Cidades

Dia do Folclore: Diteal celebra a cultura popular com vídeo sobre o artista Jurandir Bozo

22/08/2020
Dia do Folclore: Diteal celebra a cultura popular com vídeo sobre o artista Jurandir Bozo

Um amante da cultura popular, inspirado nos ensinamentos e vivências com mestres como Verdelinho, engajado em transmitir seus conhecimentos e batalhador pela valorização dessas expressões artísticas. Assim podemos resumir um pouco do perfil do artista popular, Jurandir Bozo, considerado por seus seguidores como um mestre.

No Dia do Folclore, celebrado neste sábado (22), a Diretoria de Teatros do Estado de Alagoas (Diteal) lança mais um vídeo de sua série documental sobre artistas alagoanos, contando a história de Jurandir Bozo, apresentando composições de sua autoria e trazendo depoimentos de Bozo, Arnaud Borges e do gerente artístico e cultural da instituição, Alexandre Holanda.

“É muito satisfatório poder marcar a data com esse registro importante do trabalho de um grande representante da nossa cultura popular, que está sempre dialogando com os nossos palcos, ao trazer espetáculos repletos de arte, história, tradição e informação ao público. Parabenizamos e agradecemos pela contribuição de Jurandir Bozo com a nossa cultura. Faço o convite para que todos assistam ao vídeo e conheçam mais o fazer cultural em Alagoas”, acrescentou a diretora presidente da Diteal, Sheila Maluf.

O vídeo está disponível pelo site diteal.al.gov.br, nas redes sociais do Teatro Deodoro, bem como em seu canal do Youtube.

O audiovisual inicia com a música “Cheguei Alagoas”, de Jurandir Bozo e segue com depoimento do artista, atuante há mais de 20 anos na cultura popular alagoana. “Meu nome é Jurandir Amadeu Gomes Pinto, nascido em Pão de Açúcar, e, na cena cultural, fiquei mais conhecido como Jurandir Bozo. A minha trajetória começa a fundir com o Teatro Deodoro porque a minha grande influência, meu grande mestre Verdelinho, e eu venho para homenageá-lo, como grandes cantadores da cultura popular, ele trabalhava aqui no teatro. A gente ficava brincando com o mestre aqui, conversando, registrando, nessa portaria, consequentemente, a cultura popular foi me tomando. A gente tinha esse imaginário do belo, da leveza da cultura popular e isso saiu aqui da portaria e foi para a casa do mestre Verdelinho, isso desde os anos 90, que eu vinha como espectador”, conta.

Dez anos após, Jurandir Bozo estreia no palco do Teatro Deodoro. “Em 2000, eu participei pela primeira vez no Teatro Deodoro, num palco grande, e, depois, volto dirigindo espetáculo do Mestre Verdelinho, mais voltado para a cultura popular. Então, é uma ligação com essa casa, com essa equipe, que me emociona, me orgulha, porque foi um processo alicerçado com muito carinho, respeito, cuidado, tanto meu para essa tradição do coco de roda alagoano, quanto pela abertura da casa para as culturas populares. Teve um episódio muito triste, que um folclorista tinha sido barrado há muito tempo atrás numa festa no teatro. Hoje é inconcebível imaginar isso, o teatro foi a casa que acolheu a cultura popular, me acolheu”, revela.

Entre os espetáculos apresentados nos palcos administrados pela Diteal, destacamos Universando: uma quase conversa entre Mestre Verdelinho e Mestre Sebastião”, no 19º Teatro Deodoro é o Maior Barato, com Arnaud Borges, e Pé no Barro, no 14º Quinta no Arena.

O poeta, compositor, produtor cultural e diretor de palco, Arnaud Borges, grande parceiro de Jurandir Bozo, deixou seu depoimento emocionado no vídeo. “Jurandir Bozo é uma escola, eu aprendo bastante, é tão presente que hoje ele faz com que a periferia saiba o que é uma pisada, um trupé, a cultura popular, que antes era um espetáculo para turista ver. Jurandir Bozo é Verdelinho, dentre os Verdelinhos, é a nossa cultura, é um mestre”, conclui.

