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Neil Gaiman: ‘Amor pelo Brasil começou antes de eu conhecer o País’

04/12/2020

Em um momento engraçado da participação de Neil Gaiman no painel virtual da CCXP Worlds, o escritor, quadrinista e produtor britânico soltou essa: “Durante um tempo na minha carreira, todo mundo que buscava um autógrafo meu tinha um pênis”. Gaiman falava da popularização de Sandman, seu quadrinho dos anos 1990 que vai ganhar uma adaptação em série para a Netflix. “Foi um processo até rápido com Sandman. Quando os namorados homens queriam conversar as parceiras e tentar convencê-las a lerem quadrinhos, era esse que eles mostravam. E elas começaram a chegar, até que agora eu percebo uma audiência meio a meio.”

Ele é o convidado de honra da primeira edição virtual da CCXP (a antiga Comic Con Experience de São Paulo), que começou nesta sexta-feira, 4, e vai até domingo, 6. Há experiências pagas, mas o acesso aos principais painéis e à plataforma desenvolvida especialmente para o evento é gratuito. Gaiman fez o primeiro painel e também comentou seu amor pelo Brasil e pela repercussão que sua obra tem entre os brasileiros.

“O amor pelo Brasil começou antes mesmo de eu saber o que era o Brasil”, riu. “Lembro de uma ocasião em que haviam 1,5 mil pessoas na fila para autógrafo em uma loja da Fnac. As pessoas ameaçaram fazer um motim se eu não assinasse todos, então fiquei lá por horas e horas”, recordou-se.

Ele compartilhou uma história de sua visita à Flip, em Paraty (que este ano ocorre nos mesmos dias da CCXP, também de maneira virtual). “Tom Stoppard conta essa história para todo mundo. Em Paraty, as filas de autógrafos tinham umas 50 pessoas para cada escritor, mas eu tinha centenas porque acho que as pessoas foram dirigindo até lá me ver. Eu perdi todos os jantares e encontros da Flip, ele acha isso a coisa mais engraçada do mundo.”

Os painéis são transmitidos pela plataforma ccxpworlds.com e também na página oficial do evento no Facebook. Durante a entrevista com Gaiman, alguns fãs reclamaram da transmissão. “Estresse todo ano no pavilhão, estresse no online. É o gostinho da CCXP”, comentou uma fã do escritor. Segundo a CCXP, “a plataforma apresentou um pequeno momento de instabilidade, que foi rapidamente resolvido e a programação do festival segue normalmente”.

A série Sandman

Entrevistado pelo jornalista e sócio da Omelete, grupo que produz a CCXP, Marcelo Forlani, Gaiman comentou e deu alguns detalhes sobre a nova produção de Sandman para a Netflix, da qual ele é o showrunner.

“Não é parecido com Sandman, não é inspirado em Sandman… é Sandman. Estamos fazendo. Não vejo nenhum outro ponto da história humana em que isso pudesse acontecer. Quando lancei a série, o cinema tinha orçamento, mas não a TV. O problema com Sandman era na verdade dois: como escolher o que entra e o que o sai, e se fazemos um filme “R-rated”. Nos anos 1990, esse tipo de filme também não tinha muito orçamento. Não se pode fazer uma convenção de serial killers.”

Ele compartilhou uma história em que foi até Los Angeles apresentar uma ideia de adaptação de Sandman para o cinema para a Warner. “Eu dei o pitch para eles fazerem três filmes e mais outras coisas, como animações. Foi uma reunião de uma hora, levamos arte original, brinquedos, estatuetas… no fim, um dos chefes disse: “É engraçado você vir nos oferecer, porque estava conversando com meu colega e chegamos à conclusão que nossos filmes mais bem sucedidos, Senhor dos Anéis e Harry Potter, deram certo porque tinham um vilão muito bem definido. Como Sandman definitivamente não tem, eles me mandaram embora”, disse Gaiman.

Mas as coisas mudaram e segundo o autor, agora, quem foi atrás dele foram as plataformas e estúdios. Com a experiência como showrunner em Good Omens, ele acertou com a Netflix para ter controle sobre a produção.

A série é prevista para 2021. Questionado sobre se a pandemia estaria presente no enredo, Gaiman disse que essa decisão ainda não foi discutida. “Ainda não filmamos nenhuma cena no dia presente”, explicou. “Quando chegarmos ao episódio 3, acho que vamos precisar decidir. Estamos num mundo em que as pessoas estão usando máscaras. É menos estranho agora do que há seis meses.”

Os painéis são gratuitos ao vivo, e ficam disponíveis após 24 horas da sua exibição para os fãs que adquiriram os pacotes pagos, até o dia 13 de dezembro.

Autor: Guilherme Sobota
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