Variedades

A nova geração de comédias românticas

19/11/2018

A fórmula é a mesma em todos eles. Ambiente escolar americano, valentões assustando os mais fracos, líderes de torcida vingativas e, no centro de tudo, uma pessoa fora dos padrões tentando se encaixar e, talvez, engatar uma paixão. Os filmes adolescentes, que já tiveram seu grande momento com os adorados Meninas Malvadas, Sexta-Feira Muito Louca e As Patricinhas de Beverly Hills, voltam numa versão mais atual pelas mãos da Netflix, gigante do setor de streaming que tem produzido longas juvenis que estão se tornando fenômenos na web.

A caminhada em direção ao pote de ouro começou com A Barraca do Beijo, filme adaptado de um livro publicado na plataforma Wattpad por Beth Reekles, garota de 16 anos. Com Joey King como a protagonista, o longa mostra o relacionamento entre a garota e o irmão mais velho de seu melhor amigo. História simples, sem firulas ou efeitos especiais, e que tem conquistado um grande séquito de fãs. Apenas no canal oficial da Netflix no YouTube, por exemplo, o trailer do longa-metragem conta com 15,5 milhões de visualizações – o da série Riverdale, outro sucesso do público adolescente, foi assistido “apenas” 300 mil vezes.

Depois disso, a plataforma de streaming conseguiu emplacar, só em 2018, outros sucessos do subgênero, como Sierra Burgess é uma Loser e Para Todos os Garotos que Já Amei. São produções parecidas, mas que conseguem trazer algumas emoções à tona para o público que tenta conquistar, como o sentimento de nostalgia com esse tipo de história e, é claro, uma forte sensação de identificação com as protagonistas, que deixam de ser atrizes com o “padrão” de Hollywood para assumir um tom mais natural e próximo da realidade da escola.

Vale destacar, também, que o público adolescente, nos últimos anos, viu uma enxurrada de distopias e tramas de superação atingirem o gênero, diminuindo as produções mais leves e ingênuas com o padrão Sessão da Tarde. “A Netflix está sempre atrás de gêneros de filmes e de séries de TV que tenham uma grande audiência mas que, por algum motivo, estejam com a demanda suprimida”, disse o responsável por conteúdos originais da empresa, Ian Bricke, ao jornal O Estado de S. Paulo. “Há um ano, quando demos sinal positivo para esse tipo de filme, nós acreditávamos que as pessoas ainda queriam histórias de romance, mas Hollywood não estava antenada com esse desejo. É emocionante encontrar o público assim apaixonado.”

Os principais filmes lançados pela Netflix no gênero também caminham na direção de uma maior representatividade de seus personagens. Ainda que continue com os estereótipos do valentão, do nerd e da patricinha, por exemplo, as protagonistas contam com camadas que a humanizam mais do que a Cady, de Meninas Malvadas, ou Mia, de O Diário da Princesa. Lara Jean, de Para Todos os Garotos Que Já Amei é uma adolescente normal que não passa por transformações radicais de visual e nem ao menos serve como forma de redenção de algum menino pelo qual está apaixonada. É uma menina como qualquer outra no mundo.

Há, também, preocupação com saúde mental, um maior respeito à diversidade sexual, um forte empoderamento feminino dentre as protagonistas e uma clara aceitação do seu corpo.

“São romances colegiais contemporâneos, mas que falam com públicos diferentes, de todas as partes do mundo. Há referências ao clássico Clube dos Cinco, de John Hughes, que criam um vínculo com audiências mais velhas”, explica Bricke. “No entanto, deve-se perceber como esses filmes continuam a falar de romances de verão, mas de um jeito bem diferente de antes. Há histórias sobre jovens mulheres buscando independência, amizade de meninos e meninas. Parece uma comédia romântica clássica, mas mais sintonizada com o momento atual.”

Futuro

Com esse sucesso em mãos, a Netflix já começa a espiar o futuro e a preparar o terreno para que os filmes adolescentes continuem a render bons frutos. Uma das coisas a se fazer é administrar as marcas criadas, permitindo que as histórias continuem a causar influência na vida dos fãs – como Meninas Malvadas que, mesmo 14 anos depois do seu lançamento, continua fazendo com que pessoas se vistam de rosa às quartas. “Nós vemos os atores dessas produções realmente empolgados, com vontade de continuar a falar sobre o filme”, contextualiza Ian. “Isso já nos deixa animado com a continuidade das histórias.”

Novos filmes no gênero e continuações também estão previstas – A Barraca do Beijo deve ganhar sequência após extensa campanha de fãs. A sequência de Para Todos os Garotos que Já Amei, filme que foi assistido cerca de 80 milhões de vezes de acordo com o relatório trimestral da Netflix e se tornou a comédia romântica de maior sucesso do serviço, também já está ganhando contornos concretos. “As pessoas se apaixonam pelos personagens, pela história contada, pelo ambiente criado”, diz Ian ao Estado. “É natural que continuemos a contar essas histórias sem atrapalhar o filme original. Não queremos estragar a paixão dos fãs.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Matheus Mans, especial para AE
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