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Homenageado da Fenearte, artesão Antônio de Dedé deixa legado de criatividade e talento

15/07/2017
Homenageado da Fenearte, artesão Antônio de Dedé deixa legado de criatividade e talento
“Meu pai já nasceu mestre. Mesmo sem ser divulgado, ele já era mestre”, diz filho artista. Ascom Sedetur

“Meu pai já nasceu mestre. Mesmo sem ser divulgado, ele já era mestre”, diz filho artista. Ascom Sedetur

O mundo ainda não conhecia Antônio de Dedé, artesão do município de Lagoa da Canoa- região do Agreste de Alagoas- quando seu filho, Adeilton Rodrigues, mais conhecido como Adeilton de Dedé, já tinha certeza do talento, beleza e originalidade que carregava cada peça produzida despretensiosamente pelo artesão: “Meu pai já nasceu mestre. Mesmo sem ser divulgado, ele já era mestre”.

A afirmação orgulhosa, e agora carregada de saudade, explica a emoção de Adeilton em representar o pai no momento de reconhecimento à produção artesanal e trajetória de vida de Antônio de Dedé, que faleceu no dia 16 de junho e está sendo homenageado no Espaço Interferência Janete Costa durante a 18ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte).

A escolha das peças para compor o espaço e a homenagem ao artesão que tem como tipologia a madeira já havia sido decidida antes de sua morte, e é justificada na admiração de Roberta Borsoi, arquiteta responsável pela curadoria do espaço e filha de Janete Costa, pela produção artesanal alagoana.

“Alagoas é um celeiro muito rico de artesanato e sempre em transformação. A gente admira o trabalho desse lugar, está sempre prestigiando e indo até as oficinas dos artesãos. Ano passado tivemos peças dos Mestres André da Marinheira, Zezinho, Mestra Sil e Irinéia compondo o espaço, e nesta edição homenageamos Antônio de Dedé. Esse é um momento de agradecer aos artesãos por nos presentear com tanto talento”, explicou Roberta Borsoi.

Pensado, inicialmente, pela arquiteta pernambucana e pesquisadora da cultura popular brasileira, Janete Costa, o ambiente acontece há 17 anos na Fenearte e seleciona os destaques do artesanato do país para decorar os ambientes, estabelecendo o diálogo entre o design contemporâneo e a arte popular.

Além da exposição e comercialização das peças, durante toda a programação da feira o espaço promove a realização de palestras e mesas de discussão com temas relevantes para o segmento.

De pai para filho

Seguindo o ofício do pai e vivendo do artesanato há sete anos, Adeilton, de 39 anos, é um dos nove filhos de Antônio de Dedé que deram continuidade ao trabalho artístico passado de geração em geração. Aliado à agricultura, o tempo livre de Adeilton sempre foi dedicado aos brinquedos de madeira. Pinhão, carrinho e bonecos estavam entre as produções preferidas.

De acordo com Adeilton, o dom que teve o pai como precursor está no sangue da família. Todos os nove filhos de Antônio de Dedé são artesãos.

“Existe a tristeza no meu peito porque ele morreu. Mas no momento eu me encontro muito feliz. É hora de alegria por relembrar o começo de tudo. De quando ele já ensinava a gente a fazer brinquedo. E por ter a oportunidade de estar nesse espaço, nessa feira tão bonita que é a Fenearte. É a primeira vez que eu venho e já receber essa homenagem não tem preço”, afirma, emocionado, Adeilton.

Apesar de ter tido um grande mestre como professor, se engana quem acha que “o fazer à mão” dele são reproduções. Depois de aprender a técnica com o pai, o artesão procurou produzir suas peças em outra oficina, distante do trabalho de Antônio de Dedé e afim de alcançar uma identidade própria.

Conseguiu. A artista visual, colecionadora e proprietária da Galeria Karandash, Maria Amélia Vieira, ressalta que existe algo muito peculiar na produção de Adeilton e dos outros filhos do artista.

“O que me interessa no artesanato são as características autorais. As peças únicas e afinadas. Dessa forma, o autor da criação é sempre único. Conheci Antônio de Dedé em 2007 e me surpreendi. O trabalho dele é visceral, forte, e os seus filhos seguem com caraterísticas similares, porém buscando uma identidade própria. Dedé deixou uma lacuna na produção artesanal alagoana, mas um legado de artesãos muito peculiares também”, ressaltou Maria Amélia.

Alagoas feita à mão

Além do Espaço Janete Costa, o artesanato de Alagoas compõe outros lugares no evento. No estande do Estado, viabilizado pelo Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) e coordenado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), estão 12 artesãos e mais de 10 tipologias e técnicas artesanais diferentes, além dos artesãos e associações alagoanas que adquiriram seu próprio estande.

Em 2016, a Sedetur, com o apoio da primeira-dama do Estado, Renata Calheiros, desenvolveu o projeto Alagoas Feita à Mão, que tem como objetivo formular ações que promovam o artesanato de forma a contribuir para a geração de renda e melhoria da qualidade de vida do artesão. Dentre as ações realizadas estão a publicação de edital para seleção na participação nas feiras e eventos nacionais; divulgação do catálogo comercial do artesanato alagoano; mapeamento e identificação das oficinas dos artesãos, além da emissão e renovação da carteira do profissional.

Para a gerente de Design e Artesanato da Sedetur, Daniela Vasconcelos, a participação em feiras garante, além da divulgação do trabalho artesanal, grandes oportunidades de comercialização através de vendas diretas e encomendas.

“Nós procuramos pensar a participação dos artesãos em eventos e feiras não só como espaço de divulgação mas, primordialmente, como um ambiente para comercializarem seus produtos, que são, geralmente, a única fonte de renda desses profissionais. Para isso, trabalhamos na criação de uma identidade própria do artesanato alagoano e na forma como ele irá ser apresentado, atribuindo conceitos à configuração visual do estande e potencializando, ainda mais, o alcance de público”, explicou Daniela Vasconcelos

O evento segue até o dia 16 de julho, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda