Política

Doria inicia no Rio de Janeiro caminhada do ‘novo PSDB’ de olho em 2022

28/09/2019

O primeiro evento fora de São Paulo do que vem sendo apresentado como “novo PSDB” ocorreu num lugar simbólico para o projeto presidencial do governador João Doria: o Rio de Janeiro, berço político do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e do governador Wilson Witzel (PSC), dois possíveis adversários do tucano em 2022. Estrela do encontro deste sábado, 28, Doria pregou a união do País ao dizer que “a boa política se faz unindo as pessoas, não separando.”

Todo o discurso do governador foi centrado nesse ponto. Criticou, por exemplo, o que considera os extremos do espectro político. “Os extremos não constroem, os extremos destroem”, disse. “Nós erramos, sim, mas tivemos a humildade de corrigir. Os extremados não reconhecem os erros.”

Doria busca se desvencilhar de uma direita mais radical associada a Bolsonaro e Witzel, mas sem deixar de lado as críticas ao PT que sempre alicerçaram sua recente trajetória política. Questionado pela imprensa, disse que “não fulanizou” ao tecer os comentários durante o discurso. E usou o termo “centro democrático”, muito associado a um grupo que orbita em torno do apresentador Luciano Huck, como o caminho para o futuro do País.

Outra forma de se diferenciar do bolsonarismo foi a citação à defesa do Meio Ambiente e à valorização da Cultura, dois pontos críticos do governo Bolsonaro.

O evento foi realizado no Hotel Windsor da Barra da Tijuca, o mesmo que Bolsonaro usou algumas vezes durante a eleição de 2018. O PSDB do Rio é comandado hoje pelo empresário Paulo Marinho, um dos principais articuladores da campanha do presidente, de quem virou dissidente junto com o ex-ministro Gustavo Bebianno, da Secretaria-Geral da Presidência.

Bebianno também esteve no hotel nesta manhã e, assim como Doria, buscou se posicionar como alguém que não concorda com os rumos seguidos pelo bolsonarismo. “O pêndulo estava todo à esquerda, agora está todo à direita. Acho que ele precisa parar no centro, olhar para o Brasil”, apontou o ex-ministro, que disse ser um “órfão” do PSDB.

O encontro marca o início da construção de palanques para Doria de olho em 2022. Foi o primeiro fora de São Paulo – e num lugar em que os tucanos não têm força política expressiva. Em 2018, o partido não elegeu nenhum deputado federal pelo Rio.

Também nos clichês, o PSDB busca ser mais carioca e conquistar uma cidade que nunca lhe pertenceu. O comício da manhã deste sábado tinha à disposição dos militantes pacotes de biscoito Globo, tradicional iguaria das praias da cidade. A agitação foi comandada pela bateria da escola de samba São Clemente. Quando Doria chegou, pouco depois das 11h, o puxador do grupo cantou um samba cuja letra dizia que “o bandeirante veio para colonizar”.

Sob Marinho, o PSDB do Rio tenta ainda moldar o discurso a fim de atrair mais mulheres e jovens, por exemplo. “Esse é o nosso mantra: mais mulheres e jovens”, afirmou Doria.

A pré-candidata do partido à Prefeitura do Rio, Mariana Ribas, foi apresentada como a futura prefeita do Rio por Marinho e, segundo Doria, representa tudo o que o novo PSDB precisa buscar. Contudo, é muito provável que a sigla caminhe junto com o ex-prefeito Eduardo Paes, que será candidato pelo DEM.

Atração surpresa

Paes apareceu de surpresa no evento e falou que “as boas forças” precisam estar juntas. “Nós vamos estar juntos para fazer com que o Rio volte a estufar o peito e tenha orgulho da cidade”, disse o ex-prefeito. Outro nome ventilado para a eleição municipal do ano que vem, o deputado federal Marcelo Calero (Cidadania), também falou na convenção e chamou Paes de “o melhor prefeito que essa cidade já teve.”

Ex-emedebista, Paes é uma peça-chave na eleição municipal do Rio. Seu anúncio oficial de entrada na disputa, que só deve acontecer no início do ano que vem, provoca impacto nas diversas candidaturas.

Apesar de, em tese, ser um evento de âmbito local, o encontro do novo PSDB fluminense teve uma série de lideranças nacionais do partido. Discursaram no palanque o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, o presidente nacional da sigla, Bruno Araújo, e a ex-governadora do Rio Grande do Sul Yeda Crusius.

Autor: Caio Sartori
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