Geral

Atrás de mais cliques, influenciadores digitais voltam para a sala de aula

07/07/2019

Bastou um “filezinho” de peixe para comprometer a carreira da influencer digital californiana Yovana Mendoza Ayres, mais conhecida como o Rawvana. Ela, que se vendia como vegana e baseava toda sua imagem pública em uma dieta livre de proteína animal, foi flagrada justamente no instante em que iria degustar um belo pescado. O deslize fez com que Rawvana sofresse críticas e assistisse algumas marcas indo embora de suas redes sociais.

Não à toa, o exemplo da “vegana” foi citado em duas agências/produtoras especializadas no desenvolvimento e criação de influenciadores digitais. Sim, há um mercado para gestor, agenciador, professor ou coach de instagrammers, youtubers e outros. Trata-se de profissionais que fazem o possível para as micro ou macro celebridades da internet não caírem na tentação do peixe proibido.

A força das plataformas digitais, como YouTube, Instagram, Twitter e Facebook, criou oportunidades e uma nova profissão. Com o sonho de se transformar em novos Whindersson Nunes, Felipe Neto ou Kéfera, marinheiros de primeira postagem (e até usuários mais experimentados) investem um bom dinheiro em direcionamento de carreira. Um curso online para influenciador digital na agência Marketizze sai por R$ 697; na Mega Space o valor médio da consultoria é R$ 2,5 mil (encontros individuais). O objetivo da maioria dos alunos é aumentar seguidores, consolidar a influência junto ao público e fechar contratos.

Os top influencers podem até ganhar mais de R$ 100 mil por postagem (foto no Instagram). Já influenciadores médios e pequenos também têm fechado trabalhos que geralmente vão de R$ 2 mil a R$ 30 (foto ou pacote de fotos por um mês, por exemplo). Quem está no começo acaba aceitando permutas: desconto em academia, peça de roupa ou até itens mais simbólicos, como caixas de bombom.

“Antes, a gente olhava a Xuxa e sabia que ela tinha vida muito diferente da nossa, inatingível. É a diferença básica entre uma celebridade e os influencers de hoje. Um influenciador precisa ser alguém de carne e osso”, afirma a consultora de conteúdo da Mega Space, Daiane Trevisan.

Diverso

O Estado acompanhou algumas horas da consultoria de dois influencers: Marcelle Barkauskas (@cellebarkauskas – aproximadamente 40 mil seguidores) e Rafael Xum (@rafaelxum – cerca de 15 mil seguidores). Marcelle, que investe no Instagram e no YouTube, tem perfil voltado para o mundo fitness, moda e maquiagem. Já Xum é mais ligado a humor e entretenimento. Em comum, o fato de serem clientes de agências para influencers.

“Sou formada em Teatro e Rádio e TV, mas tenho paixão pelo mundo da moda e da beleza. Criei um blog há oito anos, o Totalmente Demais. Hoje, virou um canal do YouTube. Também trabalho forte no Instagram há oito anos”, conta Marcelle. “Para mim é natural, não parece trabalho. É um verdadeiro BBB (Big Brother Brasil). Tenho tesão de compartilhar minha rotina”, completa.

Há dois anos, Marcelle vive do que ganha como influencer. Antes, trabalhava na loja de pijamas da família. Ela diz que não posta nenhuma foto por acaso e que todos os cliques nas redes são pensados. “Sou totalmente verdadeira com o que faço. É isso que funciona. Hoje, felizmente, me procuram. Antes só acontecia trabalho com permuta. Uma vez, troquei um mês de post publicitário por uma pulseira. Também já teve permuta combinada que nunca chegou.”

Já Xum se confessa apaixonado por rede social desde seus primórdios. Ele é ex-gerente de espaço infantil em restaurante e, de vez em quando, ainda faz frilas como aplicador de pesquisas internas. Garante estar totalmente focado na nova profissão. “Acho que filmar minhas próprias coisas funcionou um pouco como válvula de escape.”

Aula

Na Marketizze, os especialistas atuam na leitura de dados e na análise de onde é possível melhorar. “Não é postar foto simplesmente porque se acha bonita, mas pensar na história que conta. Se a foto de comida que você fez tem motivo…”, diz a especialista em Marketing Liliam Leal.

No planejamento de um post no Instagram, é estudada a métrica que vai definir o dia da semana ou o horário. “Se é alguém do mundo fitness, uma foto postada na segunda de manhã funciona melhor – porque o público está procurando motivação para o início da semana. Já se atua mais com o comércio, os melhores dias para vender são quartas e quintas-feiras”, diz Mesquita.

Na Mega Space, que nasceu de uma agência de modelos, o influenciador em começo de carreira passa por mapeamento digital – para identificar perfil e possibilidades no mercado. Nas aulas e consultorias, os “alunos” têm tutoria de uma equipe e aprendem técnicas para produzir conteúdo digital (roteiros, edição de imagens, etc.).

Além disso, a Mega Space aluga espaços para produção de fotos e vídeos e faz prospecção de trabalho, funcionando como agência. “Número de seguidores já não quer dizer tanto. Tem influenciador com 1 milhão de seguidores que não vende, não cativa. Por outro lado, tem pessoas com 10 mil seguidores tão autênticas que vendem quase todo tipo de produto no seu nicho”, diz Daiane. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Gilberto Amendola
Copyright © 2019 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.