Cidades

10º Circuito Penedo promove Noite do Cinema Alagoano

30/11/2020
10º Circuito Penedo promove Noite do Cinema Alagoano

A arquitetura barroca que compõe o Centro Histórico de Penedo serviu como cenário de um momento decisivo para o universo audiovisual de Alagoas dar a mostra de seu vigor atual: a Noite do Cinema Alagoano, promovida no último sábado (28) pelo 10º Circuito Penedo de Cinema, em que o público local pôde estabelecer relação de pertencimento com as projeções feitas na Praça 12 de Abril.

Às margens do Rio São Francisco, alguns dos curtas-metragens premiados na última Mostra Sururu de Cinema Alagoano, realizada anualmente em Maceió desde 2010, foram exibidos em praça pública. Dentre eles, filmes que já circularam por festivais de todo o país: Nas Quebradas do Boi, do diretor Igor Machado; Tambor ou Bola, de Sérgio Onofre; O Branco da Raiz, de Anderson Barbosa; e Ilhas de Calor, de Ulisses Arthur.

Após as projeções, as produtoras Amanda Môa e Maysa Reis falaram ao público sobre a iniciativa já tradicional da sessão com os vencedores e a importância da Mostra Sururu como janela para o cinema local há 11 anos. De acordo com elas, foram mais de 70 curtas inscritos neste ano e 30 selecionados para compor uma programação inteiramente gratuita, que acontece entre 14 e 19 de dezembro em formato on-line.

Também participaram da noite os realizadores do filme Cavalo, Werner Salles e Rafhael Barbosa, que subiram ao palco acompanhados de parte do elenco e da equipe de produção. Em meio ao time, o ator Alexandrea Constantino ressaltou a importância de ter a identidade alagoana iluminando a tela comunitária para executar um movimento, em suas palavras, de “mostrar a potência afroindígena no Brasil”.

Cavalo, sem dúvidas, traz o brilho dessa potência ao mesclar caminhos ficcional, documental e experimental no ensejo de mostrar como a ancestralidade atravessa a contemporaneidade. Sob essa perspectiva, o corpo é elemento central da narrativa poética do longa-metragem, funcionando como vetor para explorar as simbologias do arquétipo do “cavalo” por meio de performances que refletem o devir da mente humana, da vida e do processo artístico da própria obra.

Nesse sentido, o diretor Rafhael Barbosa explicou: “Fizemos um estudo do arquétipo do ‘cavalo’, aquele que incorpora no contexto das religiões de matrizes africanas, e ampliamos o olhar para entender seu significado em outras culturas”. Já Werner Salles, deixou claro que, para isso, os recursos de direção consistiram muito mais em observação do que intervenção: “O contato com as histórias das personagens transformou o roteiro do filme. A intuição foi o guia. Somos todos cavalos nesse processo”, declarou.

Werner ainda destacou a necessidade de políticas públicas de financiamento à arte no país, facilitadoras da produção que se destaca como primeiro longa produzido mediante edital em Alagoas. Em grande medida, essas ações de fomento à cultura e descentralização de recursos servem para levantar debates urgentes em nosso tempo, como salienta Rafhael: “Num momento em que a intolerância religiosa e os diversos preconceitos avançam de maneira preocupante no país, ‘Cavalo’ é um grito poético que deve reverberar”, assegura.

De fato, os ecos do filme já podem ser ouvidos sob diversas partes do mundo, com repercussão pela Mostra de Cinema de Tiradentes (MG), o Festival Internacional de Cinema de Curitiba e o Los Angeles Brazilian Film Festival — para citar apenas alguns dos muitos eventos onde a obra foi selecionada ou exibida.

Pouco antes da projeção do longa, o bate-papo foi aberto ao público e o ator Matheus Nachtergaele, presente na plateia como convidado do Circuito, lançou um questionamento aos realizadores que os permitiu encerrar o debate da Noite do Cinema Alagoano de maneira precisa. Nachtergaele quis saber como o estado de Alagoas situa-se no contexto da emblemática produção audiovisual nordestina, ao que os diretores responderam com a propriedade de quem desenha contornos definitivos para o horizonte do cinema local.

Segundo Werner e Rafhael, a cena audiovisual alagoana da última década foi decisiva para erguer uma produção forte e consolidar uma identidade própria, a qual o filme vem acentuar. Na opinião deles, o momento proporcionado em Penedo é decisivo para a constituição de um movimento artístico robusto no estado, em que Cavalo certamente tem lugar de destaque e contribuição pioneira.