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Casos de contaminação crescem e atingem metade dos clubes do Brasileirão

21/11/2020

A 22.ª rodada da Série A do Campeonato Brasileiro começou na sexta-feira sob o impacto de um impressionante aumento de casos de covid-19 entre jogadores, treinadores, membros de comissão técnica e funcionários dos clubes. Até o início da noite desta sexta-feira, eram mais de 50 casos em 10 times. E 4 treinadores estavam contaminados e fora de ação. Somente o Palmeiras, que lidera o “ranking” com 18 casos, afastou mais 5 jogadores na sexta.

A CBF entende que a contaminação não ocorre em campo e não cogita mudar o protocolo neste momento. Para os especialistas ouvidos pelo Estadão, o problema está no descumprimento dos protocolos sanitários por parte dos jogadores. Eles acreditam que os atletas, assim como parte da sociedade, relaxaram em relação ao cumprimento das medidas de segurança.

É o que diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp. “Os eventos superdisseminadores, que englobam batizados, festas de aniversários e qualquer outro tipo de ambiente que tenha mais de seis pessoas e as medidas de proteção não são respeitadas, estão fazendo com que a curva volte a crescer. As pessoas estão banalizando a questão da flexibilização, inclusive os jogadores, que estão sendo flagrados nesses eventos”, avalia.

Essa situação, somada às condições de trabalho no futebol, facilita a disseminação do vírus. Um atleta infectado tem possibilidade de contaminar vários outros por causa da proximidade dos treinos.

“Houve um relaxamento das medidas de proteção fora dos clubes. Os jogadores estão se expondo a ambientes onde não é possível manter a proteção. Festas, restaurantes e grupos de amigos. O sujeito que se infecta vai acabar contaminando seus companheiros, já que, pela natureza do esporte, não é possível aplicar distanciamento e uso de máscaras”, explica o infectologista Alexandre Cunha.

Atrás do Palmeiras, que registra 18 casos – Gabriel Menino também se contaminou, mas já está recuperado -, estão Atlético-MG, com 10 contaminados, e Vasco, com 7. O Santos tinha 9 doentes, mas nesta sexta-feira 6 deles foram liberados por estarem recuperados – Alex, Alison, Sandry, Pituca, Jobson e Jean Mota.

Segundo Naime, se os jogadores seguissem à risca os protocolos de segurança elaborados pelos clubes, não haveria esse tipo de situação. “Olha o nome: concentração. É óbvio que haverá aglomeração. Se um ou dois não fazem a lição de casa, acaba com a proteção de todos. O jogador, nesse caso, prejudica o próprio clube”, explica.

Cunha também acredita que esses casos não parecem ser consequência de falhas nos protocolos dos clubes. Para o infectologista, é mais provável que um atleta tenha se contaminado fora das atividades e levado o vírus para dentro dos CTs. “Os jogadores são jovens e nessa faixa etária a covid-19 é uma doença benigna. Mais da metade dos infectados podem ser assintomáticos, o que torna mais difícil uma contenção a partir da avaliação clínica”, afirma.

TÉCNICOS – O surto nos clubes também colocam em risco a saúde dos treinadores e de suas comissões técnicas. Na semana passada, Jorge Sampaoli, do Atlético-MG, e Cuca, do Santos, estavam afastados de seus cargos em decorrência da covid-19. O treinador santista chegou a ficar internado e, mesmo tendo testado negativo na última bateria de exames, permanecerá longe de seu posto por cerca de dez dias. Ele é do grupo de risco por ter problemas cardíacos – há algum tempo passou por cirurgia no coração.

Tanto o Atlético quanto o Santos tiveram dificuldades para repor a presença de seus técnicos em campo. Isso porque até mesmo quem deveria substituí-los foi diagnosticado com a doença. No time paulista, no lugar de Cuca e Cuquinha entrou o auxiliar Marcelo Fernandes. Na equipe mineira, Leandro Zago assumiu interinamente.

Os últimos casos entre os treinadores foram registrados no Internacional e no Sport, na sexta. O clube gaúcho informou que Abel Braga, que aos 68 anos é do grupo de risco, testou positivo para a doença. Segundo o boletim médico do clube, ele está assintomático. No fim da tarde, a equipe pernambucana anunciou que Jair Ventura não estará à frente do time segunda-feira contra o Atlético-GO, pois também foi contaminado.

Autor: Raul Vitor, especial para a AE
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