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Réveillon

05/01/2020
Réveillon

Palavra francesa, festa de virada do ano com baile e ceia. Em Maceió a festa fica por conta da Prefeitura e alguns hotéis na orla da Ponta Verde, com muitos fogos bonitos soltados à meia-noite.

Nos anos dourados, anos 60, o destaque da passagem de ano era o Réveillon do Clube Fênix Alagoana. Baile chique, a fina flor da burguesia, homens vestidos de smokings pretos, gravata borboleta, faixa na cintura e as maravilhosas mulheres em vestidos de bailes longos cintilantes.

O baile era no salão nobre do clube onde se divertia a juventude bonita. Ao chegar, os abraços de ano novo eram distribuídos em momentos de alegria, beijos, chapeuzinho e apito. Hora de rever amigos que estudavam ou trabalhavam fora da cidade.

Maior animação com as melhores orquestras do Brasil, Tabajara de Severino Araújo ou Casino de Sevilha.  Festa chique, muito charme, champanhe e comidinhas. Eu passava nas mesas, dava a primeira volta cumprimentando os amigos e o uísque, Benedito Bentes, Teotônio Vilela, Jorge Quintela, Ardel Jucá, foliões constantes de ano novo. Lá para as duas horas da manhã, anunciavam a rainha da Fênix. As jovens desfilavam informalmente, como se nada quisessem, eram candidatíssimas ao cetro de rainha.

Os metais sinfônicos tocavam belas músicas, casais e namorados dançando de rosto colado no salão. De repente uma batida de bumbo, duas, três, anunciando o carnaval. A moçada e as senhoras de belos vestidos longos e cintados, os homens de smokings caíam no passo, cantando com alegria as marchinhas de Capiba.

“ Mandei fazer um buquê para minha amada, mas sendo ele de bonina disfarçada…o brilho da estrela matutina…adeus menina linda flor da madrugada….”

Iniciava o ano novo com um animado carnaval. Nada mais alegre, mais feliz. Amigos de braços dados terminavam o réveillon amanhecendo o dia cantando e dançando à sombra das amendoeiras da Avenida da Paz, com direito a mergulho de roupa no mar calmo de uma luminosa manhã. Surgia um novo ano.

Namorados ainda bêbados, alegres, com o paletó do smoking aberto, o vestido tão caprichosamente costurado durante meses, arrastavam-se nas calçadas da Avenida. Algumas mergulhavam para saudar Iemanjá e o Deus Netuno. Era assim o réveillon dos anos dourados, da gente dourada, um carnaval antecipado para entrar o ano novo com muita alegria e esperanças.

No dia 1º de janeiro acordava tarde, vestia um velho calção de banho, descia à praia da Avenida. Nas rodinhas de papo, de paquera, o assunto era o réveillon, quem namorou, como tinha sido o maravilhoso baile da Fênix.

Um mergulho com a namorada no mar tranquilo, alguns abraços marítimos fechava a manhã. As meninas iam para casa descansar, enquanto nós, jovens sadios, com força e vigor, continuávamos o primeiro dia do ano tomando uma cachacinha nos bares da praia em Jaraguá, perto dos trapiches. Ao anoitecer subíamos as escadas dos casarões de Jaraguá para desejar um feliz ano novo para todas, boas entradas.

Sempre inventavam histórias fantásticas no ano novo. Algum gaiato inventou que os negros, homens e mulheres, iam virar macacos durante a passagem de ano de 1959 para 1960.  Foi uma brincadeira de mal gosto de um astrólogo no Sul do país que se espalhou por todo o Brasil. Aqui em Maceió a onda corria, como brincadeira. Um jovem, companheiro de praia, negro que nem um tição, analfabeto, melhor jogador de futebol da turma, me confidenciou que estava com medo da chegada do dia 31 de dezembro. Eu esclareci que tudo não passava de uma brincadeira de péssimo gosto.

Nelson Ferreira, compositor pernambucano pegou essa notícia esdrúxula e compôs um frevo, muito tocado naquele carnaval, dizia mais ou menos assim:

Dizem que em sessenta… negro vai virar macaco… vejam só a grande confusão…”

Terminava a música se lastimando que o Brasil ia perder Pelé e Didi. Hoje seria inconcebível esse tipo de brincadeira, certamente Nelson Ferreira seria crucificado.

Assim eram nossos réveillons, cheios de charmes e histórias fantásticas. Um excelente 2020 para todos.