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Cientistas conseguem recuperar memória de ratos com Alzheimer

17/03/2016
Cientistas conseguem recuperar memória de ratos com Alzheimer
Os resultados dão a primeira prova de que a doença de Alzheimer não destrói as memórias, apenas as torna inacessíveis. (Foto: Clinilive)

Os resultados dão a primeira prova de que a doença de Alzheimer não destrói as memórias, apenas as torna inacessíveis. (Foto: Clinilive)

Os doentes de Alzheimer podem não ter perdido suas memórias, mas apenas ter dificuldade em acessá-las, o que abre a porta a possíveis tratamentos para recupera-las. É o que revela um estudo publicado na revista científica Nature.

O estudo, realizado em ratos pelo cientista japonês Susumu Tonegawa, Nobel da Medicina em 1987, mostrou que ao estimular áreas específicas do cérebro com luz azul os cientistas conseguiam que os ratos recuperassem memórias que antes eram inacessíveis.

Os resultados, publicados ontem (16), dão a primeira prova de que a doença de Alzheimer não destrói as memórias, apenas as torna inacessíveis. “Como os humanos e os ratos tendem a ter um princípio comum em termos de memória, as nossas conclusões sugerem que os pacientes com doença de Alzheimer podem, pelo menos nos primeiros tempos, manter as memórias no cérebro, o que significa que existe uma possibilidade de cura”, disse Tonegawa.

Há anos, cientistas questionam se a amnésia provocada por traumatismo craniano, stress ou doenças como Alzheimer resulta de danos em células cerebrais específicas, o que tornaria impossível recuperar as memórias, ou se o problema é o acesso a essas memórias.

Experimento

Para tentar comprovar a segunda hipótese, Tonegawa e colegas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, usaram ratos que tinham sido geneticamente modificados para exibir sintomas semelhantes aos dos doentes de Alzheimer, uma doença degenerativa do cérebro que afeta milhões de adultos em todo o mundo.

Os animais foram colocados em uma caixa que tinha uma corrente elétrica baixa no chão, provocando uma sensação desagradável, mas não perigosa, de choque elétrico nos pés.

Um rato não afetado que seja colocado novamente na mesma caixa 24 horas depois fica paralisado de medo, antecipando a mesma sensação desagradável, mas os ratos com Alzheimer não mostraram qualquer reação, sugerindo que não têm memória da experiência.

Quando os cientistas estimularam zonas específicas do cérebro dos animais – as “células de engramas” associadas à memória – usando uma luz azul, os ratos aparentemente relembraram-se do choque.

Além disso, ao examinar a estrutura física dos cérebros dos ratos, os investigadores constataram que os doentes tinham menos sinapses (ligações entre neurônios). Através da estimulação luminosa repetida, os cientistas conseguiram aumentar o número de sinapses até níveis comparáveis aos dos ratos saudáveis.

Em certo ponto, deixou de ser necessário estimulá-los artificialmente para provocar a reação de medo diante da caixa. “As memórias dos ratos foram recuperadas através de um meio natural”, disse Tonegawa. Isto significa “que os sintomas da doença de Alzheimer desapareceram”, acrescentou o neurocientista.

Resultado

“É uma boa notícia para os pacientes”, disse o Nobel da Medicina que, no entanto, se mostrou prudente: “No futuro, a doença poderá ser tratada, se estiver em um estágio precoce, e desde que se desenvolva uma nova tecnologia que cumpra os requisitos éticos e de segurança”.

Os investigadores estimam que a técnica só funcione durante alguns meses nos ratos, ou durante dois ou três anos nos humanos, até a doença avançar de tal maneira que elimine os ganhos.

A Organização Mundial de Saúde estima em 47,5 milhões o número de pessoas no mundo afetadas por demências, 60% a 70% das quais pela doença de Alzheimer, que por enquanto não tem cura.

O alzheimer é o tipo mais comum de demência, que é a perda ou redução progressiva das capacidades cognitivas – ou seja, do processo que envolve atenção, percepção, memória, raciocínio  e linguagem, entre outros. Essa perda ou redução pode ser parcial ou completa, permanente ou momentânea. De qualquer forma, ela pode comprometer essas capacidades cognitivas a pondo de provocar a perda de autonomia da pessoa.

