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Das Cocadas da Massagueira ao Candomblé, Patrimônios de Alagoas revitalizam a cultura do Estado

24/08/2021
Das Cocadas da Massagueira ao Candomblé, Patrimônios de Alagoas revitalizam a cultura do Estado

Um dos maiores desafios da sociedade é manter a cultura tradicional viva, e isso só é feito quando os conhecimentos são passados de geração em geração. Enquanto os Patrimônios Vivos são mestres e mestras que passam adiante os conhecimentos ou as técnicas necessárias para a produção e para a preservação de elementos da cultura tradicional ou popular, Patrimônios Imateriais são as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas (instrumentos, objetos, artefatos, lugares culturais, etc.) de uma comunidade.

Doceira Raquel Silva. Foto: Neno Canuto

De diversos sabores e de textura macia, o saber-fazer das cocadas de Massagueira se tornou Patrimônio Imaterial, e isso se deve ao esforço das cocadeiras do município de Massagueira em fazer um produto bom e de qualidade. A doceira Raquel Silva é uma das responsáveis pelo saber-fazer, que desde criança doa seu tempo e dedicação na produção dessas cocadas. “Isso agrega muito na cultura e no amor que a gente emprega a essas cocadas. Fico muito feliz de ter esse momento de reconhecimento, e sou muito grata a todos que nos apoiaram e nos ajudaram nessa conquista”.

“Quem nunca foi almoçar na Massagueira e quando saiu pegou uma cocada de sobremesa? Me sinto feliz em fazer parte desse pedacinho da história de Alagoas. Todo bem cultural alagoano merece ser reconhecido, valorizado e divulgado”, destacou a secretária de Estado da Cultura, Mellina Freitas.

No Registro do Patrimônio Vivo há um total de 40 mestres e mestras listados de diversos segmentos culturais, como dança, folguedo, artesanato, música, escrita, entre outros. Para ser reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas, é necessário preencher uma série de requisitos. Dever ser brasileiro, residente no Estado de Alagoas há mais de 20 anos, ter participação em atividades culturais há mais de 20 anos, estar capacitado a transmitir seus conhecimentos ou suas técnicas à sociedade, ter certa relevância no trabalho desenvolvido pelo mestre ou mestra em prol da cultura alagoana, e ter idade avançada. Todos esses critérios são estabelecidos pela Lei 6.513 de 22 de setembro de 2004, com alteração na Lei 7.172 de 30 de junho de 2010.

Além do reconhecimento e da valorização, quando alguém é alçado ao posto de Patrimônio Vivo, ele também passa a receber uma bolsa de incentivo vitalícia de um salário mínimo e meio, visando à manutenção dos grupos e o repasse dos conhecimentos. As novas gerações se beneficiam de maneira direta, tendo contato e enaltecendo a cultura desde cedo.

Dona Moça. Foto: Neno Canuto

Maria Cícera da Rocha, ou Dona Moça, como é mais conhecida, do município de Marechal Deodoro, acaba de ser diplomada Patrimônio Vivo, em cerimônia realizada no dia 22 de agosto. A rendeira iniciou o seu aprendizado ainda criança, com 07 anos de idade, e aos 10 já contribuía com a renda familiar graças às peças que produzia. Enquanto Dona Moça crescia, sua habilidade na técnica do labirinto e a vontade de passá-la adiante cresceu junto. Em meados de 2002, já aposentada, se juntou a 19 senhoras e fundou a ”Casa do Labirinto”, que ensina e auxilia os novos praticantes da costura.

Para Dona Moça, receber o título de Patrimônio Vivo é a valorização do trabalho de toda uma comunidade. “O labirinto é a riqueza da nossa cidade, é a renda de origem do nosso município. Nos sentimos muito gratos pela valorização e oportunidade de passar a frente essa renda para as futuras gerações”.

Mãe Mírian. Foto: Neno Canuto

Mãe Mírian, representante do município de Maceió, foi outra mestra da cultura alagoana contemplada com o título de Patrimônio Vivo. Desde os seus 12 anos que se dedica para a religiosidade afro-brasileira, hoje com quase 75 anos de muita experiência e história para contar. Ela ocupa o cargo de Sacerdotisa no Terreiro ILÊ NIFÉ OMI OMO POSU BETA (Casa de Amor da Filha das Águas do Posú Betá), e é a última filha de santo, herdeira legítima, do Vodun – Posú Betá, no Brasil, sendo a mais velha herdeira da Nação Posú Betá do Brasil.

Mãe Mírian aponta a valorização da cultura preta como uma das principais razões quando se torna um Patrimônio Vivo. “O terreiro de Candomblé é baseado em mulheres empreendedoras. Nossa função é elevar, liberar, ensinar, empreender essas mulheres. Estão inclusos nessa cultura indumentárias, confecções, aulas de linguagem, capoeira e culinária. Me sinto muito feliz e agradecida pelo reconhecimento”, disse.

Mestre Nô. Foto: Neno Canuto

José Claudionor Bento de Moura, ou Mestre Nô, de Porto de Pedras, comanda o grupo de Cambinda Berto da Quiquina, o único em atuação em todo o Estado de Alagoas. O novo Patrimônio Vivo herdou os saberes de seu pai Berto da Quiquina, que por mais de 60 anos liderou o grupo. Mestre Nô desenvolve o incentivo e repasse do conhecimento do folguedo Cambindas e da cultura popular de forma assídua, com compromisso e dedicação, no Centro Escolar do seu município.

Mestre Nô assegura que irá continuar com a tradição e que se tornar Patrimônio Vivo lhe deu mais confiança. “Agora é fiche, que as Cambindas cresçam cada vez mais, e vou investir cada vez mais no grupo fazendo roupas, convidar os alunos das escolas a participar. Enquanto eu estiver vivo, serei o maior apoiador das Cambindas”.

Patrimônios Vivos

Influenciando na criação de novos praticantes culturais, os Patrimônios Vivos fazem da devoção às suas classes o combustível principal. Não é novidade que as mentes dos jovens estão mais adaptadas às tecnologias, e é unindo as sabedorias ancestrais, os conhecimentos atuais e o incentivo dos mais velhos que técnicas inovadoras podem ser desenvolvidas. “É muito importante a participação do jovem na cultura, tanto para o município como para o estado”, afirmou a Mestra do Patrimônio Vivo, Lucimar Alves.

Muitos desses Patrimônios Vivos são pai, mãe, avô, avó, que passam aos seus familiares as técnicas culturais. Isso mostra que o laço familiar também é um fator determinante para a conservação da cultura popular e a transmissão do saber. Esse é o caso da Mestra Maria do Padeiro, que com 75 anos lidera o grupo Baianas Praieiras de Barreiras, do município de Coruripe. “Gosto muito e dou valor à cultura de Alagoas, é muito bom ver os meninos que acompanham e as meninas que dançam”, diz a mestra. Já a neta, Juliana dos Santos, aponta a sobrevivência da cultura como principal objetivo “de ser passado dos mais velhos para os mais jovens e para as crianças. As Baianas retratam a cultura de Coruripe, onde falamos das canções das praias, do artesanato, e de muito mais”.

A secretária de Estado da Cultura, Mellina Freitas, destaca a importância de incentivar os mestres e mestras a continuarem com suas atividades. “Uma geração aprende com a outra, e o trabalho que os Patrimônios Vivos realizam são insubstituíveis para a cultura alagoana. É com incentivo e dedicação que os mais velhos compartilham com a garotada o saber ancestral, e é com políticas públicas que se garante a perpetuação do conhecimento através das gerações”.