Política

MPF: tentativa de depósito à Argeplan é indicativo que organização continua ativa

21/03/2019

Procuradores da República da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) do Rio defenderam na tarde desta quinta-feira, 21, a prisão preventiva do ex-presidente Michel Temer com base no fato de os crimes seguirem sendo praticados e por causa da possibilidade de obstrução das investigações. Deflagrada nesta quinta, a Operação Descontaminação prendeu também o ex-ministro Moreira Franco e mais seis pessoas.

Segundo a procuradora da República Fabiana Schneider, as investigações conduzidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), envolvendo o ex-assessor de Temer Rodrigo Rocha Loures, confirmaram o envolvimento de Temer com a empresa Argeplan, do coronel João Baptista Lima Filho, reformado na Polícia Militar de São Paulo, apontado como operador financeiro do ex-presidente. A obra feita pela Argeplan na casa de Maristela Temer, filha do ex-presidente, comprovaria o pagamento de propina também.

Para sustentar que os crimes seguiram sendo praticados recentemente, Fabiana informou que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou uma tentativa de depósito de R$ 20 milhões, em espécie, na conta da Argeplan. Conforme o procurador da República Rodrigo Timóteo, a empresa do coronel Lima movimentou R$ 17 milhões de 2010 a 2016. Além disso, a empresa de fachada transferia recursos à outra firma, a PDA Administração.

“Interceptamos que coronel Lima era quem entregava dinheiro do esquema”, afirmou a procuradora Fabiana Schneider, completando que uma conta de telefone de Temer era paga por uma empresa do coronel Lima.

Segundo o procurador da República José Vagos, Temer era o líder da organização criminosa do MDB. Vagos citou a indicação do contra-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva para a presidência da Eletronuclear e a prisão de outros políticos do MDB que seriam do grupo de Temer, como os ex-deputados Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Rodrigo Rocha Loures.

“É inimaginável prender pessoas da organização criminosa e o líder estar solto”, disse Vagos, lembrando que o pedido de prisão se embasa na garantia da ordem pública.

Além da prática continuada e recente de crimes, Vagos citou a destruição de provas como justificativa para a prisão. Segundo o procurador, havia destruição de provas na Argeplan, com o objetivo de impedir as investigações. Por isso, “não existia outra medida possível que não a prisão para debelar organização”, disse Vagos.

“A prisão de Temer é decorrência lógica de crimes que ele praticou a vida toda”, disse o procurador Eduardo el Hage.

Os procuradores citaram ainda a interceptação de e-mails de 2015 para embasar as acusações. Segundo eles, o material produzido pela PGR também foi usado. Vagos citou o caso da J&F, em que Temer foi gravado em conversas com executivos do grupo controlador do frigorífico JBS, como prova de obstrução de Justiça pelo ex-presidente. Outro motivo para manter Temer preso é o fato, segundo os procuradores, de que o grupo adotava parcelamento de propina por vários e vários anos.

Autor: Vinicius Neder e Mateus Fagundes
Copyright © 2019 Estadão Conteúdo. Todos os direitos reservados.