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MEC vai testar Enem digital e prevê prova 100% online em 2026

04/07/2019

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) passará a ser aplicado de forma digital a partir do próximo ano. O projeto, apresentado nesta quarta-feira, 3, pelo ministro da Educação, Abrahan Weintraub, prevê que 50 mil candidatos, em 15 capitais brasileiras, façam o modelo digital em 2020, em um projeto-piloto. A expectativa é de que o número seja ampliado progressivamente até 2026, quando o governo prevê extinguir a prova de papel.

Segundo Weintraub, o modelo aumentará a concorrência. “Duas ou três grandes empresas conseguem hoje se credenciar.” A mudança, disse, permitirá que mais estudantes façam a prova, incluindo os que têm mobilidade reduzida.

Para o projeto-piloto, devem ser desembolsados R$ 20 milhões – no formato atual, o custo de aplicação para este ano, com cerca de 5 milhões de participantes, é de R$ 500 milhões. Segundo o MEC, os custos iniciais da versão digital serão “expressivamente maiores” do que da versão atual, mas a expectativa é reduzi-los ao longo dos anos. O plano prevê que toda a prova seja realizada de forma digital, incluindo a Redação.

Um dos objetivos é ter, nos próximos anos, a aplicação da prova em mais de uma data ao ano – até quatro no projeto original. O que, na avaliação do ministro, retiraria “a agonia” de um exame de tamanha relevância ter só uma aplicação.

Os riscos de fraude, segundo o ministro, também serão menores. “O Brasil tem tecnologia para isso. O sistema bancário é todo eletrônico.” E depois emendou: “Mas bandido é criativo.” Questionado se um hacker não poderia invadir o sistema para fazer a prova do candidato, afirmou ser mais fácil uma invasão só na nota – risco que, em tese, já existiria hoje.

O MEC disse ainda que a versão online facilitará a realização de provas por itinerários formativos, que valerão com o currículo flexível previsto na reforma do ensino médio. O candidato passará a fazer a prova conforme a área de estudo que escolheu para aprofundamento.

A ideia do Enem digital começou a ser discutida em 2012. Os últimos presidentes do Inep, órgão responsável pela prova, e principais quadros do MEC já defendiam a prova online, mas o principal entrave era exatamente a ausência de um banco de questões com robustez suficiente – as perguntas do exame passam por rigoroso processo, com dez etapas, entre a produção e a avaliação do item. O MEC admite ser preciso ampliar o banco de questões.

Secretária executiva do MEC na gestão Michel Temer, Maria Helena Guimarães disse ver com preocupação o prazo anunciado e a ausência de ações para ampliar o banco de questões. “Nossa avaliação, na época, era de que precisaríamos ter um banco com ao menos 5 mil itens. Temos muito menos que isso (o número não é divulgado, sob justificativa de segurança). Um banco de itens robusto e de qualidade exige investimento alto. Na União Europeia, a elaboração de cada item custa de 800 a 1 mil euros.” Ela estima custo de R$ 50 milhões para formar um banco com itens suficientes e de qualidade.

Mônica Franco, do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec), lembra que muitas escolas públicas ainda não têm computador ou internet. “O Enem não mede só o desempenho das escola. Dá acesso à universidade. Por isso, é fundamental garantir a equidade de condições. Não podemos prejudicar ainda mais os mais vulneráveis e menos assistidos.”

Alunos

Moisés Sousa, de 22 anos, que tentará vaga de Medicina em uma universidade federal, tem dúvidas sobre a alteração. Ele conta já ter feito prova online e não se deu bem. “Prefiro o lápis. No computador parece muito abstrato.”

Já Daniel Silveira, de 23 anos, vê vantagem na Redação. “Você apaga mais facilmente e digita mais rápido. No papel, é difícil”, diz ele, que pretende cursar Economia.

Em 2017, o MEC fez consulta pública sobre como melhorar o Enem: 70,1% responderam não concordar com a prova digital. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Lígia Formenti, Isabela Palhares e Júlia Marques
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