Variedades

Tempero português na culinária pernambucana

30/07/2021
Tempero português na culinária pernambucana

Se há uma coisa que pernambucano gosta é frequentar mercado público. Lá, tem vida os da Boa Vista, de São José, da Madalena, de Casa Amarela e da Encruzilhada. Este último, localizado na zona norte da cidade, datado de 1924, nascido para dar um pouco mais de forma as antigas casinhas de madeira que até então atrapalhavam a mobilidade no grande Largo em frente a antiga estação de trilhos urbanos.

E foi nesse cenário que, no início da década de 90, o imigrante português Manoel José Alves, 81, instalou seu pequeno e familiar restaurante. Nasce O Bragantino.

Por algum tempo com a culinária restrita aos sabores brasileiros. Até que resolve inovar e lançar, num ambiente aparentemente estranho, pratos da cozinha portuguesa.

A corrida ao sucesso que não foi fácil. Durante anos experimentou o sabor agridoce da falta de clientes que quisessem conhecer iguarias como bolinho de bacalhau, arroz de polvo, entre outras. Até que teve um insight e solicitou, ao então prefeito, Roberto Magalhães, a criação de uma Praça da Alimentação.

A peregrinação foi intensa. Saíram as velhas lonas, elementos que atrapalhavam o passeio e chegaram banheiros adequados. Surgiram os novos clientes.
Em três décadas de vida, completados este ano,
O Bragantino virou point, dos pernambucanos e de turistas, que passaram a ver no famoso “boteco”, referência turística e gastronômica do Estado. Não raras as vezes em que o bom português, exímio relações-públicas do local, é pauta jornalística nacional e internacional. Já ganhou prêmios como Melhor Boteco de revistas e de críticos especializados.

Desde que nasceu o local sofreu mudanças que o aproximam de uma típica cantina , mas que não o afastam da cara de box do mercado público. Num espaço apertado Manoel trafega, mesa em mesa, levando conversa e servindo os clientes. O modelo comércio familiar prosperou e lá estão, ao seu lado, uma das filhas do casal de imigrantes tocando o negócio. Flávia Nunes, advogada, largou a carreira para ajudar o pai. A mãe, Maria Eugênia, portuguesa típica, não toca mais as panelas, mas é figura constante a compor o cenário lusitano. As outras filhas brasileiras também, Mônica e Adelaide, seguem a vida acompanhando a rotina da família no local, que obedece cronograma, horários e orientações dos administradores do Mercado. “ Aqui todos tem regras para atender pela boa convivência entre locatários e clientes”, comentou Manoel.

Bolinho de bacalhau, frito na hora e servido, não raras vezes, acompanhado de uma cervejinha , é a pedida mais frequente. Aos sábados o bar tem fila e, quem se atrasa para chegar, pode ficar com aǵua na boca. Com produção limitada, os bolinhos são mesmo disputadíssimos graças ao sabor irretocável que têm e ao aroma que exalam no Mercado, atraindo os pernambucanos num ritmo novo que não é frevo nem fado- mas que apaixona quem o sente.

Pandemia

Em sua história o Bragantino também precisou enfrentar um capítulo difícil: a pandemia. Um desafio grande cerrar portas, visto que o Mercado, é conhecido pelo atendimento público. Por quatro meses o bar não abriu, em obediência aos protocolos sanitários e em proteção aos proprietários, o idoso casal fundador. “ Abrir sem a presença dele é nosso maior problema. Pois as pessoas gostam de ouvir suas histórias”, falou a filha que toca o negócio na retomada.
Aos poucos a dinâmica do restaurante vai se adaptando. Hoje o local já faz vendas por aplicativo e entregues, uma experiência iniciada no auge do fechamento causado pelo Coronavírus. Rigorosos no respeito as medidas de segurança, a família de O Bragantino vai experimentado a volta com cautela. Os clientes também estão reencontrando saudosos o ambiente. “ Perdemos alguns amigos da casa, frequentadores. Mas estamos vivos e agradecidos pela oportunidade de abrir outra vez “, comentou Flavia.
E é assim, que o tradicional Boteco comemora seus 30 anos de sabores, alegria e resistência. Felizes por voltaram ao trabalho, com saúde e esperança. “ Mais do que nunca temos motivos para comemorar. Estamos aqui, vivos. Isso vale muitos brindes, não acham?”, falou seu Manoel, de máscara, enquanto faz sua ronda matinal no ambiente antes de voltar para casa e ficar lá, seguro, aguardando a tão esperada imunidade coletiva, que o fará voltar em definitivo para o Bar que inaugurou e fez história na vida gastronômica do Recife.

Mercado da Encruzilhada
O Bragantino
Boxes138/140