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Com recordes, Cachorrão aposta em treino de altitude para brilhar em Tóquio

18/01/2020

Foram 11 recordes sul-americanos nos últimos dois anos. Três deles somente em dezembro. Com este currículo e os seus 21 anos de idade, o carioca Guilherme Costa se tornou o nome do momento da natação brasileira e forte aposta para as provas de 400m, 800m e 1.500 metros na Olimpíada de Tóquio.

Cachorrão, como é mais conhecido pelos amigos e colegas, despontou de vez no mês passado. Ao obter os novos recordes sul-americanos nas provas de fundos, durante o US Open, em Atlanta, nadou abaixo do índice olímpico. Nos 800m, que estreará no programa dos Jogos neste ano, o brasileiro completou sete segundos abaixo da marca de corte para entrar na tradicional competição (anotou 7min47s37; o índice é de 7min54s31).

No 1.500m, foram cinco segundos a menos (14min55s49 e 15min00s99). Nos 400m, a diferença foi pequena (3min46s57 e 3min46s78), mas deve aumentar nos próximos meses, se depender da disposição de Cachorrão. Como comparação, os tempos obtidos pelo nadador o colocariam em duas finais (1.500m e 800m) no último Mundial de Esportes Aquáticos, por exemplo.

“Antes de bater o primeiro recorde, eu já me sentia preparado há algum tempo para fazer a marca. E, quando eu fiz, sabia que poderia melhorando aos poucos o recorde. Eu já vinha treinando forte para quebrar a marca, sabia que tinha espaço para ir batendo mais”, disse o nadador, ao Estado.

Cachorrão treina desde os 11 anos, sempre com o técnico Rogério Karfunkelstein. Mas só passou a encarar as piscinas como local de trabalho há cinco anos. “Eu tinha uns 16 para 17 anos quando comecei a levar mais a sério a natação. Passei a me destacar mais e comecei a pensar que isso poderia se tornar uma profissão.”

Aos 21 anos, ele já faz parte da história da natação nacional. Esta é apenas a segunda vez que um brasileiro detém ao mesmo tempo os recordes sul-americanos das três provas de fundo da natação. O primeiro foi o paulista Djan Madruga, dominante entre as décadas de 70 e 90.

Com rápida evolução, Cachorrão garante que seu maior segredo é a dedicação. “Meu trabalho não mudou muito desde que eu competia no juvenil. É mais ou menos parecido. Acho que amadureci mais e transformei em resultados, na competição, o que eu vinha fazendo nos treinos.”

Contudo, ele não esconde que sua maior aposta no momento é o treino em altitude. Ele atribui os novos recordes, ao menos em parte, ao trabalho realizado na cidade norte-americana de Flagstaff, a 2.106 metros do nível do mar, onde treinou por três semanas em novembro, antes de competir em Atlanta.

“Nunca tinha feito antes. Até demorei para começar, outros nadadores já fazem isso há mais tempo. Vou fazer de novo agora em março, na Itália, em Livigno (1.816 metros). Vão ser 21 dias de treino na altitude”, revela o nadador. O novo esforço acima do nível do mar tem motivo: o Troféu Brasil (antigo Maria Lenk), em abril, será a seletiva brasileira para a Olimpíada.

“O foco agora é o Maria Lenk. Não adianta nada ter feito os índices antes e não fazer agora. Quero nadar o mais rápido possível para estar mais perto dos melhores do mundo quando chegar na Olimpíada”, projeta.

Enquanto o Troféu Brasil não chega, Cachorrão intensifica os trabalhos justamente no Parque Aquático que leva o nome da famosa nadadora, no Rio. Vinculado ao Minas Tênis Clube desde o ano passado (antes defendia o Pinheiros), ele treina de segunda a sábado. São seis horas por dia na piscina, fora o trabalho de preparação física. Ao mesmo tempo, cursa administração à distância, já pensando no futuro.

Os treinos, contudo, são a prioridade. O nadador não quer repetir o que aconteceu na seletiva olímpica para os Jogos do Rio-2016. Na época, ainda adolescente, perdeu a vaga por pouco, principalmente devido à pouca experiência.

“Tinha ficado em terceiro na seletiva. Fiquei um pouco decepcionado. Achava que podia pegar a vaga, mas não entrei pensando tanto nisso. Se eu tivesse focado um pouquinho mais… Era muito novo. Tanto que um mês depois da Olimpíada, logo na minha primeira prova depois dos Jogos, eu fiz o índice e o melhor tempo do Brasil”, recorda.

APELIDO – O tímido atleta, de fala tranquila e poucas palavras, passou a ser chamado de Cachorrão pelos mais próximos aos 13 anos. O apelido, sem relação com nenhuma “cachorrada”, tem história mais prosaica.

“Eu estava jogando futebol na praia com uns amigos e a bola caiu perto de um cachorro. Fui buscar e ele acabou me mordendo. Quando voltamos para o mesmo local, no dia seguinte, o cachorro não estava mais lá. E o pessoal começou a me zoar, dizendo que o cachorro tinha morrido depois de me morder. E aí começou o apelido”, conta o nadador, entre risos.

Autor: Felipe Rosa Mendes
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