Geral

Bruxo à solta: Hermeto Pascoal conversa com músicos e recebe homenagens em Arapiraca

09/06/2017
Bruxo à solta: Hermeto Pascoal conversa com músicos e recebe homenagens em Arapiraca
Afrísio Acácio do Acordeon e seus alunos fizeram uma homenagem ao Bruxo (Foto: Breno Airan)

Afrísio Acácio do Acordeon e seus alunos fizeram uma homenagem ao Bruxo (Foto: Breno Airan)

Saído diretamente das calendas da Feira Livre de Arapiraca, o multi-instrumentista e compositor Hermeto Pascoal ganhou, de fato, a liberdade ao longo dos seus 80 anos de idade.

Natural da cidade de Lagoa da Canoa em um tempo que o então povoado era pertencente a Arapiraca, ele voou para longe e bem alto. Hoje é um dos músicos de jazz mais reverenciados de todo o mundo.

Prova disso é ter recebido, no mês passado, o título de “Doutor Honoris Causa” pelo New England Conservatory, nos EUA. Uma honraria sem precedentes.

E após esse diploma de doutoramento, ele mostrou toda a sua humildade retornando à terra onde um dia suas raízes saíram do chão: Arapiraca.

Nesta quarta-feira (7), o “Bruxo” – como é também conhecido, além do apelido de “Campeão” – participou de um bate-papo com músicos, artistas e educadores da região Agreste, em um encontro promovido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc) e realizado na própria sede no bairro Santa Edwiges.

Quando questionado sobre a influência que recebeu de emboladores, cantadores de coco, repentistas, sanfoneiros e poetas populares que viu ainda pequeno na tradicional Feira Livre de Arapiraca, ouvindo os sons do povo, ele apenas disse que “a influência não pode ser procurada”.

O prefeito de Arapiraca prestigiou o encontro do Sesc Arapiraca (Foto: Genival Silva)

O prefeito de Arapiraca prestigiou o encontro do Sesc Arapiraca (Foto: Genival Silva)

“Eu nasci Música. Claro que o que eu ouvi me abriu caminhos, mas minha influência está na vida ao redor, nas coisas do mundo, em Deus, em mim mesmo e na experiência – no sentido de ‘experimentar’. Então, temos que deixar dessa coisa de procurar um direcionamento e beber de tudo”, diz Hermeto.

Ele contou que começou muito cedo na música, tocando com seu irmão Zé Neto e sempre foi curioso. Isso o fez explorar todas as frentes musicais e até o próprio corpo.

“Essa Música que faço, eu a chamo de ‘música universal’. Mas não por ela ser diferente; ela é semelhante. No entanto, a qualidade dela vai de acordo com cada um que a toca e de seu nível de sensibilidade e percepção. A mesma coisa se aplica a quem ouve”, completa o Bruxo, que fez em 1984 uma homenagem à Capital do Agreste com o título de seu renomado álbum “Lagoa da Canoa, Município de Arapiraca”.

Ao final, o mestre Afrísio Acácio subiu no palco com seus alunos de acordeon e deu “uma palhinha” para o Bruxo com a música “Roseira do Norte”, presente no cancioneiro nordestino.

O “homem-som” recebeu uma placa como homenagem por seus serviços culturais e ainda o seu nome no novo teatro.

Acompanhando de perto a solenidade, estava o prefeito Rogério Teófilo que, em sua fala, enfatizou a força que a Cultura tem na vida das pessoas.

“A Arte transforma, educa e liberta. E você, Hermeto, representa tudo isso para os seus filhos sonoros”, pontua. “E o Sesc está de parabéns por mais este teatro em nossa cidade, algo que só engrandece o nosso cenário artístico”.

Também estavam presentes o presidente do Sistema Fecomércio-Sesc-Senac Alagoas, Wilton Malta, e o diretor regional do Sesc Alagoas, Willys de Albuquerque, além de outras autoridades.

No local, houve a inauguração da Galeria de Arte, do Espaço Recreativo, Cultural e Esportivo e, claro, do Teatro Hermeto Pascoal. Aconteceram na oportunidades as apresentações culturais do Palhaço Biribinha, o À La Sax Quarteto e as exposições de Marta Arruda e a “Caminhos”, de Jackson Lima.

Reencontro

Nos corredores do Sesc Arapiraca, ocorreu um reencontro e tanto: Hermeto Pascoal e um dos maiores incentivadores culturais de Arapiraca, Paulo Lourenço da Silva, o “Paulo do Bar”.

Havia 10 anos que eles não se viam em terras arapiraquenses. “Paulinho!”, gritou o espontâneo Hermeto do canto de lá, com suas oito décadas de vida. De cá, prestes a fazer 85 anos de idade, Paulo se impressionou pela memória do amigo.

“Passamos momentos muito bacanas lá no Bar do Paulo, conversando sobre a vida, a arte em geral e nossas andanças. Ele até autografou todos os vinis que possuo dele. Uma figura sensacional. Hermeto, obrigado por existir”, coloca o colecionador de LPs e influenciador de toda uma geração arapiraquense durante a ditadura militar, que colocava músicas proibidas à época para os jovens se libertarem das amarras sociais.

Bastante espirituoso, Pascoal olhou para Paulo e retribuiu com um “E obrigado a você por tudo!”, antes de fãs lhe abordarem para fotos e autógrafos vários.

A jovem Izabella Silva estava sob posse de seus vinis “Hermeto”, de 1978, e “Cérebro Magnético” e saiu muito feliz do Sesc. “Ele assinou os dois LPs e ainda conversou um pouco comigo. É um ser de luz, um brincalhão. Ele emana muita coisa boa, não só sons”, comenta a fã após o papo.

Todos saíram de lá encantados com a certeza de que o agora dr. Hermeto Pascoal é como nós. É a humildade em pessoa. E ressoa.