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‘Homem-Aranha – Longe de casa’ é love story teen que questiona falso e verdadeiro

03/07/2019

Na terça, 2, no início da tarde, a Sony ainda fechava o circuito que vai exibir Homem-Aranha – Longe de Casa, que estreia às 23h59 desta quarta, 3, para quinta, 4. Mais de 1.400 salas já estavam integradas. A expectativa era de fechar em 1.500, ou mais. Na segunda, a Academia de Hollywood anunciara nova leva de associados com perfil para aumentar a diversidade de seu colegiado – que, entre outras coisas, escolhe os vencedores do Oscar. Mais mulheres, mais negros. Entre os 842 novos sócios de 59 países estão a cantora e compositora Lady Gaga, a diretora brasileira Laís Bodanzky e Tom Holland, que faz Peter Parker/Homem-Aranha na franquia com o super-herói teen.

Mais um filme de super-herói? Somente neste ano, já houve três. Capitã Marvel, Vingadores – Ultimato, que ultrapassou US$ 2 bilhões, e X-Men – Fênix Negra. Está chegando o quarto, Homem-Aranha, e logo virão o quinto, o sexto, até o novo Star Wars, no fim do ano. Se há uma coisa que a indústria atende é o desejo do público, jovem, principalmente, por esses arrasa-quarteirões. Os críticos contestam – dizem que o público é condicionado pela máquina de propaganda a querer ver esses filmes. Pode até ser que seja verdade, mas a máquina de sonhos, o cinemão, não está enganando ninguém. Uma frase do vilão de Longe de Casa é decisiva. O público quer seguir acreditando, mesmo quando percebe que pode não ser, ou não é, verdade. Longe de Casa abre-se sob medida para os órfãos dos Vingadores. Um cerimonial fúnebre, a imagem de Tony Stark/Homem de Ferro, o vozeirão de Whitney Houston em Ill Always Love You e a pergunta que não quer calar – quem será o sucessor de Iron Man?

Spider Man é o mais que natural candidato ao posto, mas de cara, numa conversa do herói com o amigo nerd, somos informados que ele está saindo em viagem de férias. Europa! Veneza e, em Paris, ele planeja se declarar à namorada, só que nada sai como o planejado. Como sempre nos filmes de super-heróis, o mundo está sob ataque – dos Elementals. Para enfrentar esses monstros de água e fogo, Peter/Homem-Aranha terá a inesperada ajuda de um ET – só pode ser – tão misterioso que ganha na mídia o nome de Mystério (Jake Gyllenhaal). Recebe também o legado de Tony Stark, por meio de um par de óculos com nome de mulher. Edith concentra o poder de fogo que o dinheiro pode comprar. Um sofisticado sistema de armamentos baseado em drones mortíferos. Mystério é um homem maduro, ou assim, parece. Peter é só um garoto de 16 anos, com os hormônios a mil. Quem deve ficar com Edith?

Olha o spoiler – como em Capitã Marvel, o princípio narrativo do novo Homem-Aranha baseia-se numa inversão. Não confie naquilo que você vê na tela do seu celular, que você lê na internet. O mundo, tal como o reconhecemos, pode ser um emaranhado de informações fakes. Vilões e heróis podem ser forjados. Desconfie dos heróis é o tema do longa de Jon Watts. E, quando tudo termina, permaneça sentado enquanto rolam os créditos. Uma cena adicional é valiosa, antecipa o próximo Spider Man, a outra é mais desconcertante. O que é, o que é? Vêm mais super-heróis por aí. Spider Man, com certeza. Guardiões da Galáxia. Até um supervilão como Morbius, interpretado por Jared Leto. A indústria, como o mundo, não se alimenta só de heróis. Cultiva vilões, também, veja o caso de Venom.

É um mundo fora dos eixos, pense nas loucuras diárias de Mr. Trump, e não só dele. Nesse quadro, o público jovem quer, ou é induzido a querer, blockbusters, super-heróis. Na edição nas bancas, a revista Empire faz uma reflexão importante. Os filmes de super-heróis ficaram tão grandes que viraram mais que um gênero. Movidos pelo desafio de propor coisas cada vez maiores, os autores estão fazendo ficções científicas de super-heróis que agregam cada vez mais gêneros – comédias, westerns, filmes de terror.

O maior desafio hoje na indústria não é até onde podem ir os heróis, mas os autores. No tom, nos temas, no entusiasmo juvenil, Longe de Casa é um (super) filme teen. No fundo, é só Peter e Michelle, e um trilhão de drones para incrementar o básico. Boy meets girl.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Luiz Carlos Merten
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