O alzheimer é uma doença neurodegenerativa, ou seja, que destrói os neurônios progressivamente. O começo das alterações é lento e os primeiros sinais geralmente são confundidos com o próprio envelhecimento. Mas, conforme a doença avança, os sintomas se agravam: começam a surgir dificuldades de linguagem e motoras, problemas para reconhecer familiares ou amigos, alterações no sono e no comportamento, desorientação no tempo e no espaço. Nos estágios mais avançados, a pessoa tem dificuldade de executar as tarefas mais básicas, como tomar banho, vestir-se e alimentar-se.

 Ela chega com a idade

Ainda não se sabe exatamente qual é a causa do alzheimer, mas o mal geralmente afeta pessoas com 65 anos ou mais –  atingindo menos de 0,5% das pessoas abaixo de 40 anos. A partir dos 65 anos, o risco de desenvolvê-lo praticamente duplica a cada cinco anos, ou seja, uma pessoa com 70 anos tem o dobro de chance de desenvolver a doença em relação a uma de 65, e assim em diante.

As doenças cardiovasculares são outro fator de risco relevante para o desenvolvimento do Alzheimer, já que contribuem para a degeneração dos neurônios.
O risco também é mais alto em pessoas que têm história familiar da doença ou de outras demências. “As doenças cardiovasculares podem aumentar o risco e também acelerar a progressão do alzheimer”.

 A aceitação e a convivência com a doença

O alzheimer não tem cura, nem pode ser revertido. Na suspeita da doença, a busca por profissional qualificado que faça o diagnóstico é determinante no seguimento do quadro e resposta aos tratamentos. Quanto mais cedo a doença for diagnosticada, maior a chance de o tratamento ser bem sucedido, e do paciente ter uma vida mais longa e com mais qualidade. Por isso, é muito importante ficar atento aos primeiros sinais.

É importante combinar à terapia medicamentosa tratamentos de reabilitação cognitiva, de atividade física e de orientação nutricional. Aqui entram diversos profissionais como terapeuta ocupacional, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, educadores físicos, assistentes sociais e enfermeiros – dependendo das necessidades de cada paciente – que podem contribuir significativamente para a qualidade de vida do paciente.

Com os avanços no tratamento do mal de Alzheimer e as outras terapias de apoio, a sobrevida dos pacientes tem aumentado muito. Hoje, alguém com a doença consegue viver de 15 a 18 anos com ela.
Mitos e Verdades

Mito:
A perda de memória é o primeiro sintoma de Alzheimer.

Não é apenas a perda da memória que sinaliza o alzheimer. A doença atinge inicialmente a parte do cérebro que controla a linguagem, a memória e o raciocínio, outros sintomas podem indicar sua chegada. “Esquecimentos persistentes de fatos recentes, recados, compromissos, dificuldades com planejamento de atividades, cálculos, controle das finanças, desorientação no tempo e no espaço, dificuldade de executar tarefas rotineiras e alterações de comportamento (como comportamentos inesperados, inadequados, incomuns para aquela pessoa) são os primeiros sinais da doença de Alzheimer.

Verdade: 
Mal de Alzheimer não tem cura.

Infelizmente não há cura. Existem tratamentos que retardam a evolução da doença e outros que minimizam os distúrbios no humor e comportamento. Existem medicamentos que podem retardar a progressão da doença e que possibilitam uma melhora expressiva. Nas fases mais avançadas, também é possível contar com terapias não medicamentosas, como terapia ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia etc, que ajudam muito a amenizar os sintomas e a melhorar qualidade de vida.

Verdade:
Mulheres têm mais chances de desenvolver alzheimer.

O mal de Alzheimer afeta duas vezes mais as mulheres que os homens. Para mulheres com mais de 65 anos, o risco futuro de surgir alzheimer é de 12% a 19% no sexo feminino; e de 6% a 10% nos homens. Como a doença está relacionada com a idade, parte da explicação está no fato de que as mulheres tendem a viver mais. Porém os mecanismos biológicos por trás dessa diferença tão grande ainda não foram completamente compreendidos.

Mito: 
Se alguém na minha família tem ou teve alzheimer, eu também terei.

Não há evidências científicas que comprovem com segurança a hereditariedade da doença. Ainda não sabemos todos os mecanismos genéticos envolvidos na doença de alzheimer. Alguns genes já estão reconhecidos, mas ainda há um bom caminho a andar nesse sentido para sabermos exatamente quais os principais responsáveis.

Verdade:
Quem sofre de Alzheimer esquece das coisas atuais, e lembra de coisas muito antigas.

As primeiras alterações sofridas pelos pacientes é na memória recente, ou seja, a pessoa tem dificuldade de recordar eventos que acabaram de acontecer, mas consegue se lembrar sem problemas de algo que aconteceu na infância ou adolescência.

