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Bairros vizinhos são opostos da Segurança em SP

29/07/2018

Bairros vizinhos e realidades opostas. No centro-leste da cidade de São Paulo, quatro áreas coladas umas às outras ocupam as piores e as melhores posições em um ranking de violência. Enquanto no Pari e no Brás crimes violentos são notados com maior frequência, o Parque da Mooca e o Cambuci estão vendo os índices caírem, reforçando a discrepância com a vizinhança.

A explicação está ligada às características dos bairros. Nos dois primeiros, o comércio intenso é a marca, enquanto no Parque da Mooca e no Cambuci o perfil residencial predomina. Além disso, há diferentes estratégias de policiamento. Na Mooca, a filosofia de polícia comunitária guia o atendimento dos agentes com o público, com a sala do delegado de porta aberta para atender a população.

Os dados que comprovam essas distinções vêm do Índice de Exposição a Crimes Violentos, composto por uma média ponderada de registros de homicídios e latrocínios (IECV Vida), estupros (IECV Dignidade Sexual) e roubos, roubos de veículo e de carga (IECV Patrimônio), elaborado pelo Instituto Sou da Paz e divulgado em parceria com o Estado.

O primeiro lugar desse ranking na capital – atualizado com dados do primeiro trimestre de 2018 – é do 12.º DP (Pari), seguido pelo 8.º DP (Brás).

Entre os melhores, o líder é o 57.º DP (Parque da Mooca), seguido pelo 6.º DP (Cambuci). No geral, o índice da cidade teve queda de 6,9%, assim como o do Estado (-1,9%), mostrando que São Paulo tem conseguido reduzir a violência. A diminuição, porém, não está ocorrendo de modo uniforme.

Um mapa com índices de cada distrito permite observar que na região central fica a maioria das delegacias mais seguras. Na periferia, predominam as áreas mais violentas.

No hall de entrada do DP do Pari, que serve de sala de espera para registro de ocorrências, há um quadro na parede com um mapa da área de circunscrição do distrito. Nele, adesivos de diferentes cores marcam onde ocorreram variados crimes.

Além da concentração nas imediações da Marginal do Tietê, na Avenida do Estado e na Avenida Rangel Pestana, é em uma área onde há mais adesivos: as ruas de maior comércio do Brás. Os crimes contra o patrimônio são os que mais exigem o trabalho da polícia na região.

Já no 57.º DP, considerado o mais seguro e com perfil mais residencial, o sucesso é visto como consequência da integração dos policiais com a população do bairro. “A primeira coisa que faço quando há mudança nas polícias é promover um almoço da PM com o delegado da Civil. O grande entendimento que temos hoje tem dado esse resultado maravilhoso”, celebra o presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Alto da Mooca, o administrador de empresas Walter Augusto Marques, de 79 anos.

Retrato

Dos 86 distritos com dados monitorados, 24 tiveram piora no índice de 2015 a 2018, sendo o maior aumento proporcional notado no 78.º DP (Jardins), o 8.º lugar na cidade.

Na opinião do professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rafael Alcadipani, fatores socioeconômicos e a estrutura do policiamento explicam a discrepância dentro da capital. “A diferença parte de acessos distintos à educação e à renda por parte da população que vive em cada área. São fatores com impacto na quantidade de crimes, sobretudo contra a vida”, diz.

Gerente de Gestão do Conhecimento do Instituto Sou da Paz, Stephanie Morin chama a atenção para a necessidade de se identificar e disseminar boas práticas. “Não adianta implementar medidas, planos bem desenhados, se não disseminar para outros locais e dar continuidade no investimento. Programas são constantemente descontinuados por falta dessa visão.”

Ações de policiamento

A Secretaria da Segurança Pública disse que as polícias desenvolvem ações específicas de combate e prevenção da criminalidade, com base em análise aprofundada “que leva em consideração tanto volume quanto tipo de população circulante, crimes, quantidade de ocorrências e modus operandi dos criminosos”.

Segundo a pasta, essas ações levaram à redução de indicadores como homicídio, roubos em geral e roubos de veículo no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, tanto no 12º DP como no 8º DP.

A pasta ressaltou ainda que a comparação entre distritos policiais da capital paulista realizada pelo estudo não considera devidamente as características de cada área. “Circulação comercial/empresarial de uma região que eleva a população flutuante da área, como o 12º DP, o que, consequentemente, eleva os índices criminais a patamares superiores se comparados a bairros tradicionalmente residenciais, como a região do 57º DP (Parque da Mooca), por exemplo”, destacou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Autor: Marco Antônio Carvalho
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