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Séries de confinamento

21/07/2020
Séries de confinamento

Qual sua série ou novela predileta? Antes da pandemia, essa reposta certamente conteria títulos exibidos em plataformas de streaming e canais de televisão. Mas, agora, as opções podem estar em cartaz nas redes sociais, sobretudo no Instagram. São produções com a cara do isolamento – feitas remotamente e com ferramentas de edição simples. Porém, conectadas com o momento, abordando temas como solidão, crises no relacionamento, festas a distância, furadinha na quarentena, influenciadores sem noção e questões sociais.

Entre as séries que estrearam nessa temporada está a #mininovela, comédia criada e protagonizada pelo ator carioca Pedroca Monteiro (@pedrocapedroca). Os capítulos – que já passam dos 20 e são postados diariamente, ao meio-dia – têm no máximo dez minutos. Cada cena dura o tempo de um vídeo no feed do Instagram (ou seja, 1 minuto).

A trama gira em torno de um ex-casal que se comunica por videochamadas. Ivanildo é bonachão, ex-marido de Letícia, com quem divide a guarda dos filhos gêmeos. A caracterização das personagens é feita por meio dos filtros da própria ferramenta, que distorcem as feições do rosto ou mudam o sexo das pessoas.

“A #mininovela começou como uma maneira de eu extravasar minhas emoções durante a quarentena. É o meu palco”, diz Monteiro, que, por conta da quarentena, teve de interromper a temporada da peça Simples Assim, em que atuava ao lado das atrizes Julia Lemmertz e Georgina Góes. O ator também estava envolvido nas novas temporadas do seriado Vai Que Cola, do Multishow, e do programa Fora de Hora, da TV Globo.

Como todo folhetim, a #mininovela também tem seus coadjuvantes. Um deles roubou a cena: Carol Priscila, uma novata cantora da MPB. A princípio ela tinha uma grande dificuldade em começar uma live. Porém, quando conseguiu soltar a voz, veio com a canção Solidão Galopante, que se tornou um hit na vida real.

Segundo Monteiro, a canção foi feita de improviso. “Não sei de onde saiu. Nasceu porque tinha que nascer”, conta. Seguidores passaram a mandar a música em versões diversas – funk, voz e violão, harpa – e até videoclipes. Um deles foi feito pela dançarina Maria Eugenia Tita, que usou um cavalo real nas cenas, e outro pelo ator Reynaldo Gianecchini. O próximo passo será o lançamento do hit no Spotify.

Com tanta repercussão, Monteiro viu seu número de seguidores dobrarem – atualmente, são 68 mil pessoas. Entre eles, Marcelo Adnet, Lulu Santos e Teresa Cristina – que fez uma participação especial na #mininovela cantando Solidão Galopante.

Apesar do sucesso da novelinha, ele não sabe ao certo até quando ela vai prosseguir, já que os capítulos são gravados no dia anterior da publicação e os diálogos feitos quase que na hora, apenas com um roteiro para dar um rumo para a história. “Penso, mais tarde, transformá-la talvez em uma peça”, conta o ator.

Outro produto do isolamento é a série Quarentenados (@quarentenadostv), publicada no IGTV. A produção, que estreou dia 21 de junho, tem previsão de duração de seis capítulos, publicados aos domingos, às 18h. Produzida pela Young Republic Films e com direção de Daniel Tupinambá, ela conta a história de seis amigos que moram no mesmo prédio, mas durante o isolamento social só se encontram por vídeo, em um ritual diário. No elenco, estão Fábio Rabin, Isabella Santoni, Gabi Lopes e Maicon Rodrigues.

Filmada na vertical, para se adaptar ao formato do IGTV, a série é gravada na sequência pelo aplicativo Zoom. Antes, todas as cenas são ensaiadas em um processo colaborativo entre os atores e diretores. “Como virou um hábito na quarentena, os personagens também se encontram por meio de videochamada. Por isso, a gente traz essa linguagem mais naturalista, do ao vivo”, explica Tupinambá. O diretor também pede que cada ator grave com uma segunda câmera, para, na edição, mostrar outros planos e a ambientação da cena.

O primeiro episódio alcançou 1 milhão de visualizações em menos de 24 horas no ar. A série é publicada em sete IGTVs – além do oficial, os atores soltam a série em suas contas pessoais. “É muito gratificante. Já recebi mensagens de pessoas que dizem estar deprimidas e que esperaram o domingo para assistir e ficar bem. É o poder do entretenimento como cura”, diz o diretor.

A atriz Isabella Santoni, que vive a personagem Sofia na série, diz que, apesar de cada um gravar isoladamente, não se sente em um trabalho solitário. “Como é um processo em grupo, a gente troca muito. É a parte mais legal”, conta ela, que afirma ter aprendido novas funções nessa nova maneira de atuar. “Tenho que preparar o cenário, me preocupar com a iluminação, ver o enquadramento, dar o rec na câmera. A função da arte é gerar transformação.” O último capítulo da temporada será exibido no dia 26 de julho, mas os produtores pensam em transformá-la em sitcom para ser exibida na TV ou em plataforma de streaming.

Papo sério

Não só de produções audiovisuais vivem as séries das redes sociais. Um quadrinho com forte crítica social tem atraído o like de milhares de pessoas. Publicado no perfil do ilustrador e roteirista carioca Leandro Assis (@leandro_assis_ilustra), Confinada é uma parceria dele com a escritora e ativista Triscila Oliveira (@soulanja). A série conta a história da influeciadora digital Fran Clemente e os contrastes de seu isolamento, em um apartamento na zona sul do Rio, com a vida de suas empregadas domésticas na periferia.

“A personagem é uma blogueira fitness padrão e eu sou a mulher preta periférica observando essa mulher privilegiada. Infelizmente, tem muita gente que se inspira nessas pessoas, mas, com a epidemia, outras tantas perceberam que esse tipo de influencer não agrega nada na vida delas”, diz Triscila. Ela foi convidada por Assis a dividir com ele a autoria depois de deixar um comentário em outra série em quadrinhos, Os Santos, colocada em pausa em função da pandemia. Para Triscila, o tom ácido da série é um “necessário tapa na cara para que as pessoas percebam que não existe uma só realidade”.

De acordo com Assis, a inspiração vem de personagens , não só do Brasil como em outros lugares do mundo, que estão nas redes sociais. “É um apanhado delas”, resume ele, que há dois anos vive em Portugal. O ilustrador diz que Fran Clemente acabou por virar uma vilã de novela que o público adora odiar. “Já não sei se nos inspiramos nelas (as influencers) ou se elas que se inspiram em nós.” Por ora, Confinada segue até que o período (e histórias) do confinamento perdurarem. Mais para frente, Assis pretende transformar tanto ela quanto Os Santos em livros.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Danilo Casaletti, especial para o Estado
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