Artigos

Lêdo Ivo – Cântico

19/10/2019
Lêdo Ivo – Cântico

Poeta-escritor-imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi em vida um homem que passou todo seu  tempo a serviço das letras nacionais. E, por isso, consagrou-se no seu tempo imitando Machado de Assis que, por sua vez,  criou a Casa das Letras que lhe serviu como estuário de suas ideias.Desse modo, o preclaro coestaduano serviu de exemplo quer na seara literária,  quer na dignidade de um homem público probo.

Conheci-o numa solenidade na Academia Alagoana de Letras(AAL). E, sendo assim, aproximei-me de sua pessoa e sapequei: Admiro sua inteligência Dr. Lêdo Ivo. Ele então me cumprimentou dizendo: “ Não me chame de doutor.Sou um escritor modesto que leio seus artigos no Jornal de Alagoas”.Fiquei deveras lisonjeado tendo um leitor daquele quilate. Voltei daquele sodalício muito feliz por  tê-lo conhecido. Inclusive, pediu-me meu endereço e mandou por Sedex todas suas valorosas obras.

Edições Orfeu publicou dezenas de livros de lavra dos acadêmicos. Dentre eles, destaco Cântico recheado de poemas imorredouros.Por exemplo, A Casa. “ É uma casa apenas/ onde rapazes e mocas/ dançam danças que ignoram/ a vastidão do blue./ A ventania passa/ passam a primavera, a viagem,/ passa até o pressentimento/ do vento no mar./ É uma casa apenas/ e um céu azul e banco/ enquanto em outro céu, outras casas/ erguidas estão.”

Dir-se-ia ser um poeta moderno sem se preocupar com a rima como fizeram os clássicos Cassimiro de Abreu/Castro Alves. Nem por isso deixou de ser um poema com densidade literária Muito pelo contrário, fez valer  sua verve a ponto de se destacar na ABL. E o fez com tanta propriedade que fora respeitado pelos seus ilustres pares.

Por outro lado, ressalto A Chuva Sobre a Cidade. “ Chove sobre a cidade/ e a chuva inunda o asfalto, difunde o desastre e o desencontro/ e procura abate as palmeiras que no fim da tarde/ queriam apenas – graça plena – as estrelas./ Os trovões reboam, espantando os pássaros/ que vieram refugiar-se no meu quarto./ Os relâmpagos, fotógrafos do absoluto, iluminam / as pessoas que passam/ – são outros rostos, minha irmã, são as faces/ revoltadas porque as divindades impossibilitaram os idílios, / a chegada pontual a uma casa, o já adiado trespasse com o inefável./ As sarjetas recebem finalmente a Poesia. Como são belos./ e nítidos os barcos de papel/ que navegam buscando os reinos fantásticos, os inacessíveis!/ A chuva tem uma canção.Jamais uma alegria/ para saudar sua gentileza. Jamais uma ode,/ um himeneu, uma ecóloga deploratória. / Meu irmão, deixa que a goteira molhe tuas últimas/ poesias. Pouco importa que amanha é imensurável. A chuva te ensina/ a ser invariável sem se repetir”.

Linguagem erudita. Passa a narrar com tanta ênfase que chegou a esquecer a rima. Satisfaz a minha curiosidade seu desenrolar poético. Presumo que queria deixa dizer seu pensamento guardado na sua memória.E, por extensão, trouxe o belo figurando seu poema com extravagante gosto pela literatura. Fez-se poeta, fez-se prosador. Contista, romancista que encantou a beleza da poesia que irradia o canto dos cisnes.

No que diz respeito Balada do Homem, nota-se seu linguajar apurado com  gosto de fazer leitor com sofreguidão.” A mulher que dança/ dança com outro./ A mulher que anda/ com outro./ A mulher que sorri/ sorri para outro”. Reparo novamente que a rima está na  prosa feita com muita eloquência. Dr. Lêdo Ivo foi, em vida, um escritor internacional. Aliás,morou vários anos na Cidade Luz. Epicentro da cultura europeia. Lugar lindo que conheci in loco com meu filho Francis Lawrence e minha esposa advogada Aurilene Morais da Veiga. Viagem inesquecível que gosto de ressaltar.Tenciono voltar a Paris.