Artigos

Não maltratem a primavera

30/09/2016
Não maltratem a primavera

Uma senhora, conhecida por dona Bela, estava presente, toda chorosa, à primeira missa celebrada por alguém que era o filho mais jovem. Ocorre que o neo-sacerdote, a despeito de sua piedade, percebeu que sua mãe chorou durante a celebração eucarística.

Terminado o ato religioso, os irmãos do padre e os pais estavam juntos, já na sacristia da igreja. Ocorre que o sacerdote dirige-se à própria mãe, mostrando sua estranheza porque, numa cerimônia religiosa, que era verdadeira alegria, houve tanto choro. E dona Bela diz que estava chorando de alegria. E deu a devida explicação.

Disse ela que, quando estava grávida, teve sérios problemas na saúde e foi ao médico. Este disse que, possivelmente, ela iria morrer, quando desse à luz o seu filho. Para salvar a vida, somente havia uma solução: abortar o nascituro. O filho era você que hoje é padre. Não quis a sua morte.
Também pensei que, com minha morte, ficariam onze filhos órfãos de mãe e quem iria cuidar deles?

E prossegue a narrativa: “Lembro-me que muito rezei, pedindo a proteção de Nossa Senhora e entreguei ao Bom Jesus o filho que ia nascer. E esse filho é você. E você nasceu e eu, milagrosamente, como afirmou o médico, sobrevivi. Por isso seu sacerdócio é também o meu sacerdócio”.

Diante dessa explicação, naquela festa, onde era tudo alegria, todos se abraçaram e todos choraram de emoção por conta do relato daquela que explicou a razão do seu choro.

A piedosa senhora bem que poderia afirmar que a ordenação do filho, que ela não quis abortar, foi para ela uma verdadeira primavera. A propósito, este mês de setembro é o mês que dá início à estação primaveril. Precisamente o início da primavera ocorreu no dia 22 de setembro. Há pais amorosos que chegam a dizer que os filhos são para eles verdadeira primavera. Mas não fica só nos pais. Li, certa vez, um artigo de uma avó, que declarou que os netos são a primavera dos avós.
Casimiro de Abreu, dentre outros versos, deixou o que se segue: A primavera é a estação dos risos, / Deus fita o mundo com celeste afago, / Tremem as folhas e palpita o lago / Da brisa louca aos amorosos frisos. Na primavera tudo é viço e gala, / Trinam as aves a canção de amores, / E doce e bela no tapiz das flores / melhor perfume a violeta exala.

Sendo, pois, os filhos e os netos considerados como primavera na vida dos genitores e avós, chega-se à conclusão de que os seres em formação devem ser criados com amor. Certa vez li um depoimento de um pai adotivo de duas crianças gêmeas, que disse literalmente: “E muito bonito e satisfatório poder chegar em casa e receber aquele afeto dos filhos e ver aquela bagunça gostosa realizada pela traquinagem da criança. Esse sentimento nos faltava e, com a chegada de nossas duas filhas, me sinto realizado e rejuvenescido”.

É doloroso ouvir queixas de crianças de tenra idade que reclamam por terem dor de cabeça. E se constata que isso é proveniente de pancadas que recebem da parte daquelas pessoas que deveriam cuidar com carinho esse seres frágeis e indefesos.

Corrigir as crianças, mister se faz. Com doses cavalares, está errado. Pancadas na cabeça podem até prejudicar o cérebro em formação. Pais e avós, não maltratem a primavera, que são as crianças que estão em suas mãos!