Artigos

Uma outra agenda

29/05/2019
Uma outra agenda

O povo brasileiro continua assistindo a contenda de uma agenda diversionista, que ao mesmo tempo em que produz extremos, os unem em torno da mesma pauta, com posições opostas. Entretanto, os verdadeiros anseios da esmagadora maioria da população não fazem parte de tal agenda.

O governo Bolsonaro concentra seus esforços para aprovação da reforma da previdência, as mudanças propostas afetam a vida de quem mais precisa dela, exclui os mais pobres. O alegado déficit, a principal motivação para a reforma, expõe uma grande verdade: a reforma é anseio do sistema financeiro, para aprofundar o aprisionamento do orçamento do governo à lógica do pagamento de juros.

Em outra frente, com discursos e ações institucionais e do ativismo digital nas redes sociais, avança a agenda sobre os costumes da população, sobre as liberdades civis e os direitos das minorias. Esse é o ápice dessa agenda que coloca em lados opostos conservadores e progressistas, o combustível principal para o embate entre a esquerda moderna, liberal, focada nas identidades dos indivíduos, e o conservadorismo mais tosco, fundado em ódios de todo tipo.

A existência dessa agenda, útil para ambos os extremos, não se deu de forma espontânea. Ambos os polos encontram no mercado financeiro sua sustentação. Os think tanks, os fundos de financiamento para grupos, projetos, ongs e pesquisadores não estão interessados em outros temas que fujam dessa lógica.

Evidente que tal agenda se sustenta em temas importantes, capazes de mobilizar pessoas. Mas no final, pouco importa o lado assumido na peleja, o que importa é o confronto, que não se fuja da agenda preestabelecida para que os interesses do mercado sejam preservados, não sejam questionados.

Enquanto se comemora os 100 mil pontos do índice ibovespa, com um mercado financeiro otimista, a projeção de crescimento da economia brasileira é reduzida em 0,5%, o ibope divulga que há cerca de 27 milhões de brasileiros desempregados ou subocupados e que a indústria brasileira continua recuando cada vez mais.

A crise que o país atravessa possui consequências concretas na vida da população, as pessoas estão empobrecendo, vêm sua renda diminuir, se deparam com serviços públicos majoritariamente precários. Mas não estão na agenda que movimenta os ativistas das redes sociais, o governo e a oposição.

É urgente que aqueles que se preocupam com os rumos do país, que anseiam um Brasil desenvolvido, justo socialmente e democrático, estabeleçam uma outra agenda, que inclua os problemas centrais do nosso povo, que reúna nossas energias para construção de um projeto nacional de desenvolvimento que possa unir o país e realizar nossas potencialidades.