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A Coroa Poderosa

19/01/2020
A Coroa Poderosa

Gerson é um homão, trinta e poucos anos, mais de 1,80 metros de altura, corpo de atleta, cara bonita. Xodó das meninas no tempo de solteiro. Hoje advogado brilhante, ambicioso, atuante.

Ao contrário de muitos especialistas defensores de que a beleza feminina está no auge entre 17 e 22 anos, Gerson assegurava que o auge da beleza feminina está na maturidade. Uma mulher de quarenta, cinqüenta, sessenta anos, sabe o que o homem gosta; é bela em  sua elegância, em saber o que deseja.

Meses atrás, Gerson freqüentava um curso de pós-graduação com alguns colegas advogados, promotores, juízes, inclusive uma advogada, cinquenta e poucos anos, senhora letrada, inteligente, de um bom humor notável. Ele teve uma empatia instantânea com essa madame, viúva, bela e gostosa.

Dora, três casamentos além de casos amorosos. O mais rumoroso, por certo, com um governador do Estado. Teve também um discreto caso com uma artista da rede Globo, que se apaixonou, passava fim de semana em Maceió, para estar com esse belo espécime de mulher.

Dora foi muito poderosa nos bastidores da política. Nas brigas do poder ela metia a mão de ferro, elegantemente, protegendo seus partidários no emaranhado da corte. Seja no poder Executivo, Judiciário ou Legislativo, durante o mandato de seu amante governador, ela foi ouvida, teve poder de decisão. Esse poder não conquistou à-toa, foi pela inteligência, firmeza e posições tomadas, principalmente na cama.

A coroa tem ânsia de viver. O mais de meio século não deixou marcas na jovem alma. Mulher alegre, corpo bem cuidado, bem moldado; teve ajuda, certamente, das academias de ginástica e cirurgiões plásticos.

Mulher de muita leitura, gosta de fazer cursos, atualizar-se, aprender. Gerson e Dora frequentaram o mesmo curso durante três meses. Todas as noites estudavam juntos, gostavam da companhia recíproca. Ele a via como uma irmã mais velha, mas havia atração, apreciava os decotes ousados dos vestidos de nossa musa.

Certa noite foram, terminar um trabalho em grupo no espaçoso apartamento de Dora na praia de Ponta Verde. Mais de duas horas de discussão numa mesa circular, deixaram a conclusão do trabalho para outro dia. Dora ofereceu um gostoso lanche: moqueca de siri mole, regado a vinho branco e uísque. Foi o ponto alto da noite. O grupo se divertiu até tarde, ouvindo boa música, papo alegre, inteligente. Gerson dedilhando um violão, cantou: “Dora, rainha do frevo e do maracatu…”. Recebeu um beijo lambido no ouvido.

Foi sugerido continuar  os trabalhos no sábado, no mesmo local.

Sábado pela manhã, Dora foi ao mercado comprou camarão e arabaiana, o prato da noite, filé de peixe ao molho de camarão. Ligou para todos os componentes do grupo, se desculpando, pedindo adiar o trabalho para terça-feira. Só não telefonou para Gerson.

Quando ele, carregando livros e papéis embaixo do braço, pontualmente tocou a campanhia, Dora abriu a porta do apartamento, com um largo sorriso deu boa-noite, estava maravilhosa de vestido azul colado ao corpo. Gerson estranhou quando sua amiga falou no trabalho adiado. Convidou-o para entrar, seria uma companhia agradável se ficasse para jantar.

Sentaram-se na varanda com vista à praia iluminada por uma azulada lua bonita refletida no mar e nas palhas dos coqueiros. O uísque rolou, bons tira-gostos, até Dora servir o peixe com camarão.

Ao voltar para a varanda, colocou uma música suave, americana, iniciava assim: “Heaven I’am heaven…”, isso é, “Paraíso, estou no paraíso”.Gerson deu-lhe a mão, saíram dançando, escorregando pela sala, ele cantava a canção em seu ouvido, puxava seu corpo com vigor, iniciaram uma seção de carinho e alisado, até ela sussurrar, pediu para ser levada ao quarto. Num impulso, colocou-a nos braços como se fossem recém-casados, empurrou a porta, entrou no quarto, soltando-a ternamente na cama. O resto é silêncio, como diria Shakespeare.

Depois dessa noitada de muito amor, os dois continuam se encontrando secretamente no mínimo duas vezes por semana, para uma seção de matinê na suíte presidencial do belo apartamento.