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Turismo de experiência em área de preservação ambiental

06/02/2014
Turismo de experiência em área de preservação ambiental
Trilha do Visgueiro - Maragogi - AL

Trilha do Visgueiro – Maragogi -AL (Foto:Myrna Vanderlei)

    Uma trilha onde é possível imergir no dia a dia do homem do campo, desbravando uma natureza ainda desconhecida e, por isso, muito bem preservada. São 5,5 km de um espetáculo pintado em vários tons de verde, com surpresas coloridas em formas de plantas nativas, além dos sons originais e o ar puro e revigorante da Mata Atlântica, bem distante daquela realidade da cidade urbana.
A árvore de mais de 500 anos é o centro das atenções e cede o seu nome à rota. A Trilha do Visgueiro, ainda pouco conhecida pelos alagoanos, é uma opção para aqueles que dizem sim à preservação ambiental, à sobrevivência no campo e à sustentabilidade.
Por sua representatividade, foi escolhida como um dos destinos da Copa do Mundo 2014, através do projeto Talentos do Brasil Rural, uma parceria entre o Ministério do Turismo (MTur), o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Sebrae. O projeto também conta com o apoio da Caixa Econômica Federal, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit), da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), da Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec) e da agência alemã de cooperação técnica GTZ.
“A Trilha do Visgueiro irá atender à cidade sede Recife. Nosso objetivo não é somente que o turista venha durante a Copa para Maragogi, mas que esse destino seja reconhecido e divulgado para outras pessoas do mundo inteiro. É uma estratégia pensando muito à frente, visando ao posicionamento de marca. Os turistas e visitantes da Copa serão potenciais clientes para sempre. O boca a boca ainda é muito bem vindo”, destaca a coordenadora do projeto, Andreia Roque.

    Talentos

De acordo com Andreia Roque, em visita à Trilha do Visgueiro, nessa terça-feira (4), o projeto selecionou 24 talentos em todo o Brasil, desde o Amazonas ao Rio Grande do Sul. Desses, 90% foram produtores rurais, e, em todos os casos, a tônica é a agricultura familiar e o turismo de experiência.
“Esse roteiro foi o único representante de Alagoas, o que significa muito para toda a população, em especial para essas famílias que serão beneficiadas com recursos e visibilidade internacional”, pontua Andreia, explicando que Maragogi foi selecionada por estar a menos de 300 km distante de uma cidade sede, no caso, Recife.
O trabalho da coordenadora na região é com foco no mercado e na gestão participativa, por isso, observa critérios a serem aprimorados de forma a promover o roteiro e torná-lo mais atrativo aos visitantes.
Uma das ações de mobilização desenvolvida pelo projeto será o treinamento de nivelamento com todos os envolvidos na trilha, nesta sexta-feira (7), em Maragogi. Segundo a coordenadora, é preciso que o grupo entenda os conceitos básicos do turismo rural e compreenda o papel de cada um para o sucesso dessa rota.
“Eles precisam falar a mesma língua, e somente com capacitações e treinamentos em grupo será possível nivelar esse conhecimento”, complementa Andreia, destacando que o diferencial de Alagoas nesse projeto é a figura do agricultor também exercer o papel de empresário.
“Além de tudo isso, é claro, é importante destacar que a Costa dos Corais é um roteiro consolidado no mercado, e a região pode contar com uma agência de turismo empenhada na proposta”, finaliza Andreia.
O projeto Talentos do Brasil Rural prevê o apoio na promoção e na comercialização de produtos, serviços e destinos da agricultura familiar. Ainda estimula a troca de conhecimentos, valorizando a identidade cultural da região, promovendo a geração de emprego e renda e agregando valor à produção de grupos de artesãos rurais.
A gestora do APL Turismo Costa dos Corais pelo Sebrae Alagoas, Cristina Moreira, acrescenta que o trabalho com esse grupo será focado, justamente, no cooperativismo e no desenvolvimento de experiências a serem acrescentadas à trilha.

