Variedades

Pitanga em família

16/02/2020

Camila Pitanga está paulistana. A atriz mudou para a capital, temporariamente. Com ela, vieram a filha Antônia, os bichinhos e a namorada Beatriz Coelho. Mas o novo estilo urbano da atriz carioca não durou muito. Quando chegou ao Teatro Cacilda Becker, na região da Lapa, cumprimentou o repórter com um beijo a mais. “Ficou faltando um”, brinca.

A temporada na cidade tem bons motivos. Estreou na sexta, 14, o espetáculo Por Que Não Vivemos? Ao lado da companhia brasileira, a atriz vai compartilhar com a plateia a versão do diretor Marcio Abreu para a peça Platonov, de Chekhov, em sessões de quase três horas de duração. Para Camila, o texto do autor russo publicado em 1923 tem tudo a ver com o Brasil. “As personagens são confrontadas com a própria insatisfação. A realidade não pode ser mais escondida. Está tudo às vistas.”

Não é de hoje que a atriz se mantém interessada em trabalhos que possam compartilhar algum tipo de reflexão sobre o Brasil, com o público brasileiro. De algum modo, não deixa de repisar as pegadas de seu pai, Antonio Pitanga. O ator de 80 anos também está por estas bandas. Ao lado do filho, Rocco, Pitanga-pai está em cartaz com a peça Embarque Imediato, um percurso cênico sobre identidade e herança, com dramaturgia de Aldri Anunciação. “Meu pai me contou que só este ano ele já fez participações em cinco filmes”, conta a atriz sem esconder surpresa. “É claro que com o tempo e a idade, o trabalho para alguns artistas começa a rarear. Ele segue e eu fico sempre comovida.”

Camila também está no palco de Embarque Imediato, ao menos de maneira virtual. Na peça, dirigida por Márcio Meirelles, dois homens se conhecem numa sala especial de um aeroporto. O jovem é um pesquisador que seguirá para a Alemanha e o outro, um africano misterioso. No palco, Camila empresta a voz e rosto para conduzir a rotina de avisos de embarques e decolagens. Juntos, os atores vão percorrer questões sensíveis sobre identidade africana que, diferentemente de uma cultura europeia, construída nos livros, tem força na oralidade. “O texto do Aldri e a presença do meu pai e do meu irmão em cena ampliam o entendimento sobre nossas origens. Não é difícil imaginar que somos todos do mesmo quilombo”, afirma a atriz.

Essa inquietação por entender a si olhando o mundo também se mostra no interesse da atriz pelo cinema. O olhar atento com que dirigiu o documentário Pitanga, com Beto Brant, não perde de vista os expoentes do cinema mundial. Do Oscar, ela conta que viu e adorou Parasita, o grande vencedor da premiação com quatro estatuetas para o filme do sul-coreano Bong Joon-ho. Para Camila, é muito mais que uma produção de última hora. “Ele não veio do nada. Para que Parasita pudesse brilhar, o país entendeu que cultura é investimento, não acessório.” Nessa esteira ela também aponta para a produção nacional, como Bacurau, de Kleber Mendonça Filho, e A Vida Invisível, de Karim Aïnouz, ambos premiados no circuito europeu. “Quando vemos os elencos de Kleber e Karim nos tapetes vermelhos, nos sentimos ali, vistos por todo mundo.”

Mas antes que se possa sacudir o mundo, essa inquietação precisa surgir no interior, ela acredita. É o tipo de movimento que Chekhov engendra para Anna Petrovna, personagem de Camila em Por Que Não Vivemos? A mulher tem sua vida sacudida pelo professor Platonov. “Nenhum deles é especial ou virtuoso. Anna afirma que ser lúcida é uma coisa difícil, porque sempre é mais simples viver alienado.”

Bem diferente de Anna é seu papel na série Aruanas, da Globoplay, que deve iniciar as gravações ainda no primeiro semestre. A trama que escancarou a atuação criminosa na Amazônia deixa a região desmatada da primeira temporada para debater um conflito mais urbano. “Agora será sobre a indústria do petróleo, inspirada na MP do Trilhão, sobre a isenção que beneficiou petroleiras.”

E o discurso da atriz afinado com este tempo só amplia a beleza de Camila. No fim do ano, ela gravou a nova temporada do programa Superbonita, no canal GNT, em que fala de maquiagem, cabelo, com mulheres de todas as cores. Ao vivo, Camila é um desbunde para os olhos e para a mente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Leandro Nunes
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