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‘A UE está pronta para negociar com o novo presidente brasileiro’

16/11/2018

A mudança de governo a partir de janeiro, com o início da presidência de Jair Bolsonaro (PSL), não deve interferir nas relações de comércio com a União Europeia, na avaliação de Guilherme Athia, sócio da agência de assuntos públicos, governamentais e privados Atlântico.

Ele avalia que o interesse dos europeus pelo comércio com o Brasil deve crescer nos próximos anos, aumentando oportunidades sobretudo para empresas de serviços e tecnologia. Athia, que já foi executivo da Nike em Bruxelas, sede do bloco europeu, se especializou em negócios com a União Europeia e é mestre em relações internacionais pela Fletcher School of Law and Diplomacy, dos Estados Unidos. A seguir, trechos da entrevista.

Como o sr. avalia os primeiros dias de transição da equipe do novo governo do ponto de vista do comércio exterior?

No princípio houve muito ruído, mas acho que desde a eleição já vimos sinalizações positivas por parte dos investidores e exportadores. Uma notícia boa foi a confirmação da manutenção dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente como estruturas separadas. Era a melhor escolha do ponto de vista dos exportadores brasileiros, que temiam perder certificações e mercado.

Mesmo com as idas e vindas, o acordo entre Mercosul e União Europeia deve ser concluído?

Vejo que a possibilidade de conclusão do acordo, que vem sendo negociado há anos, é grande e decorre de vários fatores, entre eles uma onda de renovação que traz também um sentido de urgência para que todo o trabalho já feito não se perca. Em maio, o Parlamento Europeu será renovado. A Argentina vai ter eleição no ano que vem. A Europa está disposta a fechar acordos agora, mas há muito trabalho a ser feito.

O que os europeus esperam do comércio bilateral com o Brasil?

O que se espera é uma relação pragmática, baseada em um histórico de bom relacionamento. A UE é uma grande parceira da América Latina, do Mercosul. O Brasil exporta muitos alimentos, bebidas, proteína animal para a Europa. De lá para cá vêm maquinário, equipamentos, produtos químicos e farmacêuticos. A União Europeia permanece sendo o maior investidor histórico no Brasil. E é um fato, embora menos conhecido, que o Mercosul investe na Europa. O interesse é mútuo e a relação é complementar. Em resumo, há laços comerciais fortes e muitos campos a serem explorados. Tudo isso é uma força muito mais considerável do que possíveis arestas políticas e declarações podem indicar.

A identificação do novo governo com os Estados Unidos não pode deixar os demais parceiros comerciais em segundo plano?

A relação entre o Brasil e a União Europeia é muito ampla e deve permanecer assim em vários sentidos no próximo governo. O bloco europeu é diversificado e inclusivo, e seus países membros têm visões políticas distintas. Ainda que os parceiros comerciais da Europa tenham dirigentes ideológicos com visões diferentes da maior parte dos países europeus, o bloco, com todos os seus 28 membros, está acostumado a lidar com diferentes visões políticas. Eles negociam tanto com o Canadá quanto com o Vietnã, países com orientações completamente diferentes. O Brasil e o Mercosul não devem ter dificuldade. A Europa está pronta para negociar com o novo presidente brasileiro. E os acordos comerciais que estão sendo discutidos hoje pelos europeus buscam ampliar as relações na chamada nova economia, que envolve tecnologia e serviços.

O perfil dos acordos comerciais entre blocos e países também está em transformação?

Sim, os países têm novos desafios. Os novos acordos que estão sendo assinados vão precisar contemplar trocas em serviços, comércio eletrônico, padrões sanitários e fitossanitários e a troca de conhecimento e tecnologia entre pequenas e médias empresas. O Brasil tem interesse grande pelo mercado europeu e há várias formas de investimentos comuns, parcerias estratégicas e desenvolvimento de cadeias de suprimentos a serem explorados. O acordo comercial entre Brasil e Chile, concluído recentemente, é um bom exemplo das novas possibilidades de trocas internacionais, que vão muito além de questões tarifárias. Hoje, podemos imaginar duas startups dos dois lados trocando experiências, tecnologia e pessoal para se desenvolverem.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Douglas Gavras
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