Variedades

Duane Michals e Martin Parr disputam mercado com os jovens na feira

21/08/2019

Ao lado de nomes consagrados da fotografia internacional estão jovens fotógrafos brasileiros em ascensão que deverão atrair, a partir desta quarta-feira, o olhar do público na 13.ª edição do SP-Foto. Por exemplo, se existe um fotógrafo na trilha aberta pelo britânico Martin Parr, 62, que cruza a livre criação com a linguagem documental, é o jovem paulistano Júlio Bittencourt, 39, que viveu parte de sua vida em Nova York.

Parr faz antropologia com humor inglês, satirizando o modo de vida da classe média que frequenta resorts populares e praias lotadas. Bittencourt, também oriundo do fotojornalismo, tratou da mesma paisagem de balneários, mas com olhar compassivo para a massa de deserdados do piscinão de Ramos, no Rio. Há outra diferença entre os dois: uma foto da série The Last Resort (1982-86), de Martin Parr, custa uma pequena fortuna, algo em torno de R$ 40 mil. Os preços das fotos de Julio Bittencourt são mais modestos.

Não se trata apenas de uma questão de ordem financeira, mas é certo que há uma disputa maior pelos veteranos em feiras de arte como a SP-Foto. Desse modo, é mais provável que fotógrafos modernos formados na época do Foto Cine Clube Bandeirante – digamos Thomas Farkas, Gaspar Gasparian ou German Lorca – atinjam uma cotação dez vezes superior a um fotógrafo contemporâneo da mesma estatura. Isso está mudando, em função de galerias que começam a incorporar em seu time fotógrafos consagrados, caso da Galeria Marcelo Guarnieri, representante de Claudia Jaguaribe, Cristiano Mascaro e João Farkas – a galeria já trabalhava com fotógrafos históricos, como Marcel Gautherot e Pierre Verger.

Nomes que marcaram a história são caros. Uma foto do carioca José Oiticica Filho (1906-1964), pai do artista neoconcreto Hélio Oiticica (1937-1980), custa, em média, R$ 30 mil. Já uma contemporânea como a paulistana Sonia Dias, representada pela mesma galeria, Renato Magalhães Gouvêa Jr., alcança um terço dessa cotação (R$ 9.500), mas suas chances de ser disputada como Oiticica no futuro são grandes. Com cerca de 13 anos de carreira, ela se destaca por seu olhar atento ao ambiente, ao homem e à presença da luz como elemento transformador de ambos.

Um fotógrafo estrangeiro em ascensão e com o mesmo tempo de carreira, o sul-africano David Ballam formou-se em 2004 e já está em grandes coleções desde que abandonou a fotografia comercial e dedicou-se ao registro da cultura de tribos africanas. Uma imagem de uma jovem de Turkana, na fronteira da Etiópia com o Quênia, feita no ano passado, está à venda no SP-Foto por R$ 15 mil.

Documentarista, o fotógrafo e cineasta francês Jean Manzon (1915-1990), operou no mesmo registro, percorrendo o Brasil em busca de contato com tribos indígenas.
Radicado no Brasil, ele fez reportagens para a extinta O Cruzeiro, sobrevoando aldeias nunca antes contatadas. De seu acervo com mais de 8 mil negativos estarão à mostra na galeria Almeida e Dale fotos desses primeiros contatos com índios.

Contemporâneo de Manzon, o norte-americano Duane Michals, hoje com 87 anos, é o autor de um dos objetos mais cobiçados, o retrato de Magritte (tiragem de 30 exemplares) com um chapéu saído de uma de suas telas. Uma foto dele alcançou US$ 15 mil num leilão da Christies. Um pouco mais que um autorretrato de Francesca Woodman, a trágica e promissora fotógrafa, morta aos 22 anos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Antonio Gonçalves Filho
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