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‘Bons são bem-vindos. Maus têm de ir embora’

22/08/2018

Era um dia comum. Ao fim do expediente de sexta-feira, às 18h40, o comerciante Raimundo Nonato de Oliveira, de 55 anos, trancou às chaves o seu mercadinho, no centro, e seguiu para casa, sem imaginar que estava prestes a se tornar o símbolo da crise de convivência entre brasileiros e venezuelanos em Pacaraima. Pelas costas, bandidos o atacaram provavelmente a pauladas, amarraram suas mãos, o torturaram com uma chave de fenda e lhe roubaram R$ 23 mil e U$ 500. Era a gota dágua.

Os criminosos, pelo que Oliveira pôde ver, tinham o rosto coberto por meias. Para a cidade, importante mesmo foi o que pôde ouvir. “Eram venezuelanos falando, eu tenho certeza. Já morei na Venezuela, sei reconhecer o idioma”, disse ao Estado. “Quem fez isso comigo é um monstro.”

Oliveira foi conduzido para um aposento de casa, onde ficou com dois assaltantes, segundo relata. A mulher dele também estava na casa e teve as mãos e os pés amarrados, mas não foi agredida. “Eles foram muito cruéis. Com uma chave de fenda eles feriram aqui e aqui (mostra, apontando para o olho direito, roxo). Por sorte não fiquei cego. Uma hora, disse para me matarem, perguntei se não tinham família. Não responderam. Pegaram minha carteira, jogaram os documentos no chão e saíram.”

Oliveira foi socorrido a um hospital da região, mas diz que houve demora na transferência porque a ambulância que estaria à disposição não prestou o serviço naquele dia. “Se fosse para um venezuelano teria ambulância, mas para um brasileiro não?” Ele, porém, diz não concordar com a criminalização generalizada de refugiados. Nascido no Maranhão, ele mesmo é um imigrante e mora em Pacaraima desde 2001. “Jamais vou dizer que expulsem todos os venezuelanos. Os bons são bem-vindos. Os maus têm de ir embora.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Felipe Resk, enviado especial
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