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Chavismo reabre fronteira com Brasil e autoridades preveem pico migratório

11/05/2019

Logo após o chavismo reabrir a fronteira com o Brasil, ontem, 600 venezuelanos entraram no País e as autoridades locais esperam um fluxo acima do normal nos três próximos dias – a média diária no ano é de 431 imigrantes. O movimento preocupa os responsáveis por monitorar a sobrecarga nos serviços públicos de Roraima, mas entusiasma comerciantes, que viram as vendas cair até 80% desde o fechamento, 78 dias atrás.

O tráfego regular de pessoas e mercadorias entre os dois países estava bloqueado desde a operação que tentou levar comida e medicamento americanos para o território venezuelano, em fevereiro.

O anúncio da reabertura da fronteira com Brasil e Aruba foi feito pelo vice-presidente de Economia, Tareck El Aissami, na TV. Ele comunicou também que as fronteiras com a Colômbia e as outras Antilhas Holandesas permanecerão fechadas. Segundo Aissami, elas continuarão assim até que cessem as hostilidades em relação ao governo Maduro. Sobre o Brasil, o ministro pareceu sinalizar o desejo de uma reaproximação.

Em Foz do Iguaçu (Paraná), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, havia sido inteligente ao reabrir a fronteira. “Agora parece que a energia elétrica também vai ser restabelecida”, disse Bolsonaro. Roraima é abastecido por energia elétrica venezuelana.

Segundo o prefeito da fronteiriça Pacaraima, Juliano Torquato (PRB), as negociações para reabertura da passagem começaram na véspera, em razão de crianças brasileiras que estudam em escolas de Santa Elena do Uairén, cidade venezuelana mais próxima da fronteira. O vice-cônsul brasileiro na cidade, Ewerton Oliveira, e o prefeito tratativas com generais da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e conseguiram, primeiro, autorização para a passagem diária de cerca de 500 pessoas, entre pais e alunos.

Parte deles tinha casa nos dois países, mas optou por morar no Brasil quando a fronteira foi fechada – a escola, entretanto, ficou do lado venezuelano. Por isso, havia preocupação com desistência dos alunos e excesso de faltas, em razão das condições de trânsito pelas vias clandestinas que passaram a servir como único caminho – uma série de trilhas abertas na mata de savana da região, que no inverno ficam intransitáveis por causa da chuva.

As vendas em Pacaraima, em sua maior parte feitas em espécie, haviam caído cerca de 80% em padarias e no comércio que se concentra em apenas uma rua da cidade. Roraima é o principal fornecedor de comida e itens de consumo diário para a cidade de Santa Elena. Os brasileiros tendem a voltar a adquirir insumos, necessários para a produção agrícola, em Roraima.

Para o prefeito, a reabertura é positiva porque o comércio vindo da Venezuela foi um dos motores do crescimento da cidade: “É muito bom para geração de emprego e renda”.

Sobrecarga

O maior problema será o potencial impacto com a vinda de mais refugiados que elevaram a demanda na rede municipal de ensino. O prefeito calcula que a quantidade de alunos matriculados passou de 2.070 para 2.772 em sala de aula e outros 860 alunos matriculados, mas sem espaço para estudar.

O fechamento da fronteira havia provocado uma queda do fluxo de refugiados que chegam ao Brasil de até mil pessoas por dia para 200 nos dias mais calmos. Na semana passada, no entanto, segundo o Exército, essa média voltou a subir após os protestos opositores no país.

O secretário de Segurança Pública de Roraima, Márcio Amorim, disse que a pasta montou um plano estratégico e as forças policiais estão preparadas para qualquer tipo de tensão. “Os grupos táticos estão a postos, apesar de não ser atribuição do Estado a segurança na fronteira, mas já tínhamos iniciado um trabalho integrado na coordenação de inteligência para que não fôssemos pegos de surpresa.”

O anúncio venezuelano pegou de surpresa o Itamaraty, que primeiro disse desconhecer a medida e logo afirmou que a liberação havia ocorrido às 16 horas. Cerca de 150 mil venezuelanos entraram no Brasil desde o início da migração em 2017. (Colaborou José Maria Tomazela)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Felipe Frazão, Cyneida Correia, especial para o Estado
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