Variedades

Os 90 anos de Antunes e o futuro do CPT

13/12/2019

Foram 37 anos à frente do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) e, em 2020, o espaço de formação artística do Sesc segue, pela primeira vez, sem o coordenador Antunes Filho, diretor morto em 2 de maio de 2019.
Na quinta-feira, dia 12, quando o encenador completaria 90 anos, o Sesc iniciou uma série de homenagens sem lamentos, algo mais “para cima”, como afirma o diretor regional Danilo Santos de Miranda, por telefone.

As homenagens prosseguem nesta sexta, 13, às 19h, com a recriação de três cenas de seu último Prêt-à-Porter. Mais que um espetáculo, trata-se de um mistura de peça com treinamento teatral para atores, que se tornou uma série de exercícios, a partir de 1998. Foram mais de 10 edições nas quais Antunes explorava o conceito do então novo naturalismo na cena. Como ele dizia: “Ser E não ser”. Neste sábado, 14, às 16h, haverá mais uma versão de Prêt-à-Porter com a participação de atores de edições anteriores.

Quando o diretor Danilo Santos de Miranda foi sondado pelo jornal O Estado de S. Paulo em outubro, a perspectiva de continuidade do espaço ainda não estava acertada. A certeza era de que o CPT não acabaria. “Ninguém estava esperando, mas perdemos Antunes Filho. E não temos outro. No entanto, também não temos pressa”, adiantou Miranda.

Desde a morte do encenador, a rotina do CPT transformou-se na missão de transmitir o treinamento teatral proposto por Antunes, um modo de trabalho raro no País com quase quatro décadas e que incluía artistas como Laura Cardoso, Raul Cortez, Luís Melo, Eva Wilma, Lee Taylor e Cacá Carvalho.

Este último lembrou ontem, em suas redes, da foto de um ensaio da peça Macunaíma, espetáculo que figura entre os marcos do teatro nacional. “Cena do primeiro ato em que Macunaíma descobre que a veado parido que matou é a sua mãe. Cena que determina a partida do mato virgem, do herói e seus irmãos.” Outro artista que se manifestou foi Raul Teixeira. Para ele, Antunes “amava a vida abertamente e as pessoas a sua maneira. Numa combinação quase complexa de afetividade e austeridade”.

As manifestações de apreço e admiração pelo encenador abriram ontem a programação de uma série de homenagens a Antunes, no Sesc Consolação. Tudo começou às 18h, com debate com Miranda, Laura Cardoso, Lígia Cortez e Lee Taylor sobre a recuperação da trajetória do CPT.

Na atualidade, enquanto iniciativas culturais do porte do CPT se contam nos dedos, Miranda reconhece que o legado de Antunes tem campo frutífero. “Sua atuação no centro de pesquisa permitiu a produção e manutenção de uma forma de trabalho que continuará embasando as atividades. Não são apenas sementes, mas, de fato, uma ação que frutificou.”

Entre as propostas anunciadas para 2020, está a de que a equipe do CPT contará com o auxílio de técnicos do Sesc. A estrutura não deve ser muito alterada, conta ainda Miranda, lembrando que já há um espaço quase exclusivo do CPT, nos últimos andares do Sesc Consolação.

Também se junta ao núcleo uma ideia que vinha sendo especulada pela classe artística: a participação intensa de diferentes artistas e pesquisadores, embora de modo mais moderado, como explica Miranda. “Não há um nome para ser anunciado, um responsável designado para tocar o CPT. Queremos gente de teatro envolvida em oficinas, residências artísticas. Claro que trabalho para que criem bons diálogos com a formação proposta por Antunes”, informa ainda.

Aberta ontem, a exposição Dispositivo movimentocptsesc busca resgatar o material de trabalho dos últimos 37 de trabalho de Antunes no CPT. Idealizada por Ricardo Muniz, a mostra realiza o difícil trabalho de olhar mais de três décadas de criação nos corredores e salas do CPT e Sesc. Por outro lado, talvez seja o espaço mais formidável para que sua memória se fortaleça, seja com imagens, filmagens ou áudios que reconstruam a atuação de Antunes.

Aliás, é sob o abrigo do prédio que a mostra retoma seu trabalho. Uma espécie de jornada de fé pelo ofício teatral. Do corredor extenso ao escritório, onde estavam fixados cartazes de Kazuo Ohno, Tadeusz Kantor e Tadashi Suzuki, referências de encenação, até a sala de ensaio, ambiente de especulação criativa, onde Antunes encenou Blanche e mais tarde seu último trabalho, Eu Estava em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse, a partir do texto de Lagarce.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Leandro Nunes
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