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A destruição do patrimônio fluminense

17/09/2018
A  destruição do patrimônio fluminense

Ainda estamos chocados com o incêndio que destruiu o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. Mesmo que nem todos os seus bens tenham sido devorados pelo fogo, ainda há questões a serem apuradas em benefício dos esclarecimentos necessários. Por exemplo, por que o Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro recusou a oferta de 80 milhões de dólares através do BID para recuperar o Museu antes do incêndio? A desculpa parece extremamente esfarrapada: a UFRJ teria de abrir mão do comando da entidade e perderia, assim, o seu controle. Aliás, quando se estranha que o Canecão está há sete anos em petição de miséria, podendo também pegar fogo, a desculpa é a mesma: não se pode ceder o seu comando a terceiros, como se isso fosse  na verdade um crime. O excesso de politização das universidades públicas dá isso como consequência. Não fazem (porque não têm dinheiro) nem deixam fazer.

Nessas condições, é um verdadeiro milagre que não tenham havido outros incêndios pavorosos em prédios públicos. As razões são verdadeiramente pueris.

O fenômeno não ocorre apenas no âmbito da UFRJ, onde, aliás, já houve outra meia dúzia de incêndios. Podemos exemplificar com o fogo no Teatro Villa-Lobos, do governo do Estado. Já se passou um bom tempo sem que providências fossem tomadas (e o Teatro fechado). É a mesma coisa que vitima o Canecão, fechado há sete anos, depois de memoráveis temporadas de música popular brasileira, como as do Erasmo e Roberto Carlos. Podemos prescindir desses shows? Tudo isso com a convicção de que o Rio é a capital cultural do país e dispõe ainda dos melhores equipamentos de shows e exposições, mas acho que tem alguma coisa emperrada no sistema.

Na discussão das causas do incêndio do Museu Nacional, surgiu um dado importante: de todos os recursos transferidos à UFRJ nada menos de 87% são destinados ao pagamento de pessoas. Sobra muito pouco para a aquisição de equipamentos de proteção dos bens a serem expostos. A equação não fecha adequadamente e a ameaça de acidentes lamentáveis são irrecorríveis.

É claro que tais acidentes colocam em risco a nossa credibilidade e a capacidade de lidar de forma competente com esses fenômenos. Agora mesmo, no auge da tragédia que se abateu sobre a nossa cultura, estamos sabendo que algumas organizações internacionais ofereceram para repor peças que serviriam para enriquecer o nosso acervo, mas os obstáculos são sempre os mesmos: a burocracia impede que isso se faça de modo natural. Ao contrário, decisões internas dos órgãos colegiados das universidades impedem que esse comando seja dividido com entidades internacionais. Parece que há mesmo uma preferência pelo risco de perda total do que criar uma parceria inteligente que viabilize o comando correto do empreendimento. Temos que repensar nisso tudo!