Política

“Chapa da discórdia” não consegue superar contradições, traições e inveja

20/08/2018
“Chapa da discórdia” não consegue superar contradições, traições e inveja
Grupo reúne Biu, que não gosta de Kelmann, que não gosta de Rodrigo Cunha, que não gosta de Collor, que não gosta de ninguém

Grupo reúne Biu, que não gosta de Kelmann, que não gosta de Rodrigo Cunha, que não gosta de Collor, que não gosta de ninguém

Traições, incertezas, inimizade, inveja e interesses pessoais obscuros. Com esses ingredientes e de forma improvisada, foi moldada a chapa encabeçada pelo senador Fernando Collor de Mello (PTC) para as eleições de 2018. O caldeirão da bruxa inclui mágoas e ressentimentos que datam de eleições longínquas e também aqueles bem recentes, surgidos durante mandatos ainda em curso.

Poucos dias antes da confluência de energias negativas que resultou na formação da chapa, as contradições eram claras. O presidente da Câmara Municipal de Maceió, Kelmann Vieira (PSDB), anunciou com todas as letras seu apoio à reeleição do governador Renan Filho (MDB) e seu voto em Renan Calheiros (MDB) e Maurício Quintella (PR) para o Senado. “Garanto que trabalharei contra Benedito de Lira”, afirmou ao jornal Tribuna Independente no dia 10 de julho, reforçando que não votaria no senador “nem amarrado”.

O ressentimento do presidente da Câmara contra o candidato à reeleição no Senado pelo PP foi provocado pela articulação de Biu e do vice-prefeito de Maceió, Marcelo Palmeira (PP), para impedir a escolha de Kelmann para a disputa pelo Governo como cabeça da chapa de oposição. O partido de Kelmann, o PSDB, cogitava o lançamento da candidatura do também vereador Eduardo Canuto para o Governo – cujo material de campanha até já havia sido produzido em Pernambuco.

Na surdina, Kelmann e o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, costuraram a “aliança” com Collor na véspera do encerramento do prazo para realização das convenções partidárias. Sem perspectiva de vitória, Collor aceitou o convite para satisfazer sua vaidade e viabilizar as candidaturas de Benedito e Rodrigo Cunha (PSDB) ao Senado. Não ficaram claros – e talvez nunca fiquem – quais os outros “argumentos” usados para convencer Collor a se candidatar, mas, com a rasteira em Canuto, Kelmann foi indicado para ser o vice na chapa. Traição no tucanato maceioense.

Vale lembrar que o presidente da Câmara de Maceió iniciou sua trajetória política pelas mãos do deputado estadual e ex-prefeito de Matriz de Camaragibe Cícero Cavalcante, seu sogro e aliado histórico dos Calheiros. Sua esposa, Flávia Cavalcante, é filiada ao MDB de Renan e disputa uma vaga na Assembleia Legislativa pela chapa governista.

O acordo com Collor deixou Rodrigo Cunha – entre outros dirigentes do PSDB – constrangido. Em seu delírio de grandeza, o deputado estadual entra na disputa pelo Senado pautado no combate à corrupção e na transparência.

Ao lado dele, porém, unidos pela conveniência, estão Benedito de Lira e Fernando Collor, notórios por denúncias de lavagem de dinheiro, corrupção passiva e formação de quadrilha. A todo custo, foge de eventos políticos e reuniões onde possa ser fotografado ao lado de seus companheiros de chapa. Faz uma campanha solitária, baseada em um mandato de mais palavras que ações e na eterna vitimização pelo assassinato da mãe, Ceci Cunha, na década de 90, cujos responsáveis já foram julgados e condenados.

Todos juntos, Collor, Kelmann, Biu e Cunha formam um grupo desarticulado e, no mínimo incoerente. Para o eleitor alagoano, fica cada vez mais complicado vislumbrar a possibilidade de um governo coeso em uma eventual e remota possibilidade de eleição de Collor, que dificilmente contaria com uma maioria no Legislativo estadual nem na bancada federal.

Mas outubro é o mês das bruxas e talvez seja nisso que todos estejam confiando.

* matéria reproduzida do Jornal Tribuna do Sertão. (leia mais na edição impressa)