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A mulher do Tenente

30/06/2019
A mulher do Tenente

Ele era tenente, alto, forte, atleta, campeão de vôlei e basquete.  Mas gostava mesmo era de outro jogo mais maneiro, um carteado. Aos domingos sempre almoçava em minha casa, assim que chegava entrava na rodada domingueira de pôquer baratinho, que meu pai jogava com alguns vizinhos. 

Eu, no início da adolescência, admirava aquele tenente desenvolto, risonho e franco. Porém, a maior admiração era o que ele tinha de mais bonito, sua mulher. Quando o tenente sentava para jogar, ela dizia não entender como podiam perder uma praia tão bonita como a da Avenida da Paz. E me chamava para acompanhá-la, dar um mergulho. Aos domingos eu ficava em casa de propósito, à espera do jovem casal e desse convite.

Ela me abraçava pelo ombro e descíamos à praia, sentávamos na areia branca e fina embaixo da sombrinha. A Deusa era olhada e desejada por todos os homens de todas as idades. Ficavam contemplando o ritual, a divina tirava devagar a blusa e o short até aparecer seu biquíni cavado sempre em tecidos floridos. Estirava a toalha na areia, pegava um livro e deixava que o Sol e os olhos pecaminosos dos homens, inclusive os meus, tomassem conta daquele corpo perfeito, pernas esguias douradas, dava um irresistível desejo de alisá-las. Ela pedia que a chamasse quando estivesse na hora do almoço para dar o último mergulho e irmos juntos para casa. Na hora do futebol, eu ficava me gabando, fazendo inveja em ter uma amiga carioca. Os companheiros com inveja e os mais velhos queriam saber tudo sobre aquela mulher. Antes do almoço mergulhávamos juntos, ficávamos na brincadeira de dar caldo um no outro, cruzando nossas pernas embaixo d’água ela gostava daquele jogo, de propósito alimentava minhas fantasias.

Havia um grande advogado em Maceió, com fama de competente e mulherengo. Um dia a bela criatura teve que recorrer ao doutor sobre uma herança. O famoso causídico, tremendo canalha, passou a maior cantada em nossa Deusa. Ela discreta, com classe se esquivou, terminou a conversa, foi embora, prometendo nunca mais voltar àquele escritório.

Só porque vestia roupas leves, sensuais, andava de biquíni nas praias e nos clubes, a típica carioca, o Doutor fez um erro de avaliação e continuou no assédio por telefone. Mas a moça era honesta, aguentou quanto pôde o assédio. Até que um dia, acabou a tolerância, contou toda a hist6ria para seu tenente, alto, forte e bonito. 

O marido mandou a esposa marcar um encontro na própria casa dizendo que ele viajaria. No dia, na hora, sem atrasar um minuto o doutor bateu em sua porta. Logo ao entrar, ela constrangida, mandou-o sentar-se. Mas o Doutor estava com a cabeça virada, agarrou-a, tentando tirar-lhe o vestido. 

No momento em que tentava despi-la, apareceu o tenente na sala empunhando uma pistola 45. 

O susto deu um branco literalmente no doutor, ficou da cor de papel, gaguejava tentando explicar. O medo foi enorme, o Doutor cagou-se na calça, e pedia suplicante: “Não me mate, não me mate.” Ajoelhou-se chorando.

O tenente disse-lhe que o mandaria às profundas do inferno, onde jamais cantaria uma mulher honesta. O famoso advogado chorava e gemia, pedia perdão. O tenente deixou prolongar por um tempo o pavor e o choro do conquistador. Certo momento ele pediu a mulher trazer-lhe um copo dos grandes na cozinha. Pegou o copo, desabotoou a braguilha e num jato forte mijou dentro. Levantou o copo cheio de xixi com a mão esquerda e a pistola com a direita, disse alto em bom tom: “Não lhe mato, mas você vai beber o todo esse mijo.” 

O Doutor não teve dúvida pegou o copo, colocou os lábios na borda e tomou aquele liquido amarelo, quente e espumante. Quando terminou, tremia de medo, continuava chorando. Nesse momento o tenente foi ríspido: “Vá embora seu filho de uma puta e nunca mais cruze comigo ou com minha mulher, na próxima vez, sem perdão, meto uma bala nos seus cornos.” 

Eu ouvi essa história contada pelo próprio tenente a meu pai. Sentado perto dos dois, como se estivesse organizando a coleção de selos, prestando atenção à história, emocionado. No domingo seguinte desci à praia mais cedo. Quando a musa apareceu na praia me deu um alô com as mãos perguntando: “Onde está meu cavalheiro? Nem me esperou.”

Aproximou-se abrindo os braços, me abraçou forte. Ao deitar-se na areia, fascinado olhei suas apetitosas pernas, lembrei-me da história. Pensei. “Se o tenente descobre meus desejos, vou terminar comendo cocô.”