Variedades

Walcyr Carrasco escreve sobre inclusão em três livros infantis

04/03/2019

Uma menina que enfrenta gordofobia na escola. Uma ararinha de bico torto rejeitada pela família. Uma vira-lata também rejeitada na casa de uma garota rica. As três são personagens de livros de Walcyr Carrasco que voltam às livrarias em novas edições da Moderna e com ilustrações de Ana Matsusaki.

Laís, A Fofinha, A Ararinha de Bico Torto e Pituxa, A Vira-Lata são três livros independentes, mas que falam sobre um grande tema central: como lidar com as diferenças. Para o autor, conhecido por novelas como Verdades Secretas e O Outro Lado do Paraíso, é preciso falar sobre o preconceito. “O bullying nas escolas é um assunto muito debatido e, hoje, não se pode pensar na formação da criança sem combatê-lo de forma orgânica e bem estruturada, afirma o autor ao Estado. “Quando escrevo, minha primeira intenção é sempre criar uma trama cativante, seja no universo infantil ou adulto. Mas esses livros, em especial, aliam a trama à questão do bullying. Cada um deles fala sobre o ser diferente e a inclusão”, ele explica.

Laís, A Fofinha mostra quem sofre bullying – a personagem Laís, que sonha em ser atriz – e quem o pratica – suas colegas de escola, que zombam do seu peso. Para Walcyr, é importante mostrar os dois lados. “A criança que pratica bullying pode questionar seu comportamento, refletir sobre ele. A que sofre pode se identificar com os personagens e superar os efeitos do bullying.”

O autor revela que já esteve dos dois lados. “Eu me identifiquei com os dois lados. Um, por eu mesmo ter sofrido bullying na infância, como tantas crianças”, relata. “E talvez por ter descoberto, por causa da terapia e de questionamentos pessoais, há anos, que eu também exercia bullying com amigos. Praticar bullying por meio do humor corrosivo, por exemplo, é uma forma aceita na sociedade.”

A história de Laís é inspirada em muitas garotas que ele vê no dia a dia, na busca do sonho de ser atriz. E também por sua própria vida, por ele já ter enfrentado problemas com o peso. “Até hoje, os amigos sempre fazem comentários sobre minha barriga. A questão das pessoas com a gordura alheia é complexa. Eu quis valorizar a figura da criança com mais peso.”

Os outros livros também são inspirados em situações que estão ao seu redor. Pituxa nasceu do amor que sente por sua própria cachorrinha e a partir de histórias que ouviu na rua. Já a ararinha Nina surgiu de uma história real. “Quando meu amigo Mário Nunes contou sobre a ararinha de bico torto que ele próprio salvou e alimentou, e que hoje está viva e feliz, eu senti imediatamente que seria uma boa história. “É um processo intuitivo.”

Assim como em algumas de suas novelas, esses livros trazem apenas personagens femininas como protagonistas – uma escolha, ele justifica, inconsciente. Mas Carrasco admite que é importante dar destaque para as mulheres na ficção. “A mulher está conquistando espaços e posições que sempre devia ter tido, mas, finalmente, a sociedade está se abrindo para isso – se bem que ainda falta muito. Há questões graves como o feminicídio, que mancham o País.”

Autor: Pedro Rocha, especial para AE
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