Variedades

Lolla: Tribalistas driblam falhas de som e juntam tribos em Interlagos

05/04/2019

Os Tribalistas chegaram como uma incógnita a um festival de identidade indie tão bem definida. Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Marisa Monte, a princípio, estariam distante da proposta eletro rock que traz a maioria das atrações. Por isso, o que aconteceria no palco e na plateia criava expectativa.

O trio lançou um primeiro disco há mais de 15 anos e jamais havia saído em turnê. Seus integrantes fizeram charme, se esconderam de entrevistas e deram a entender que o projeto era um ato isolado em suas carreiras. Depois de um segundo álbum elogiado e com o qual lotaram estádios em 2018, lá estavam eles, tocando para dois públicos. Os fãs de 2002 e os filhos desses fãs.

Interlagos anoiteceu no exato momento em que eles subiram ao palco Bud. E como se tivessem que se apresentar a uma nova audiência, abriram com Tribalistas, a música, um certo tocar de trombetas para si mesmos.

O som falhava, algo parecia estar sendo ajustado, algumas dessas falhas digitais que picotam o som. A plateia já estava envolvida na segunda canção, Carnavália. Quando a terceira música começou, o som desandou. Sumiu totalmente e depois voltou irregular, alto demais, com alguns gritos de plateia que pareciam gravados em um estádio, já que não existiam antes de o som sumir.

O flagrante do playback da plateia gritando é um desconforto. Então, os gritos que saem nas caixas não são todos reais? A plateia, formada por jovens de 18, 20, 25 anos parecia ter carinho suficiente.

O show menor que da turnê, para caber no tempo mais enxuto de um festival, seguiu com músicas do segundo disco. Fora da Memória é cheia de sutilezas percussivas de Brown. A postura declamatória de Arnaldo Antunes em muitas músicas, é muito reforçada em Diáspora. Arnaldo falou que era aquele o último show da turnê. Carlinhos agradeceu ao público pelos 16 anos de apoio e Marisa também. Um a Um veio linda, mesmo com o solo felino de gaita de Carlinhos Brown. E depois, Velha Infância, com o som melhor equalizado, trouxe uma euforia real.

A canção É Você é doce, suave e faz pensar na relutância dos três em manter frequente o projeto. Arnaldo, Marisa e Carlinhos não parecem querer atender a uma demanda por Tribalistas que viria inevitavelmente. Juntos, unem três tribos (a música brasileira delicada de Marisa, a Bahia festiva de Brown e o pensamento roqueiro paulistano de Arnaldo) que fizeram surgir um outro som. Não será a razão de suas vidas porque eles não querem que isso aconteça, mesmo quando a fera tenta engolir seus criadores.

Autor: Julio Maria
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