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A perda de um irmão-pai

04/05/2020
A perda de um irmão-pai

Tive com o meu irmão Odilon uma relação de mais absoluta intimidade. Isso por toda a vida. Agora que ele se foi, aos 94 anos de idade, vítima dessa diabólica pandemia, recordo passagens da nossa vida em comum. Era um irmão muito querido, um segundo pai, sempre pronto a nos socorrer e dar belos exemplos da melhor educação que reservava para mim e a minha irmã Rachel, que igualmente deve muito a ele, na sua sólida formação.

Odilon sempre trabalhou e fez uma bonita carreira no Banco do Brasil. Assim, pôde socorrer, inúmeras vezes, toda a sua família, especialmente a nossa mãe Fany, nas ausências (por motivo de viagem) do meu pai Marcos. Graças a ele tivemos desde cedo uma providencial assistência médica do Banco do Brasil. Como arrimo de família, tinha esse direito.

Ele foi o mais constante dos irmãos a me levar pela mão ao interior do Instituto de Educação, minha primeira escola, para ter aulas com a professora Paulina Dain Buchman, depois amada sogra. Ela sempre lembrava das idas dele à escola da rua Mariz e Barros, com essa doce incumbência.

Foi também o primeiro a comprar cadernos de caligrafia, para aperfeiçoar a minha letra. Quando ele chegava do trabalho, não gostava de me ver na rua, no bairro de Riachuelo, jogando bola. Era enérgico e me puxava, às vezes pela orelha, para fazer os deveres de casa. Era a sua maneira de exercer o papel de educador.

Em casa, principalmente na Tijuca, me dava como tarefa organizar a sua biblioteca. Tinha que separar os seus incontáveis livros por assunto (História, Sociologia, Política etc) e elaborar os respectivos fichários. Quem sabe, aí nasceu o meu amor pelos livros e particularmente pela educação?

Odilon era muito carinhoso e sempre tratou nossa mãe como se fosse uma rainha. Aliás, o mesmo tratamento que dispensou à sua amada esposa Celina, às filhas Paloma, Clarice e Joice e aos netos Vítor e Davi. Nos seus últimos anos de vida teve a merecida retribuição deles todos. Além disso, como advogado brilhante, ganhou o respeito devido da sua classe. Odilon partiu, mas deixa saudades (muitas).