Mito:
Quem tem alzheimer não consegue compreender o que se passa ao seu redor.

Apesar das dificuldades de memória e de outros sintomas, o doente se mantém consciente do que acontece ao seu redor. Apenas nos estágios avançados isso pode mudar. Embora precise de cuidados, o idoso com alzheimer não passa a ser uma criança. Ele merece o respeito antes dispensado a ele, continua sendo fonte de sabedoria e experiência e tem que ter garantido seu papel e espaço nas relações sociais e familiares.

Verdade:
A prática de exercícios físicos é importante para pessoas com alzheimer.

O exercício pode retardar a manifestação da doença ou amenizar seus sintomas. O exercício físico ao longo da vida retarda o aparecimento da doença, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida.

Verdade (Parcialmente):
É possível evitar o mal de Alzheimer.

É possível tentar prevenir, mas ainda não existem evidências científicas mostrando que é possível evitar a doença. Boa alimentação,  exercícios e atividades cognitivas físicos podem contribuir para retardar o início, porque aumentam a reserva cognitiva e podem ajudar a pessoa a desenvolver estratégias para lidar com os deficits, mas não impedem o desenvolvimento da doença.

Verdade: 
Doenças cardiovasculares aumentam o risco de desenvolver a doença.

Doenças cardiovasculares e cerebrovasculares podem aumentar o risco de vários tipos de demência e também da doença de alzheimer. Por este motivo é importante o diagnóstico e seguir as orientações do médico especialista.

Verdade (Parcialmente):
Alimentos que contêm ômega 3 ajudam a prevenir o mal de Alzheimer.

A alimentação não evita a doença, mas se for saudável, pobre em gorduras e bem balanceada certamente contribui para menos problemas cardiovasculares que podem agravar o quadro de demência.

Mito: 
Esquecer as coisas significa ter o mal de Alzheimer.

Problemas de memória podem estar relacionados a diversos fatores, como outras demências, ou até mesmo estresse e depressão. Além disso, a doença de alzheimer vai atingir as memórias recentes, enquanto memória de fatos acontecidos há mais tempo (como na infância) são preservadas. “A pessoa com alzheimer tem sua memória de curto prazo comprometida, demonstrando dificuldade cada vez maior de memorizar, de registrar novas informações, de aprender coisas novas. No entanto, sua memória episódica, ou seja, de longo prazo, está preservada.

Mito: 
Receber um diagnóstico de alzheimer significa o fim de uma vida.

Atualmente, com o tratamento adequado, uma pessoa com a doença pode te ruma sobrevida de até 20 anos. “Muitos pacientes, se bem estimulados, têm excelente qualidade de vida, divertem-se, relacionam-se de maneira prazerosa e agradável e levam uma vida bem organizada, a ajuda da família é um fator importante para a qualidade de vida do doente.

Mito: 
Jogos de raciocínio, como palavras cruzadas ajudam a evitar a doença.

Jogos de raciocínio podem ajudar amenizar os sintomas e até colaborar para o tratamento do alzheimer, mas não significa que vão evitar que uma pessoa desenvolva a doença. Através destas atividades cognitivas que despertam os indivíduos para novas aprendizagens e bons desafios, combinados com uma boa interação social, podem abrir-se novos circuitos cerebrais e, assim, aumentar a chamada reserva cognitiva. Levará mais tempo para o cérebro ser danificado.

Mito:
O alzheimer atinge apenas idosos.

Apesar da doença atingir mais os idosos, ela também pode se desenvolver em pessoas com menos de 65 anos. A Doença de Alzheimer de Início Precoce (Daip), que atinge pessoas com menos de 65 anos, é mais rara (cerca de 10% do total) e é caracterizada por um declínio mais rápido das funções cognitivas.

Verdade: 
Pancadas na cabeça podem acarretar o mal de Alzheimer.

Estudos realizados nos Estados Unidos relacionaram pancadas e ferimentos na cabeça com o desenvolvimento do alzheimer. De acordo com a pesquisa, a concentração cerebral de proteínas que contribuem para a formação das placas senis (um dos fatores por trás da doença) aumenta após um traumatismo craniano. Outra pesquisa afirma que receber pancadas repetidas na cabeça criam lesões permanentes, mas imperceptíveis, que podem desencadear doenças neurológicas.

(Por Clinilive/Dr. Antônio Carlos da Silva, especialista em Geriatria, titulado como Especialista em Geriatria pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e AMB (Associação Médica Brasileira) em 2010 e Especialista em Clínica Médica pela AMB).