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Soberania sobre Colinas de Golan soa mais fácil

08/04/2019

O Monte Bental é um observatório natural de 1.171 metros de altura que domina a planície síria. Em dia claro, Damasco aparece no horizonte, a 60 quilômetros dali. Durante os piores momentos da guerra civil na Síria, os moradores do Golan circulavam pelas trincheiras e pelo bunker, escavados há meio século, para ver um país se desfazer em tempo real. “Daqui de cima dava para ver as explosões”, conta o brasileiro Natan Gelernter, que vive há mais de 30 anos em Ortal, kibutz perto da fronteira.

Uma investigação do jornal Haaretz revelou em março que o governo de Israel, incluindo o premiê, Binyamin Netanyahu, negociava secretamente com o presidente sírio, Bashar Assad, a devolução das Colinas do Golan em troca de expulsar da Síria os iranianos e o Hizbollah, milícia xiita libanesa.

No livro de memórias Every Day Is Extra, John Kerry, ex-secretário de Estado dos EUA, confirma a existência de uma carta de Assad ao presidente Barack Obama pedindo que os americanos intermediassem a negociação. Segundo o Haaretz, os dois lados chegaram a trocar memorandos, rascunhos e declarações de princípios.

Todos os contatos, no entanto, foram interrompidos em março de 2011, após Assad começar a reprimir os protestos populares contra o regime. A guerra civil parece ter sepultado definitivamente a devolução do território para a Síria.

Israel conquistou quatro territórios na Guerra dos Seis Dias. Dois foram abandonados: o Sinai foi devolvido ao Egito e a Faixa de Gaza está sob o controle do Hamas. Os outros dois ainda estão ocupados. A Cisjordânia é um caso demograficamente perdido e um enrosco diplomático para o governo israelense, mas a legitimidade sobre o Golan é mais fácil de vender.

Apesar de ser mais fértil que outras partes de Israel, a região ainda é a menos povoada do país – são 40 habitantes por quilômetro quadrado -, mesmo após 50 anos de sinal verde para a expansão de assentamentos israelenses. Segundo dados oficiais, 47 mil pessoas vivem no território, mas apenas 20 mil judeus. Se tivesse seguido o mesmo ritmo de crescimento da Cisjordânia, o Golan deveria ter pelo menos 80 mil judeus.

Atualmente, o território pode ser dividido em três: os quatro vilarejos drusos que restaram dos tempos de Síria; Katzrin, única aglomeração urbana do Golan, e os cerca de 30 kibutz pela região.

Em 1967, cerca de 100 mil sírios abandonaram o Golan – 7 mil ficaram. A reportagem esteve em dois vilarejos drusos, Majdal Shams e Buq’ata, e constatou uma profunda divisão geracional. Os mais velhos ainda se sentem sírios. Os jovens, não. No entanto, a maioria da população recusa a cidadania israelense.

Hoje, o Golan vive da agricultura e do turismo. De lá, desce boa parte da água que enche o Mar da Galileia e a bacia do Rio Jordão. Do território saem 40% das frutas produzidas por Israel. São 50 mil toneladas de maçã, uva, kiwi, nectarina, pêssego e cereja – o suficiente para exportar e encher as prateleiras dos supermercados, de Eilat a Nahariya. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Cristiano Dias, enviado especial
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