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Representantes de produtos com selo de indicação geográfica abordam oportunidades de negócios durante a crise

08/06/2020
Representantes de produtos com selo de indicação geográfica abordam oportunidades de negócios durante a crise

Durante uma live realizada em 3 de junho passado, o Sebrae Nacional abordou o tema “Indicações geográficas e as oportunidades para os produtos típicos do Brasil”. O evento, transmitido ao vivo por meio das plataformas digitais Instagram, Facebook e Youtube, contou com a participação do presidente da Associação dos Produtores de Queijo da Região da Canastra (Aprocan), João Carlos Leite, da vice-presidente do Instituto Bordado Filé da Região das Lagoas Mundaú-Manguaba (Inbordal), localizado em Alagoas, Petrúcia Ferreira Lopes, e do consultor técnico da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Jaime Milan.

Ao longo da live, além de falar sobre os desafios de produção e de venda enfrentados durante a crise provocada pelo novo coronavírus, os representantes dos produtos com selo de indicação geográfica compartilharam as suas perspectivas para a retomada das atividades econômicas no pós-pandemia.

Segundo informações divulgadas pelo Sistema Sebrae, o termo Indicação Geográfica surgiu “quando produtores, comerciantes e consumidores começaram a identificar que alguns produtos de determinados lugares apresentavam qualidades particulares”. As características diferenciadas dos produtos eram atribuídas “à sua origem geográfica, e começaram a denominá-los com o nome geográfico que indicava sua procedência”.

O presidente da Aprocan, João Carlos Leite, explica que a produção dos queijos na região foi iniciada há mais de um século. “No final do século XIX, já havia se instalado o comércio de queijo aqui na região da Serra da Canastra. A condição geomorfológica propiciou o desenvolvimento de uma flora bacteriana na Canastra. Aliada a questões climáticas, à genética do animal e às técnicas de produção, a flora produz um queijo com propriedades e características diferentes das demais regiões”, destaca.

De acordo com o consultor técnico da Aprovale, Jaime Milan, a produção dos vinhos do Vale dos Vinhedos também foi iniciada na segunda metade do século XIX, sendo influenciada pelas colonizações italiana e alemã na região.

“Os primeiros imigrantes chegaram por aqui em 1875 e se fixaram nessa serra gaúcha, localizada a aproximadamente 110 km de distância da capital Porto Alegre. Eles fizeram a implantação de alguns vinhedos, utilizando uvas europeias que dão origem aos vinhos finos e, atualmente, o Vale dos Vinhedos é caracterizado por produzir vinhos finos nas variedades Merlot, para o vinho tinto, e Chardonnay, para os vinhos brancos”, informa.

Petrúcia Ferreira Lopes, vice-presidente do Inbordal, conta que bordado filé também foi trazido por imigrantes e que a produção do artesanato foi concentrada nas cidades de Maceió e Marechal Deodoro, nas quais se localizam as lagoas Mundaú e Manguaba. Segundo ela, o selo de identificação geográfica foi essencial para a valorização do bordado, que estava perdendo as suas características tradicionais. “O Sebrae Alagoas nos convidou a conhecer o que era uma Indicação Geográfica (IG). Até então a gente nem tinha ideia do que era. Esse processo começou em 2010 e, em 2014, já estávamos dando entrada junto ao INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial)”, recorda.

“As artesãs começaram a se conscientizar, perceberam que o produto precisava recuperar as características que tinha antes para ter um valor agregado. A IG nos deu esse respaldo de mostrar para as artesãs que o produto poderia ser trabalhado de uma forma tradicional e ser vendido num valor justo”, acrescenta.

A vice-presidente do Inbordal disse que, durante a pandemia, as artesãs associadas apostam em alternativas para superar a crise. “As vendas pararam porque os nossos clientes, lojistas, repartições públicas e entidades, que faziam encomendas para eventos, estão fechados e o nosso produto não é uma necessidade primordial nesse momento. Então, as artesãs, que já produziam em casa, começaram a utilizar o filé para decorar máscaras de proteção e fazer aplicações em roupas, mas o produto com indicação geográfica não está saindo”, conta.

As ferramentas digitais também estão sendo utilizadas pelo Inbordal para alcançar as novas necessidades impostas pela pandemia. “Estamos numa plataforma para poder vender online. Com o surgimento da pandemia do Coronavírus, nós vimos uma nova possibilidade de mercado e estamos indo atrás dessa oportunidade, que é o mercado online”, informa a vice-presidente Petrúcia Ferreira Lopes.

Segundo João Carlos Leite, da Aprocan, a pandemia também afetou a produção de queijos e, consequentemente, o faturamento da associação. “A pandemia parou tudo, a capacidade de estoque acabou e o capital de giro desapareceu, diminuindo a produção. Depois, aos poucos o comércio começou a voltar, mas não foi suficiente num primeiro momento. Então, começamos a usar o e-commerce e fazer vendas nas redes sociais [Instagram e WhatsApp]. Sem falar que, antes da quarentena, nós tínhamos o turista que fazia ecoturismo e também consumia o nosso queijo”, ressalta.

O presidente da Aprocan disse, ainda, que as expectativas para a retomada são boas e que a associação já se prepara para o cenário pós-pandemia. “Estamos nos preparando para receber os turistas, seguindo as normas de protocolo que foram organizadas pela Secretaria de Saúde do município onde estamos localizados”, enfatiza.

Jaime Milan, da Aprovale, conta que a pandemia não afetou a produção dos vinhos e que o período de distanciamento social até elevou o volume de vendas. “O vinho passou a ser um produto da quarentena. Muitas pesquisas mostram um crescimento muito grande do consumo. Nós temos notado um crescimento grande das vendas nas lojas tradicionais, mas principalmente no e-commerce. Por outro lado, a comercialização dos vinhos, para muitos, acontece no próprio Vale dos Vinhedos, por meio do enoturismo, mas temos notado agora uma retomada de pequenos números de visitantes”, detalha.

Conforme o consultor técnico, a associação também está se preparando para as recomendações dos protocolos de segurança do pós-pandemia. “Foi criado um protocolo que estabelece uma porção de exigências que estão de acordo com as normas que as autoridades estabelecem com relação ao novo Coronavírus, como a obrigação do uso de máscaras e álcool em geral ao longo da visitação na vinícola. Isso foi importante para dar credibilidade ao local e continuar atraindo turistas”, expõe.