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Investigadores acusam a polícia brasileira de deixar escapar o suposto assassino de família na Espanha

05/10/2016
Investigadores acusam a polícia brasileira de deixar escapar o suposto assassino de família na Espanha
Imagem tirada do Facebook, de Marcos Nogueira e Janaína Santos Américo, o casal brasileiro esquartejado em Pioz (Guadalajara)

Imagem tirada do Facebook, de Marcos Nogueira e Janaína Santos Américo, o casal brasileiro esquartejado em Pioz (Guadalajara). (Foto: Reprodução)

É uma das poucas vezes que um crime é dado como resolvido sem que o principal suspeito seja preso, e apesar de a polícia de seu país de origem, o Brasil, ter deixado escapar o suposto assassino. “Não temos dúvida de que foi ele, François Patrick Nogueira, o sobrinho das vítimas”, afirmou o comandante Reyes em uma coletiva de imprensa convocada pelos responsáveis pela Guarda Civil espanhola nesta quarta-feira, dia 5 de outubro, em Guadalajara. “Temos numerosos indícios e provas cabais”, acrescentou, sem poder dizer quais, “em função do segredo do sumário sobre uma parte importante da investigação”.

O caso pode estar resolvido, mas o suspeito passeou há alguns dias pelas dependência policiais de sua cidade natal, João Pessoa (capital do estado da Paraíba) e os agentes que tomaram seu depoimento deixaram que saísse por onde tinha entrado.

Foi o que afirmaram ontem os agentes do Instituto Armado, que há 15 dias se dedicam a esclarecer um dos crimes mais truculentos de que se tem notícia na Espanha. Em 18 de setembro passado foram encontrados os corpos do brasileiro de 30 anos Marcos Campos Nogueira e sua mulher Janaína, da mesma idade e nacionalidade – ambos esquartejados – e de seus dois filhos pequenos – de um e quatro anos, degolados. Todos estavam em sacos plásticos lacrados, no chalé recém-alugado da localidade de Pioz (Guadalajara). “Havia a intenção de se desfazer dos corpos e destruir provas”, afirmam os investigadores.

O suposto autor do crime, segundo os investigadores, é o sobrinho de Marcos, François Patrick, de 20 anos, que conviveu quatro meses com a jovem família e que antecipou uma passagem para voltar ao Brasil de Madri no dia 20 de setembro passado, exatamente dois dias depois que os corpos das vítimas foram encontrados. “Em nenhum momento se dirigiu às autoridades, nem espanholas nem brasileiras, para denunciar a morte/desaparição de seus familiares”, afirmam os investigadores.

“Supomos que foi localizado”, afirmaram os responsáveis pela investigação na Espanha, incapazes de responder a pergunta de por que não foi preso. Diante da situação de incerteza, e sabendo que “pessoas de nacionalidade brasileira não são extraditáveis para a Espanha”, a Guarda Civil “vai emitir uma comissão rogatória ao Brasil para poder enviar para lá uma equipe de investigadores” que colabore com seus colegas brasileiros para capturar o principal suspeito do crime brutal. No entanto, os investigadores afirmavam nesta quarta-feira que “três dias depois da descoberta horrível dos corpos já foi possível apontar o principal suspeito ao juiz” e que por isso, em 22 de setembro passado, o Tribunal de Instrução número 1 de Guadalajara apresentava uma ordem internacional de prisão.

Diante das hipóteses iniciais oferecidas pelos investigadores, de que devido às características do quádruplo assassinato tendia-se a pensar em “matadores profissionais” ligados ao narcotráfico, uma linha de investigação se destaca agora acima de todas. Seria o caso de um crime com componentes passionais, “apesar de único”. O possível autor supostamente estava obcecado por sua tia, Janaína. Ela própria teria se queixado de sua atitude a familiares no Brasil durante os quatro meses em que compartilharam do mesmo teto. Mas, diante do caráter violento do garoto – “agrediu de maneira muito grave um professor no Brasil quando menor de idade” – e de seu “perfil psicótico”, a família tinha decidido se distanciar dele. Fugir. Esconder-se em Pioz. Ali o sobrinho os teria encontrado um mês depois e os teria assassinado, de faca na mão e “de maneira sequencial”, um a um.