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Desativação do Minhocão divide especialistas e moradores
A proposta da Prefeitura de São Paulo de desativar e transformar em parque o Elevado João Goulart, o Minhocão, divide especialistas e moradores da região. Se por um lado, a proposta atende à parte de cima do viaduto, já usada para o lazer pelos paulistanos nos fins de semana, por outro, ainda há dúvidas sobre as vantagens na área sob o concreto e aos prédios do entorno.
Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Renato Cymbalista, a construção da estrutura, na década de 1970, foi uma “aberração urbanística”. Nos últimos anos, diz ele, decisões “corajosas”, como a extensão do tempo de uso da via para pedestres à noite e nos fins de semana, mudaram o foco dos veículos para as pessoas. O novo projeto também teria essa característica. “A ideia é fazer o parque e depois ver o que acontece com os carros.”
O engenheiro de trânsito Sergio Ejzenberg já prevê problemas. Segundo ele, veículos que circulam no viaduto vão engrossar o congestionamento na região. “O fluxo vai ser deslocado para outras áreas.” Se a estrutura fosse desmontada, diz Ejzenberg, avenidas embaixo poderiam ser remodeladas, com mais faixas para carros e o aumento do uso de bicicletas. Mas, com a manutenção dos pilares de concreto, não sobra espaço para essa possibilidade.
A degradação da área sob o viaduto, úmida e escura e onde se concentram moradores de rua e usuários de drogas, é outra preocupação. “Manter a estrutura vai pressupor um projeto de iluminação cuidadoso”, diz Cymbalista. Para ele, porém, a retirada dos carros abre novos horizontes. “(É possível) estreitar a pista em alguns lugares, para que se aumente a distância entre o parque e os edifícios, fazer buracos”, exemplifica.
Já Francisco Machado, do Movimento Desmonte Minhocão, não vê benefícios para a parte inferior e prevê novos problemas na de cima. “Vamos ter a grave possibilidade de uma cracolândia suspensa”, diz ele, que também teme a falta de manutenção da via. Hoje, o Minhocão tem pontos de infiltração e alagamentos. O grupo defende o desmonte da estrutura sob o argumento de que moradores de prédios vizinhos perderam a privacidade e ganharam dor de cabeça. “Querem colocar milhares de pessoas olhando para dentro dos apartamentos.”
Já quem defende o parque suspenso, porém, entende que ele já ganhou os paulistanos. “A população se apropriou do espaço”, diz Athos Comolatti, fundador da Associação Parque Minhocão. O grupo, diz, não participou do novo projeto, mas aprova a proposta. “Para conseguir o que conseguimos hoje, tivemos de focar na parte de cima. Uma coisa de cada vez.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: Júlia Marques
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