Política

‘É um setor nojento, que se criou à sombra da corrupção’, diz Nestor Rocha

15/11/2019

Delatado pelo ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio de Janeiro (Fetranspor), Lélis Teixeira, o conselheiro do Tribunal de Contas do Município do Rio (TCM) Nestor Rocha afirma que ‘jamais’ atuou em prol de empresários do transporte público na Corte. O magistrado nega relações com o delator da Lava Jato e diz que nunca enviou assessor negociar propina em seu nome.

“Estou indignado, toda a minha postura foi contra esse setor, é um setor nojento, que se criou à sombra de boatos de corrupção”, afirmou ao ‘Estado’.

Em delação, Lélis Teixeira afirma que, ‘quando havia processos de interesse do setor’ no TCM carioca, o conselheiro enviava um assessor de nome ‘Sérgio’ procurar o então vice-presidente da Fetranspor, Otacílio Monteiro, para negociar ‘propostas de acertos financeiros’. Lélis não detalhou a quantia nem a forma que os supostos pagamentos eram feitos.

O relato consta em anexos da delação premiada do ex-presidente da Fetranspor, Lélis Teixeira, a qual o ‘Estado’ teve acesso. São 25 anexos que citam políticos, servidores da Receita e da Polícia Federal e magistrados e conselheiros do judiciário fluminense.

Abaixo, as respostas dadas pelo conselheiro Nestor Rocha sobre as acusações:

Qual a sua manifestação sobre a acusação de Lélis Teixeira sobre suposto envolvimento em negociação de propina em troca de decisões favoráveis ao setor de transportes?

Eu estou indignado. Toda a minha postura foi contra esse setor. É um setor nojento, é um setor que se criou à sombra de boatos de corrupção. Eu nunca conversei com esse Lélis. Todos os meus votos no tribunal foram contra o setor. Eu tô pedindo para levantar no gabinete todos os votos, seja de passe para idosos, de ar condicionado. Eu vou dizer uma coisa: eu só dei cacetada nessa gente. Eu não gosto desse gente, eu nunca gostei. É uma gente que se criou à sombra da sociedade. De qualquer maneira, eu estou preparando tudo o que eu fiz. É um absurdo isso.

O senhor nega conhecer Lélis Teixeira e o senhor Otacílio Monteiro?

O Lélis eu nunca conversei com ele. Fui apresentado a ele em um evento, fui apresentado e eu o cumprimentei, mas nunca troquei uma palavra com ele. Nunca gostei dessa gente. Eu sei da fama que eles têm, da maneira que eles cresceram na vida. Eu não sei nem o que falar, estou tão indignado. Não tive um voto favorável, nada.

E em relação ao senhor Otacílio, o senhor chegou a conhecê-lo?

Eu conheci o Otacílio, mas de longe. O Otacílio fez parte do governo do Estado quando foi secretário, ou subsecretário, no governo Brizola. Aí que eu conheci o Otacílio, trinta anos atrás. Mas minha relação foi muito pouca. E ele sabe que eu nunca gostei da maneira que esse grupo foi criado. Eu sou contra tudo. Qual a lógica disso?

Na delação do Lélis, ele comenta que sempre que haviam interesses dos empresários no TCM, o senhor supostamente enviava um assessor chamado Sérgio para negociar com Otacílio. O senhor ou o Sérgio procuraram o Otacílio em algum momento?

Nunca. O Sérgio (Santos) é meu chefe de gabinete há muitos anos, foi professor. Jamais. Até porque não tem lógica. Quando você beneficia determinado setor, pode até ter alguma lógica de alguém te acusar. Eu votei contra o tempo todo, eu não estou entendendo porque estão fazendo isso comigo. Eu vou levantar esse material, de anos. Eu nunca tive simpatia, eles só fizeram coisas irregulares.

Autor: Paulo Roberto Netto
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