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Pelo corpo, as marcas de um desastre

30/01/2019

Ela foi resgatada com vida dos escombros na área da pousada Nova Estância, perdeu o bebê, o marido, Robson, enterrado no domingo, uma irmã, Pâmela, mas sobreviveu puxada por um socorrista que usou uma corda para o resgate na lama. Paloma Cunha, de 22 anos, disse nesta terça-feira, 29, ao sair do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, que não quer recordar o pavor do dia em que o estouro da barragem em Brumadinho levou parte da vida dela e da família. “Vocês me desculpem, mas prefiro não relembrar porque é muito difícil”, contou, caminhando amparada pelo pai, Lucimar, no fim da tarde. Ela disse que, por enquanto, não quer voltar a Córrego do Feijão, onde vivia.

Apresentando as marcas da tragédia espalhadas pelo corpo, ela e o pai criticaram a mineradora. “Até agora, a Vale não proporcionou nada pra nós”, afirmou Lucimar. “Estamos dependendo de amigos”, contou. Paloma disse que a “perda é muito grande”. Ela lembrou que ainda tem esperança de que seu bebê esteja com vida e lamentou a morte de Robson, já sepultado no domingo. Segundo ela, o marido morreu por “causa de imprudência” da Vale. “Estou indignada”, afirmou. “Eu estava todo o tempo consciente.”

Também internada no mesmo hospital, outra sobrevivente, Talita Cristina, de 15 anos, passou por cirurgia na tarde desta terça-feira. A menina foi resgatada dos escombros da pousada Nova Estância, em Brumadinho, arrasada pela avalanche de lama. Alessandra Pereira, que trabalhava na pousada, também está hospitalizada por ter aspirado o lodo de minério da barragem. A filha dela, Laís Gabriela, de 14 anos, está desaparecida.

“Ainda não sei como está a Talita, que foi operada agora”, contou José Antonio Pereira, marido de Alessandra, que também trabalhava na pousada, mas não estava no local na hora do desastre. “Vou subir agora para saber.” Pereira contou ao jornal O Estado de S. Paulo que a mulher, que tem o rosto muito inchado e está com problemas respiratórios pela inalação de lama, estava com as meninas quando a casa desabou. A filha dele, Lais Gabriela, até hoje não foi encontrada.

O resgate de Alessandra e Talita foi feito por um amigo da família, que arrancou as duas da lama, usando os próprios braços. Abalado, Pereira contou ainda que a pousada foi arrastada pela lama. Alessandra estava na parte da casa que tinha telhado. Talita e Laís Gabriela estavam na parte da construção na qual havia uma laje de concreto, o que, segundo a família, provocou as fraturas na menina.

Até o fim da tarde, Talita ainda se recuperava de cirurgias corretivas na UTI. Alessandra, segundo o marido, poderia ser transferida para outra unidade médica ainda nesta terça-feira. Segundo o Hospital João XXIII, além delas foram internados um homem, de 55 anos, com fratura na perna. Há ainda outro internado, de 59 anos, afetado pela perda de um parente na tragédia.

Resgate

O major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar, informou que quadruplicará o efetivo responsável pelas buscas e pela proteção das áreas afetadas. Já são 250 PMs na região e o total deve chegar a quase mil até hoje, segundo ele.

Equipes de São Paulo, Goiás, Espírito Santo e Santa Catarina também chegam nesta quarta-feira, 30, para ajudar. Serão mais 80 militares e 4 aeronaves, além de cães farejadores. Os grupos de resgate serão distribuídos em 16 regiões diferentes. “Cada pelotão fará a atividade de varredura da área, ampliando o serviço, fazendo a abordagem e manutenção da ordem para que ninguém acesse as ‘área quentes’ (locais de buscas)”, disse o major. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Pablo Pereira, enviado especial
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