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‘Yesterday’ é filme sobre a amizade, afirma roteirista

25/08/2019

Em “Yesterday”, uma mistura de comédia, música, romance e um pouco de fantasia escrita por Richard Curtis e dirigida por Danny Boyle, um apagão causa mais do que a falta de luz. Quando a energia volta, o mundo sofreu uma amnésia coletiva, e ninguém mais conhece os Beatles. Jack (Himesh Patel), um músico fracassado, vê na falta de memória uma oportunidade e vira sucesso mundial. Para o ator, se acontecesse de verdade, seria uma tragédia. “O mundo sem os Beatles seria bem mais pobre”, disse o ator, mais conhecido pela série EastEnders, em entrevista à reportagem, em Londres. “Não só em termos da música que perderíamos, mas também por causa das dezenas de culturas do mundo que eles colocaram em suas músicas”, completou, citando o exemplo das cítaras indianas. O filme estreia no Brasil na próxima quinta.

Mas como foi que o diretor de “Trainspotting” e “127 Horas” se juntou ao roteirista de “Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Um Lugar Chamado Notting Hill” e “Simplesmente Amor”? “Assim como Trainspotting, Yesterday também é um filme sobre amizades”, disse Curtis. A atriz Lily James (de “Mamma Mia!”) faz Ellie, a amiga de Jack que sempre esteve ao seu lado, apoiando sua carreira mesmo quando ninguém prestava atenção em suas músicas – e, sendo este um roteiro de Richard Curtis, na verdade ela sempre foi apaixonada por Jack. Boyle explicou que “Trainspotting” nunca foi, na sua cabeça, um filme sobre drogas, e sim sobre amigos. “Falávamos muito como as mulheres conseguiam manter as amizades, enquanto as amizades masculinas costumam se desintegrar antes de eles atingirem os 30. E isso faz com que muitos homens sejam solitários. As mulheres sabem da importância dos amigos.”

O cineasta, que ganhou o Oscar por “Quem Quer Ser um Milionário?”, contou que secretamente sempre invejou Curtis e seu talento para a comédia romântica. “Eu o chamo de poeta laureado da comédia e do romance”, disse. Os dois tinham colaborado na abertura da Olimpíada de Londres, em 2012, e voltaram ao estádio de Wembley para filmar cenas dos shows de Jack, usando plateia, cenário e equipamento de Ed Sheeran – o músico faz o papel de si mesmo e, compreensivelmente, fica um pouco enciumado com o talento de Jack.

Nenhum dos Beatles sobreviventes participa do filme, mas Curtis escreveu uma carta a Paul McCartney, autor da música “Yesterday”, perguntando se tudo bem usá-la no título do longa. “Ele me respondeu dizendo que sim, mas que ‘Scrambled Eggs’ (“ovos mexidos, na tradução), o nome original de Yesterday, era melhor”, contou o roteirista, rindo.

No filme, os Rolling Stones, ainda bem, sobreviveram ao apagão – mas o Oasis, não. “Foi uma forma de fazer uma homenagem torta porque o Noel (Gallagher, um dos vocalistas do Oasis) nunca escondeu a influência dos Beatles na banda”, disse Boyle. Se tivesse o poder, Danny Boyle escolheria fazer sumir “algum político, obviamente”. “Cada um vai ter o de sua preferência”, disse. Para o diretor, a oportunidade foi irresistível não apenas por contar com um roteiro de Curtis. “Era a chance de fazer um filme sobre os Beatles que não é uma biografia”, disse. “Para mim, a música é crucial. Eu tenho uma teoria de que a música está no nosso DNA. Não compreendemos ainda, mas eu acredito piamente nisso. E a música e a cultura jovem nos transformaram totalmente desde a Segunda Guerra – e para melhor, apesar das críticas que possamos ter. Nos fizeram pensar no amor em vez do serviço militar. Fazer um filme sobre isso é maravilhoso.” O indispensável no mundo de hoje, tal qual no pós-guerra, é a beleza, a criatividade e o amor, como pregavam Paul, John, George e Ringo em “Love is All You Need”. Por isso, os Beatles são imprescindíveis: eles nos fazem lembrar o melhor do ser humano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Mariane Morisawa, especial para o Estado
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