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Defensor de canonização de Irmã Dulce em Roma se tornou devoto da santa

11/10/2019

Em 7 de julho de 1980, quando o papa João Paulo II visitava o Brasil pela primeira vez, ele celebrava uma missa campal em Salvador e chamou Irmã Dulce para o altar. O papa a abençoou, deu a ela um terço e disse: “Continue, Irmã Dulce, continue”. Então com 66 anos, a freira baiana já apresentava a saúde debilitada.

Suas obras continuaram. Persistente – para muitos, teimosa -, hábil em aproveitar as oportunidades e obstinada, a freira soube manter boas relações com políticos e empresários para que seus trabalhos assistenciais ampliassem. Em outubro de 1991, durante nova visita ao Brasil, João Paulo II foi visitar a freira no Convento Santo Antônio, onde estava acamada – morreria em 13 de março de 1992.

“Sua história de vida conquistou minha devoção pessoal”, declarou ao jornal O Estado de S. Paulo o historiador e teólogo italiano Paolo Vilotta, postulador da causa da religiosa brasileira no Vaticano. O processo de canonização não demorou. “Houve um trabalho sempre contínuo, garantindo o belo resultado em pouco tempo”, avalia o padre Roberto Lopes, delegado Arquiepiscopal da Causa dos Santos do Rio de Janeiro e atualmente trabalhando em Roma. “O testemunho de Irmã Dulce e seu legado são visíveis. O número de pessoas carentes atendidas no ambulatório é admirado por todos.”

Em 14 de maio, papa Francisco anunciou que Irmã Dulce seria canonizada: Santa Dulce dos Pobres será oficializada, então, a 37.ª santa brasileira. Depois disso, o número de visitantes do memorial dedicado a ela, em Salvador, saltou. São 15 mil pessoas por mês que vão até lá. “A partir da sua canonização será mais fácil explicar a todos que a santidade não é um privilégio de poucos ou de pessoas especiais, mas está ao alcance de todos – e é obrigação de todos buscar a santidade”, disse o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger.

O maior milagre de Irmã Dulce tem muito mais de árduo trabalho humano do que de forças divinas. Em 1959, a freira fundou uma instituição filantrópica em Salvador. A Osid tem hoje 17 núcleos, com uma gama de serviços gratuitos que vaj de escola de ensino integral a hospital com tratamento de câncer. O centro médico atende a 2 mil pessoas por dia.

Biografia

Nascida em 26 de maio de 1914 em Salvador, a religiosa foi batizada Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes. Sua vocação para ajudar os mais necessitados se tornou pública na adolescência. Aos 13 anos, ela começou a acolher doentes e moradores de rua em sua casa.

Após assumir o hábito, tornou-se professora de uma escola mantida por sua congregação. Deu aulas principalmente de Geografia e História. Criou um movimento operário cristão e, pouco mais tarde, a Osid.

Irmã Dulce também gostava de artes. Em 1948, fundou o Cine Teatro Roma, palco de shows de nomes como Roberto Carlos e Raul Seixas. A religiosa ainda criaria dois cinemas.

Em vida, recebeu o apelido de “o Anjo Bom da Bahia”. “Miséria é a falta de amor entre os homens”, dizia. Em 1988, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

Seus últimos 30 anos de vida foram especialmente difíceis por causa de um enfisema pulmonar, que reduziu sua capacidade respiratória em 70%. Ela chegou a pesar apenas 38 quilos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Edison Veiga, especial para o Estado
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