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A tabica de Bimba de Boi

08/11/2020
A tabica de Bimba de Boi

O casal vivia às turras, os dois com suas razões: a fama de mulherengo do marido e o ciúme incontido da mulher apaixonada, Lilibeth.

Antônio Pedro, por ser homem bonito, não pode sentir o olhar de uma garota que fica assanhado. Não precisaria de outra mulher, sua esposa é um belo espécime feminino. Porém, ele tem uma compulsão de querer transar com todas as mulheres do mundo.

A desconfiança e ciúme de Lilibeth aumentaram quando o marido passou a atender o celular longe do alcance, falando baixo. Ela pressentiu que era namorada nova, coisa séria, resolveu contratar um detetive. No escritório de Audálio no Edifício Brêda, ela acertou os honorários, forneceu-lhe informações, fotos do marido e um adiantamento. O detetive era bom e o Antônio Pedro era ruim em se esconder. As investigações foram rápidas e o crime facilmente descoberto. A namorada do marido trabalhava em um banco. Saía do trabalho às 16:30 h, no mínimo duas vezes por semana, Antônio Pedro apanhava Juliete, bonita moça, para passar o resto da tarde em algum motel da cidade. Variavam de local. O detetive mostrou fotografias para indignação e raiva de sua cliente.

 Lilibeth controlou-se, haveria pegá-los em flagrante. Esperou uma oportunidade. Certa tarde ela notou que seu marido telefonava do celular falando baixo. Coisa só percebida por mulheres ciumentas, elas têm esse incrível faro. Às três horas da tarde o maridão foi tomar banho, dizendo que haveria uma reunião, uma grande venda com um fazendeiro. Antônio Pedro trabalha em uma representação de adubo. Ganha altas comissões nas vendas.

Lilibeth gritou para o marido que estava saindo para comprar cigarro. Porém, dirigiu-se ao carrão do marido, abriu a mala e deixou-a aberta. Recolocou as chaves no mesmo local onde apanhou. Segurou uma tabica de bimba de boi que ficava permanentemente pendurada no porta-chapéus, voltou ao carro, entrou na mala e trancou-se por dentro. Mesmo com a mala espaçosa, ficou desconfortável. Ela deitou-se com as pernas encolhidas com ânsia e coragem.

  Antônio Pedro ligou o carro, o barulho do motor aumentou o desconforto.  Em torno das quatro horas, o carro parou em uma rua movimentada. Lilibeth sentiu a porta abrir e entrar uma mulher cumprimentando Antônio com um “Ôi querido” meloso, e acomodou-se no assento dianteiro. Sentiu o perfume caro da serelepe, O carro partiu, Lilibeth ouviu um diálogo com dor no coração, com vontade de esganar os dois.

    – Meu amor. Quero fazer aquelas coisas maravilhosas. Hoje estou com uma vontade… Vou lhe matar na cama! 

    – E eu vou lhe dar um banho de gato!

    – E a Jararaca continua ciumenta? Será que ela desconfia de nós?

    – A Jararaca pensa que é inteligente vive me ameaçando. Mas é burra. Jamais saberá de nós dois. Tomo meus cuidados. 

    – Meu amor, na próxima semana completa um ano de nosso namoro. Você me prometeu aquele colar, lembra-se?

    – Não me esqueci, vamos comemorar juntos, vou inventar uma viagem para Salvador. Você diz no trabalho que está doente.

 Lilibeth se conteve até por medo de estar correndo em uma pista de alta velocidade. A raiva no seu peito era tão grande que pensava ter um infarto naquele momento. O carro ainda rolou alguns minutos. Houve outros diálogos para desespero de Lilibeth. O carro diminuiu a velocidade, deu uma entrada à esquerda até frear. Ouviu-se a voz de Antônio Pedro: “Quero uma suíte com piscina”. Antônio Pedro manobrou até que parou de vez na garagem do motel. Nesse momento ele ouviu um barulho, alguém batendo por dentro da mala. Assustado dirigiu-se para traseira do carro, percebeu que havia alguém dentro. Quando abriu, deu-se a grande surpresa: Lilibeth saltou como uma fera, com a tabica de bimba de boi na mão gritava alucinada: 

    – Sua puta! Jararaca é a puta que a pariu! 

Avançou na garota de vinte anos de porte elegante e bonita. Enquanto Antônio foi buscar ajuda na portaria, Lilibeth encheu Juliete de porrada, como se a culpa fosse só da garota. Houve escândalo no motel, o gerente chegou em socorro. Custou a se acalmarem. Colocaram Juliete num táxi e o casal voltou para casa no carro, com constantes ataques de choro e raiva de Lilibeth. Ao chegar, ela expulsou o marido de casa. Três meses depois fizeram a paz, ele voltou. Estão vivendo no maior amor, nem parece que houve o caso da tabica de bimba de boi. Quem quiser que entenda e que se meta nas brigas de casal.