    “Queremos que o visitante, além de percorrer a mata e respirar ar puro, possa aprender a tecer com fibra de bananeira e levar sua arte para casa, como recordação; conheça histórias dos habitantes locais, com suas lendas e sotaques; também possa experimentar os doces típicos, produzidos e comercializados pelos próprios produtores; sente na fonte de água, sinta o frescor da região e coma uma fruta nativa; e, ainda, veja de perto uma produção da agricultura familiar, percebendo a diferença de cultura e hábitos da região”, declara Cristina Moreira.
Todos os 24 roteiros têm propostas de experiências variadas, como o Turismo Comunitário no Baixo Rio Negro, em Amazonas; o Roteiro Ecoétnico, na Bahia; a Cultura e Ecologia em Busca do Futuro, no Ceará; o Trekking Travessia, em Goiás; o Circuito na Vivência da Agricultura Familiar do Serras de Minas, os Caminhos Rurais da Mata Atlântica de Minas, o Circuito Rural e Ecológico do Vale do Rio Preto e o Roteiro Serras Rurais, em Minas Gerais; o Natureco Pantanal Remoto, em Mato Grosso; o Circuito Eco-Rural Caminhos do Brejal, no Rio de Janeiro; o Caminho dos Engenhos, a Viagem à Civilização dos Potiguara e as Terras Quilombolas, na Paraíba; o Circuito Turístico Caminhos Históricos da Serra e Caminhos do Vinho, no Paraná; o Roteiro do Seridó, no Rio Grande do Norte; os Caminhos Rurais de Porto Alegre, o Vale dos Vinhedos, o Agroturismo Gramado, os Caminhos da Colônia e o Roteiro Caminhos de Pedra, no Rio Grande do Sul; e o Roteiro Rural Caminhos da Roça, em São Paulo.

    Trilha do Visgueiro

Descoberta por italianos que vislumbraram a tendência do turismo rural, ainda em 2004, quando se explorava a extração de madeira, a Trilha do Visgueiro surgiu e deixou de ser fonte de renda ilegal, passando a oportunizar o contato direto com a natureza, a cultura e a tradição da vida no campo.
Tudo começa com a parada na casa do Seu Joca, um simpático senhor que empresta sua residência como estacionamento para os visitantes. Em seguida, uma subidinha que faz qualquer um perder algumas calorias extras; mas a entrada na mata fechada recompensa, um ar puro que revigora os pulmões e dá aquele fôlego para seguir adiante.
À frente, 5,5 km de caminhada, com direito a muitas histórias e conhecimento. A segunda parada é na casa das Mulheres de Fibra, localizada na agrovila de Água Fria. Um grupo de nove artesãs que desde 2008 utilizam a fibra da bananeira como matéria prima para verdadeiras obras de arte: bolsas, passadeiras… Mãos habilidosas que fazem parecer simples o trançado de uma fibra se desenhando em painéis exclusivos.

Mergulho na Trilha do Visgueiro (Foto: Myrna Vanderlei)

Mergulho na Trilha do Visgueiro (Foto: Myrna Vanderlei)

Além de estar na rota da Trilha, o trabalho das Mulheres de Fibra estará exposto em quatro cidades sede da Copa do Mundo, divulgando o estado e a arte dessa comunidade.
“É uma alegria grande fazer parte disso tudo. As peças vão viajar e vamos crescer ainda mais. As pessoas de fora vão conhecer nossos produtos, de um jeito ou de outro, né?! Temos que trabalhar bastante para a nossa vitória na Copa do Mundo, pra que a gente venda bem e melhore de vida”, comemora a artesã Laudiceia Maria.
Seguindo a rota, os visitantes conhecem espécies nativas de plantas, como a sapucaia, a gameleira e o condurú (árvore da qual se retira a madeira para produção de pequenos remos), sem falar nos 30 visgueiros responsáveis pelo nome da trilha.
“Esses caminhos foram abertos pela própria natureza. A gente aqui só faz arrumar para ficar mais confortável para os visitantes, mas, mesmo assim, ainda temos obstáculos naturais, como árvores centenárias caídas e alguns bichinhos inesperados”, brinca o produtor Geraldo, ao aparecer um pequeno rastejante, inofensivo ao homem, durante o percurso.
A parada obrigatória para registros fotográficos fica por conta do Gran Visgueiro, com mais de 500 anos de existência. Somente para ter uma noção da sua dimensão, as raízes formam um paredão de aproximadamente 1m de altura. Uma visão acompanhada pela sinfonia de cigarras.
O fim da Trilha do Visgueiro é um brinde ao relaxamento. Uma pequena fonte, com água muito fria (por isso o nome da agrovila), cercada por árvores frutíferas, como jaqueira, coqueiro e goiabeira. Após 2h30 de caminhada, um banho ao ar livre, com direito a coco tirado do pé, é mesmo um final feliz.
De acordo com a coordenadora do projeto Talentos do Brasil Rural, Andreia Roque, mais de 35 mil jornalistas já se cadastraram na FIFA para cobrir a Copa do Mundo 2014. Segundo ela, uma oportunidade para mostrar um Brasil diferente para todo o mundo.

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