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Baixos de viadutos em São Paulo têm lixo, barraco e até casas de alvenaria

25/06/2019

Os viadutos de São Paulo abrigam uma série de ocupações irregulares, sejam de barracos de madeira ou casas de alvenaria. O ponto em comum: o histórico de incêndios. Em outras áreas da cidade, o espaço sob a estrutura vira depósito de entulho, refúgio de usuário de droga ou até academia de boxe – como mostra visita do jornal O Estado de S. Paulo a esses locais. Procurada, a Prefeitura destacou já ter lançado um projeto-piloto para revitalização.

Na sexta-feira, dia 21, um incêndio atingiu uma série de barracos sob a Ponte do Jaguaré, na Marginal do Pinheiros, interditou a estrutura e desalojou os sem-teto. Na ocasião, a gestão Bruno Covas (PSDB) divulgou nota afirmando “monitorar constantemente a situação das ocupações sob viadutos”. Disse haver ainda “sete pontes ocupadas” e 800 famílias nessas condições. O tráfego na ponte foi parcialmente liberado na madrugada desta terça-feira, 25.

Fora dessa lista, cerca de mil pessoas, segundo moradores, vivem em barracos de madeira sob o viaduto por onde passam linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), também na Marginal do Pinheiros. Vizinha, a comunidade está a cerca de 4 quilômetros da Ponte do Jaguaré e também já passou por incêndio.

Segundo os sem-teto, o fogo atingiu o local há seis anos. “Queriam tirar todo mundo daqui, mas só ofereceram auxílio-aluguel (hoje em R$ 400 mensais) e o pessoal não aceitou”, conta a moradora Quele Cristina Santos, de 25 anos. Os barracos, diz, até foram desocupados este mês, para demolição, mas como ainda não vieram abaixo, os moradores estão voltando.

“O viaduto é o meu teto”, diz a autônoma Francis Ramos, de 31 anos, que mora com o ex-marido e três filhos em uma casa de dois andares, toda feita de tijolos e vigas de ferro, sob o Viaduto Tiquatira, na Penha, zona leste. No quarto, nem construiu a parede dos fundos: aproveitou a estrutura do viaduto.

Por lá, as instalações elétricas são irregulares e moradores relatam dois incêndios – um na década de 1990 e outro em 2018. Ainda é possível ver marcas das chamas, na parte de baixo do Tiquatira. “A gente fica apreensivo porque pode acontecer com a gente”, diz a desempregada Maria do Carmo Santos, de 34 anos. “Quando chove, entra água nas casas. Também tem muita poluição e pombos.”

Outras áreas

Já no Viaduto Alcântara Machado, na Mooca, há dezenas de barracos de madeira. “Malocas resistem por moradia, dignidade e autonomia”, diz uma faixa. Sob a estrutura, funciona, ainda, uma academia, com equipamentos ao ar livre.

Sob o Viaduto Pacheco Chaves, zona sul, há casas com mais de 20 anos que agora começam a ganhar estrutura de alvenaria e azulejos. Segundo moradores, o investimento passou a ser feito após um incêndio. “O pessoal começou a colocar bloco para ter menos risco. Não quero sair daqui de jeito nenhum”, diz Mônica Reis, de 34 anos.

A cerca de 2 quilômetros, pilhas de lixo e entulho ocupavam a pista sob o Viaduto Grande São Paulo, que dá acesso à Avenida do Estado. Lá, fissuras na estrutura são visíveis e ainda assim há barracas montadas.

No centro, o Viaduto do Glicério sofreu uma série de incêndios em 2017. Embora a área já tenha sido protegida por grades e tapumes, ainda se veem barracas de lona, montadas diariamente por moradores de rua e por usuários da Cracolândia. “Eles (agentes da Prefeitura) levam tudo, tiram a madeira onde o sujeito está dormindo e deixam ao relento”, diz a moradora Cristiane, de 34 anos.

Procurada, a Prefeitura informou estar “empenhada num grande programa de requalificação dos baixos de viadutos”. O programa-piloto foi publicado no Diário Oficial do dia 8, para “receber propostas para as áreas sob os viadutos Pompeia, Lapa e Antártica, na zona oeste, que servirão de modelo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Tulio Kruse e Felipe Resk
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