Com trechos da música “Tá ficando bom”, de Jurandir Bozo, o vídeo segue como depoimento do gerente artístico e cultural da Diteal, Alexandre Holanda. “Nós temos uma cultura popular de grande excelência, grandes nomes, é muito bom saber que pelo palco do Teatro Deodoro passaram Mestre Hilda, Mestre Benon, Mestre Venâncio, Tororó do Rojão, Nelson da Rabeca e, entre esses grandes nomes, podemos destacar o jovem mestre, que faz uma transição de pesquisa desse grande celeiro artístico e cultural que nós estamos, muito comprometido, ele é um multiplicador, grande artista. Então, hoje, nós queremos homenagear o Jurandir Bozo, que já ocupou os palcos do Deodoro e do Arena, com espetáculos diversos, trabalhos de pesquisa, sempre homenageando nomes do nosso cenário, um grande compositor, homem que agrega pessoas e gerações, que traz do nosso passado e renova com sua identidade e perpetua esse aprendizado. É com muita satisfação que prestamos homenagem a esse nosso jovem mestre da cultura popular. Quero também destacar a participação especial do nosso querido e grande artista alagoano Arnaud Borges. Viva Jurandir Bozo, viva o folclore”, afirmou.

Como o mestre em sua missão de ensinar, Bozo conta um pouco da história do coco de roda alagoano no vídeo. “O coco nasce, segundo Aloísio Vilela, no livro Coco Alagoano, e no livro Folclore Negro das Alagoas, Abelardo Duarte também vem narrar essa mesma versão, chega em comum que ele nasceu no Quilombo dos Palmares, da necessidade do negro bater o coco na pedra, porque existia o coco maduro e o seco. Os negros no Brasil usavam muito as cantigas para tirar o peso do trabalho, do cansaço. Do mesmo jeito, o coco chega aqui e começa a ganhar variações. A origem do coco tem outras versões que não narra o nascimento do coco em Alagoas, eu acredito que nasceu aqui. Dizimam o quilombo, negros se espalham pelo nordeste e o coco vai ganhando peculiaridades. Em Alagoas, ele perde muito a essência afro e eu acho que tem a ver com a Quebra de 1912, aí ele não tem o tambor. O coco por um período ganha os grandes salões, invade as grandes casas, mas depois começa a perder essa força, acho que com o advento do rádio, avião, começa a se cogitar a vinda de grandes artistas e essas referências locais vão se perdendo. Segundo Telma César e Dr. Adélia, teve uma coisa que mudou muito que foi quando Pedro Teixeira leva o coco pra escola com a caixa e o surdo. Tudo começa a se redesenhar, a muda, o trupé vai perdendo um pouco a função laboral, de trabalho e até os mestres deixam de usar alguns trupés. Cavalo manco, tava quase em desuso, xipapá, trupé de contra e tantos outros. Tudo começa na base do quarenta (ele demonstra no vídeo), mas ele não fica só com esse ritmo, é explorado de várias formas, mantendo essa base. Tem os trupés de contra, rojões e os mais conhecidos: sete e meio, cavalo manco, xipapá, travessão. O coco alagoano é muito orgânico e forte. Leva um certo desconforto, dificulta um pouco o aprendizado da dança. O coco alagoano é protagonizado pela cantiga, pelo cantador e não pela dança, nos mais diversos estilos. Primeiro, têm os cocos soltos, só com o estribilho, não tem amarração, não tem desenvolvimento de assunto, geralmente composta por duas linhas, numa o cantador e na outra o povo responde. Depois, vem o coco de amarração, com o estribilho e amarração, normalmente, com a segunda linha rimando com a quarta. Tem coco de gancho, fundamento, voltado, parada, engenharia… O coco alagoano é um dos mais diversos. Escolas que aqui a gente não encontra mais, estão perpetuadas em Pernambuco porque muita gente que pratica alguns estilos de coco lá tiveram mestres alagoanos. Então, o coco de salão de Pernambuco tem forte influência do alagoano. Isso me preocupa: a preservação dessa diversidade. Cada vez mais, a gente se perde, perde o registro, o estudo, o cuidado. Um momento como esse, de registrar essa fala, é importante pra gente refletir um pouco. Até onde precisamos comemorar e até onde precisamos ter consciência de preservar essa cultura tão bonita que nós temos”, pontua.

O vídeo encerra com a música “Mundo Diferente”, de Jurandir Bozo, na qual o artista diz, entre outros trechos: “quero mais de tudo, quero ir além, sair amando todo mundo, sem trair ninguém, quero um pouco de espaço, quero um lugar meu”. Lugar devidamente conquistado, fruto de um trabalho baseado no amor e na dedicação à cultura popular alagoana.