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Universidades de olho nos rankings

03/09/2018

De olho nos rankings internacionais, as universidades estaduais paulistas criam “núcleos de inteligência” para monitorar a própria performance acadêmica. São escritórios ou comissões que fazem a ponte com as agências responsáveis pelas principais avaliações e dão dicas práticas a pesquisadores sobre como melhorar a visibilidade das publicações científicas. Juntas, as universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp) participam também de um projeto para criar as próprias medidas de desempenho.

Ligados a publicações ou consultorias estrangeiras, os principais rankings foram criados na década passada. Só recentemente começaram a ganhar atenção no País, depois que a USP apareceu pela primeira vez, há oito anos, em um deles.

Hoje, as três estaduais têm boas posições ante as demais da América Latina, mas ainda estão bem longe do topo, ocupado pelas elites britânica (como Oxford) e americana (Stanford, por exemplo), e perdem para colegas emergentes (como a Universidade de Pequim).

A persistência da crise econômica já tem afetado o ensino superior do País, como alertou a revista Times Higher Education, que faz um dos principais rankings. USP e Unicamp caíram em edições recentes.

Em junho, a USP criou o Escritório de Gestão de Indicadores de Desempenho Acadêmico, que “assumiu o papel de interlocutor institucional da USP com todos os rankings acadêmicos internacionais aos quais a universidade se encontra afiliada”, segundo o professor Aluisio Segurado, coordenador do órgão. O escritório, diz, não está voltado para melhorar o ranqueamento da USP. “(A meta) é prover os sistemas de avaliação de informações acuradas relativas às suas atividades.”

Na Unesp, uma comissão de rankings, criada no ano passado, já estabelece rotinas de coleta de dados. São dadas até dicas práticas a professores e pesquisadores sobre como usar melhor as palavras-chave nas publicações científicas e identificar em inglês a universidade para facilitar a localização dos dados sobre pesquisas acadêmicas.

Na Unicamp, o monitoramento é feito pela Pró-Reitoria de Desenvolvimento Universitário. Segundo a pró-reitora Marisa Beppu, o órgão acompanha os principais rankings internacionais, como o britânico Quacquarelli Symonds (QS) e o chinês Academic Ranking of World Universities.

Impacto social

Em outros países, há modelos semelhantes de núcleos de inteligência. “A Universidade da Califórnia (instituição dos EUA que agrupa várias universidades semiautônomas) tem um exemplo de unidade de inteligência que catalisa todos esses dados”, explica o ex-reitor da USP Jacques Marcovitch.

Ele coordena um projeto de pesquisa que reúne USP, Unesp e Unicamp em debates sobre indicadores de desempenho. O projeto, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), termina em 2019. A ideia é que as três tenham seus “núcleos de inteligência” estruturados, com coleta e publicação de dados em tempo real. “O que se espera é desenvolver competências humanas e tecnológicas para lidar com o desafio das métricas, que é dinâmico”, diz Marcovitch.

Há previsão de que as universidades desenhem os próprios indicadores – que podem ser comparáveis – com aspectos que os rankings não mostram. “Um indicador interessante é o impacto dos câmpus nas cidades”, diz José Goldemberg, presidente da Fapesp.

Prédio será polo de inovação

Ser um polo de pesquisa inovadora dentro da universidade – com o olhar para fora. Essa é a proposta do Centro de Pesquisa e Inovação (Inova USP), prédio na Cidade Universitária, zona oeste, que abrigará núcleos de pesquisa em saúde, biologia e tecnologia até o fim do ano.

Segundo o coordenador do Inova USP, o professor Luiz Henrique Catalani, a inspiração veio de fora. ” Nos baseamos em iniciativas similares pelo mundo, em que se criam espaços multiusuários, integrados e com aproximação com diversos atores da sociedade.”

Uma das iniciativas que funcionará no Inova USP é a Scientific Plataform Pasteur – USP, parceria da universidade com o Instituto Pasteur, da França. Coordenador dessa plataforma, o diretor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), Luís Carlos Ferreira, diz que parte dos estudos será dedicada a contribuir com a prevenção de epidemias, como a de zika.

O biólogo Helder Nakaya, que cuidará da parte de bioinformática, está animado. “Vamos usar técnicas de informática para processar e analisar genes.”

Interdisciplinar. O trabalho de Nakaya terá conexão com outro laboratório do Inova USP, o Centro de Biologia Sintética e Sistemas, que busca soluções em biomassa. O prédio terá ainda um grupo destinado a pensar na interdisciplinaridade para a construção de soluções inovadoras. “A ideia é que ninguém trabalhe isolado. Nossa proposta é não ter muitas paredes”, diz Catalani. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Júlia Marques
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