maior crise hídrica do País em 90 anos. Entre 2018 e 2019, o Brasil forneceu US$ 1,28 bilhões (cerca de R$ 7 bilhões) por ano em apoio direcionado aos combustíveis fósseis. O petróleo representa 72% do mix de energia no transporte brasileiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Emílio Sant’Anna
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